Franklin de Freitas – Velho ônibus ficou no imaginário de Eduardo Tows

Se você é um pouco mais velho, provavelmente se recorda do Gabriela, o primeiro ônibus urbano produzido pela Caio Induscar e que operou no sistema de transporte de Curitiba entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1990. E sabia que, se der sorte, você ainda pode se deparar com um desses veículos transitando pelas ruas da capital paranaense?

Após um trabalho de quatro anos, encerrado no segundo semestre do ano passado, Eduardo Tows, Engenheiro Mecânico e Gerente de Manutenção de uma das empresas que operam no Sistema de Transporte da Capital, conseguiu restaurar um dos veículos da Caio, um modelo Gabriela II de 1979.
“O Gabriela faz parte da minha infância. Era um modelo desse que eu utilizava para ir à escola, lembro dele trabalhando no sistema de transporte de Curitiba”, comenta Eduardo, que conseguiu adquirir o veículo num lance de sorte.
“Tenho amigos que são busólogos e comentei com um deles que se achasse um Gabriela II em condição boa de restauro detalhes de época, iria querer. Dois dias depois o rapaz me ligou e disse que meu ônibus estava estacionado em Colombo, na frente de uma casa, parado há mais de cinco anos”, conta.
Após cerca de um mês de negociações, o veículo finalmente foi para a garagem de Eduardo, que aos poucos foi dando nova vida ao ônibus. Para a parte estética, de estrutura e pintura, contou com a ajuda de um amigo que tem uma reformadora de ônibus e aceitou o desafio. Outras coisas, como peças de reposição e parte mecânica, o próprio Eduardo quem fez, em algumas ocasiões com a ajuda do pai, já falecido. Faltava, porém, uma porta traseira para o ônibus.
“Um amigo meu estava viajando para Campo Mourão e me ligou dizendo que tinha achado um veículo igual e com a porta no lugar. Estava num desmanche. Pedi para ele comprar que pagava na volta. Ele rebateu o banco do Clio dele e veio todo apertado na viagem de volta, mas conseguiu trazer a porta”, recorda, aos risos, o engenheiro mecânico. “Esse mundo do ônibus é assim, todos se ajudando”, complementa.
História
O Gabriela II foi um dos ônibus mais usados em sistema de transporte público nos grandes centros. Foram fabricadas cerca de 3.700 unidades da versão do Gabriela II.

Próximo projeto é o restauro do primeiro biarticulado da Capital
Depois de terminar o projeto do Gabriela II, Eduardo Tows já tem outro desafio pela frente: restaurar o primeiro biarticulado que rodou pela cidade, chamado de ED001. O veículo pertence a São José, empresa que adquiriu a Auto Viação Nossa Senhora do Carmo, proprietária original do ônibus. Para que o restauro fosse autorizado, contudo, foi imposta a condição de gerar nenhum custo para a empresa proprietária. Assim, todos os recursos estão vindo de doações ou parcerias.
“O desafio é esse: somar esforços, participação de todo mundo. Outras empresas de ônibus tem nos ajudado bastante e também os fornecedores dessas empressas, prestadores de serviços, concessionárias”, conta Eduardo, que encabeça o projeto. “O biarticulado está funcionando, já tem condições de se locomover, e a próxima etapa seria uma nova pintura. Não temos previsão de quando vamos terminar o restauro, mas o veículo hoje já está bem melhor do que há 15 anos”, emenda.
Quem quiser ajudar, seja com mão de obra ou financeiramente, pode entrar em contato com o Eduardo pelo telefone (41) 99988-4471.

Natal iluminado de dentro do busão
Hoje, Eduardo conta que sai com o ônibus pelas ruas da cidade pelo menos a cada 15 dias. As duas filhas adoram passear no veículo, sendo que a mais nova, de seis anos, sempre pede para dar uma volta. No Natal do ano passado, então, ele preparou uma ação especial, convidando todos os amigos e vizinhos para dar uma volta pelos pontos iluminados da cidade. Achou que pouca gente toparia o convite e acabou se surpreendendo. “O ônibus foi cheio, não ficou banco vazio. Não é nada (com intuito) financeiro, mais por hobby mesmo. Mas é legal de ver na rua, o pessoal fica olhando, buzinam, parabenizam. Chama mais atenção do que um carro zero, o pessoal fica olhando mesmo”, diz.