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O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, anunciou que a partir deste sábado (13 de março) a capital paranaense entrará na bandeira vermelha no enfrentamento contra a pandemia do novo coronavírus. Na prática, isso significa que a cidade, pela primeira vez desde o início da crise sanitária, terá de enfrentar um lockdown.

O anúncio foi feito por meio de um vídeo, encaminhado na noite desta sexta-feira (12 de março) pela equipe de comunicação aos jornais da capital paranaense. Segundo Greca, o decreto é válido a partir da meia-noite deste sábado.

“A partir da meia-noite eu estou decretando lockdown na cidade de Curitiba por nove dias. Desse sábado que vai nascer até a outra semana, no domingo. É um esforço imenso para evitar a transmissão. Pela primeira vez teremos lockdown, nunca havíamos tido”, declarou o prefeito curitibano, argumentando ainda que a tomada de uma medida mais drástica atende apelo do Conselho Regional de Medicina (CRM-PR), do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) e de órgãos do Poder Judiciário, como o Ministério Público da Saúde, o Ministério Público do Paraná e o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), além de um apelo da própria secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak.

O que muda

“Ainda amanhã (sábado) os supermercados estarão abertos e durante todos os dias da semana que vem os supermercados estarão abertos. Os postos de gasolina também, as farmácias também, os serviços essenciais de limpeza pública da cidade também. Mas as obras públicas não vão funcionar e vamos proibir o funcionamentos da indústria, do comércio e dos serviços dessa cidade que nos é tão cara.”

Prosseguem em funcionamento apenas atividades essenciais como supermercados, padarias e postos de gasolina (veja abaixo), com horários restritos e cumprimento do Protocolo de Responsabilidade Sanitária e Social. 

Confira a lista do que poderá abrir e do que ficará fechado com o lockdown em Curitiba

A comercialização nessas atividades se limita a produtos de alimentação, bebidas, higiene e limpeza. Nenhum estabelecimento com autorização para funcionar poderá ter ocupação acima da metade de sua capacidade. Os estabelecimentos também devem adequar o expediente dos funcionários aos horários de funcionamento estabelecidos.

Sob bandeira vermelha no nível de alerta, estão vetadas atividades nos parques da cidade, bem como as aulas presenciais na rede privada de ensino (as aulas presenciais na rede municipal estão suspensas até o início de abril). O transporte passa a funcionar com lotação máxima de 50%. 

Novos respiradores e vagas em UPA esgotaram em pouco tempo

Ao justificar a medida mais dura, o prefeito Rafael Greca citou a nova variante do coronavírus, a P1, descoberta no Amazonas. “O Brasil adoeceu, adoeceu de uma nova cepa feroz de transmissão, rápida no contágio, eficaz em matar e, o que é muito triste, inclusive em matar os mais jovens”, disse.

Segundo o político, o fechamento tem o objetivo de não permitir que pessoas morram sem assistência médica. Nesse momento, inclusive, ele traz relatos estarrecedores sobre episódios dos últimos dias.

Hoje, por exemplo, a prefeitura teria adquirido 50 novos respiradores. “Nós compramos e pensávamos que iriam durar até 15 dias [até todos serem utilizados] e se esgotaram num único dia.”

Além disso, Greca também citou que os 240 leitos abertos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para atender pacientes com Covid-19 já estão totalmente cheios. “Pensávamos que iriam ficar vazios por um bom tempo”.

‘Só vai passar se todo mundo ajudar’

Já no final de sua fala, Rafael Greca fez um apelo à população Curitiba. Segundo ele, o lockdown não é para gerar desânimo, mas para provocar esperança.

“Vai passar, nós vamos vencer. Nós temos vacina. Não tantas quanto merecemos ou tantas quanto desejamos. Nós temos uma lei que nos permite comprar vacinas e estamos trabalhando arduamente para consegui-las. Queremos agir complementarmente com o governo federal, com o governo estadual, mas sobremaneira com cada um de vocês, porque, Margarita, só vai passar se todo mundo ajudar. Só vai passar se todo mundo ajudar. Só vai passar… Vou até tirar a minha máscara para vocês verem o meu rosto, o meu rosto sem medo, com uma vontade imensa de não estar falando o que eu estou falando. Porque só vai passar se todo mundo ajudar”, declarou o prefeito, reforçando que “o negacionismo, a ignorância, o fingir que está tudo bem não vai ajudar ninguém”.

