Lucilla Guimarães/SMCS – Desafio 100 mil Árvores

Cidade, que tem fama de preservar o meio ambiente, integra compromisso global e não está medindo esforços

Não é de hoje que cientistas alertam que o clima está enlouquecendo por causa da emissão de gás carbônico na atmosfera. Mas muitas autoridades preferem se fazer de surdas sobre esse problema. Não é o caso de Curitiba. A cidade sempre teve fama de preservar o meio ambiente e assumiu a responsabilidade de reduzir emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. E não está medindo esforços para isso.
Curitiba está entre as mais de mil cidades do mundo – são 1.049 ao todo – que confirmou um compromisso mais arrojado em relação às emissões de carbono na atmosfera. O acordo faz parte da campanha Race to Zero (corrida para o zero, em tradução livre) que teve seu balanço divulgado na COP26 – a 26ª Conferência das Nações Unidas para o Clima, em Glasgow (Escócia), pela C40, formada por grandes cidades empenhadas em debater e combater as mudanças climáticas.

Segundo estimativas, ações coletivas têm potencial de reduzir as emissões em 1,4 bilhão de toneladas de carbono até 2030. O acordo prevê que a redução das emissões deva chegar à metade nos próximos nove anos e à neutralidade em 2050. A principal meta do planeta, que consta no Acordo de Paris, é conter o aumento da temperatura média global no limite dos 2°C, com esforços para que o aquecimento fique no máximo em torno de 1,5°C.

Dentro dessa meta, Curitiba lançou, no fim de 2020, o Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas de Curitiba (PlanClima), que está alinhado ao Acordo de Paris e consolida o compromisso da cidade com o enfrentamento às mudanças climáticas. O objetivo é tornar a cidade neutra em carbono. Em sua elaboração, o material teve apoio da C40.

O plano de Curitiba tem ações tanto de melhorias ambientais quanto de uso de energia limpa, além de redução de emissão de gases e de uso racional de água. Entre as melhorias ambientais estão os projetos Amigo dos Rios e Cem Mil Árvores, que consistem na despoluição e cuidado com os rios e na recomposição da vegetação – nesse caso, com o plantio de 100 mil árvores por ano.

Há também o programa Curitiba Mais Energia, que busca incentivar o uso da energia limpa na cidade. Houve a instalação de painéis fotovoltaicos na sede da Prefeitura de Curitiba e há projetos para instalação da Pirâmide Solar do Caximba, além de painéis em terminais de ônibus e na rodoferroviária. Os projetos foram selecionados pelo C40 Cities Finance Facility (CFF).

Outro projeto é relativo à mobilidade urbana. Curitiba planeja melhorar a infraestrutura de calçadas e de ciclovias. Além disso, será implantado o uso de ônibus elétrico na linha Inter 2 e no BRT Leste-Oeste. Assim, os veículos não usarão mais combustíveis fósseis, um dos principais agentes de emissão de gás carbônico na atmosfera.
Também está em andamento a Reserva Hídrica do Futuro, um projeto que busca ampliar a capacidade das reservas de água para o consumo da população. Em algumas comunidades que sofrem com os problemas do abastecimento foram instaladas caixas d´água, poços artesianos abertos pelo município. O projeto prevê ainda a reservação hídrica nas áreas das cavas do Rio Iguaçu.

Qual o papel do carbono no aquecimento global?
A década encerrada em 2019 registrou um calor global excepcional. As concentrações de dióxido de carbono na atmosfera atingiram um nível recorde de 407,8 partes por milhão em 2018 e continuaram a subir em 2019, segundo a World Meteorological Organization (WMO). O CO2 é o principal responsável pelo aquecimento global que provoca mudanças climáticas.

Os padrões de urbanização e o estilo de vida urbano aparecem como elementos centrais do aquecimento global, pela relação direta com as emissões de gás carbônico. Ondas de frio e de calor, mudanças no regime de chuvas e eventos climáticos como ventanias e granizo muitas vezes são fruto de mudanças climáticas. E podem trazer consequências como alagamentos, enchentes, deslizamentos de terra, períodos de estiagem e quedas de árvores.
Segundo o Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas de Curitiba (PlanClima), em Curitiba não é diferente. A temperatura da cidade já está, em média, 1,2ºC mais alta que seis décadas atrás. Em 2020, a cidade passou por um dos períodos de estiagem mais severo da história. Neste ano, foram comuns as ocorrências de temporais fortes.

Para especialistas, o caminho mais indicado é a redução do uso dos combustíveis fósseis e a drástica diminuição do desmatamento. Sanar os problemas resultantes do aquecimento global passa por reduzir a emissão de gases do efeito estufa – que, no caso de Curitiba, está prevista no PlanClima.

Segundo cientistas, paralelamente ao esforço dos governos, a população também pode colaborar. Pode ser através da alimentação, dando preferência por alimentos orgânicos. Pode ser optando por meios de transporte coletivo, escolhendo veículos que emitem menos CO2 ou indo de bicicleta ou a pé até o destino.

Responsabilidade com o clima

As ações de destaque Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas de Curitiba (PlanClima).

Amigo dos Rios e 100 Mil Árvores

Programas que promovem melhorias ambientais com a participação da comunidade e consistem na limpeza dos corpos hídricos e na recomposição da vegetação nativa.

Curitiba Mais Energia

O programa busca incentivar o uso da energia limpa na cidade. Já foi responsável pela implantação de painéis fotovoltaicos na sede da Prefeitura e pelos projetos para instalação da Pirâmide Solar do Caximba no aterro sanitário desativado, em terminais de ônibus e na rodoferroviária. O Curitiba Mais Energia ainda conta ainda com painéis no Salão de Atos do Parque Barigui, na Galeria das Quatro Estações do Jardim Botânico e com a CGH Nicolau Kluppel, que gera energia na queda d’água do Parque Barigui.

Gestão de Risco Climático Bairro Novo do Caximba

Com o financiamento de US$ 57 milhões da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), aborda principalmente a questão de adaptação e do aumento da resiliência urbana, com ações de relocação de famílias de áreas de risco, implantação de um dique para a contenção de cheias, reestruturação urbana e a construção de um parque linear.

Mobilidade urbana

A melhoria da infraestrutura de calçadas e cicloviária para promover a mobilidade ativa e a modernização do Inter 2 e do BRT Leste-Oeste, também são exemplos de projetos que reforçam a importância da redução de emissões de gases provenientes dos combustíveis fósseis.

Reserva Hídrica do Futuro

A Reserva Hídrica do Futuro é um programa de governo, de resiliência e adaptação às mudanças climáticas, que vêm mudando o regime de chuvas mundialmente. Os poços artesianos, localizados nas dez regionais, têm vazão média de 6 mil litros de água por hora cada. As estruturas fornecem água também para unidades de saúde, escolas, creches, instituições de assistência social e outras atividades essenciais municipais, diminuindo a pressão da rede de abastecimento da cidade. A Sanepar instala as grandes caixas para armazenamento da água. Caminhões-pipa contratados pelo município fazem a distribuição, conforme demanda da comunidade ao município, por meio das administrações regionais.