Por fim, o político ainda fez um pedido ao divino e voltou a citar a importância de a população respeitas as medidas sanitárias. “Deus proteja Curitiba, para que a misericórdia de termos de escolher quem vai viver e quem vai morrer não tenha de ser exercida no nosso sistema de saúde. Por Deus, nos ajude. Por Deus, nos ajude.”

Confira a íntegra do pronunciamento

Margarita e eu estamos aqui para dar um recado que não gostaríamos.

Nossa cidade tem 1.031 leitos de Covid/SUS, 566 leitos clínicos e 465 UTIs. Nos últimos 15 dias, com a nova escalada do coronavírus, abrimos 154 leitos de UTI e 240 leitos clínicos nas UPAs. As nossas equipes de saúde estão exauridas. Esses números são só do SUS curitibanos municipal, mas há tantos outros leitos de UTIs do sistema privado.

O que eu não gostaria de dizer, mas vim aqui cumprir o meu dever, é que o Brasil adoeceu, adoeceu de uma nova cepa feroz de transmissão, rápida no contágio, eficaz em matar e, o que é muito triste, inclusive em matar os mais jovens.

Quero estar aqui não para consultar os meus medos, mas sim para lhes dizer da minha esperança e do meu sonho.

Eu quero ver Curitiba curada.

Nós não podemos pensar onde podemos cair ou errar, mas nós podemos pensar em tudo o que ainda podemos fazer para que ninguém morra sem assistência, para que os 50 respiradores que hoje nós compramos e que pensávamos que iriam durar até 15 dias e se esgotaram num único dia, pra que os 240 leitos das UPAs transformadas em hospital de campanha, pensávamos que iriam ficar vazios por um bom tempo, já estão totalmente cheios.

Então nós temos de tomar uma atitude mais drástica. Eu atendo o apelo do Conselho Regional de Medicina, do Coren, o Conselho Regional de Enfermagem, do Ministério Público da Saúde, do Ministério Público do Paraná, do Poder Judiciário, inclusive do Tribunal de Contas do Paraná. Eu atendo o apelo da minha secretaria de Saúde, Márcia Huçulak, para dizer que hoje, a partir da meia-noite, eu estou decretando lockdown na cidade de Curitiba por nove dias. Desse sábado que vai nascer até a outra semana, no domingo. É um esforço imenso par aevitar a transmissão. Pela primeira vez teremos lockdown, nunca havíamos tido.

Eu acompanhei o governador no auge do pico, fizemos restrição severa, mas agora vamos fazer lockdown.

Ainda amanhã os supermercados estarão abertos e durante todos os dias da semana que vem os supermercados estarão abertos. Os postos de gasolina também, as farmácias também, os serviços essenciais de limpeza pública da cidade também. Mas as obras públicas não vão funcionar e vamos proibir o funcionamentos da indústria, do comércio e dos serviços dessa cidade que nos é tão cara.

É um esforço imenso, que não é para gerar desânimo, mas é para provocar esperança. Vai passar, nós vamos vencer. Nós temos vacina. Não tantas quanto merecemos e tantas quantos desejamos. Nós temos uma lei que nos permite comprar vacinas e estamos trabalhando arduamente para consegui-las. Queremos agir complementarmente com o governo federal, com o governo etadual, mas sobremaneira com cada um de vocês, porque, Margarita, só vai passar se todo mundo ajudar. Só vai passar se todo mundo ajudar. Só vai passar… Vou até tirar a minha máscara para vocês verem o meu rosto, o meu rosto sem medo, com uma vontade imensa de não estar falando o que eu estou falando. Porque só vai passar se todo mundo ajudar.

O negacionismo, a ignorância, o fingir que está tudo bem não vai ajudar ninguém. Nós precisamos ficar em casa e só sair se for absolutamente necessário.

Deus proteja Curitiba, para que a misericórdia de termos de escolher quem vai viver e quem vai morrer não tenha de ser exercida no nosso sistema de saúde. Por Deus, nos ajude. Por Deus, nos ajude.