Valquir Aureliano – Retomada gradual vem sendo sentida pelos restaurantes nas últimas semanas

Tradicionalmente, comer fora de casa não é só uma necessidade, mas também uma opção de lazer. Reunião com os amigos e/ou família, conhecer lugares e estabelecimentos novos, experimentar novos sabores e outras culinárias. Não à toa, até recentemente quase um terço (32,8%) do orçamento familiar do brasileiro era dedicado às refeições fora do domicílio, conforme a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgada pelo IBGE. Com a pandemia do novo coronavírus, entretanto, tudo mudou. E só agora as coisas estão esboçando um retorno à normalidade — ou a algo próximo.

Quando começou o ano, o cenário que se desenhava para o setor gastronômico era de otimismo. Em janeiro e fevereiro, conforme dados da Secretaria Estadual da Fazenda, as vendas em lanchonetes e restaurantes tiveram alta de 5% e 9%, respectivamente. O início promissor, contudo, foi arruinado a partir do início da circulação do novo coronavírus em solo brasileiro. Já em março as vendas no setor tiveram um tombo de 35%. Nos meses seguintes, até agosto, esse índice variou entre -67% e -40%.

Em setembro, melhorou um pouco, com queda de 29% (sempre na comparação ao mesmo período de 2019), e a expectativa é que, em outubro, o quadro se aproxime um pouco mais do que seria considerado normal — o resultado deve ser publicado nos próximos dias no boletim “impactos da Covid-19 nas vendas e no ICMS”.

Segundo o setor, o que tem acontecido recentemente é uma ‘recuperação comedida’ do setor gastronômico, com movimento forte nos finais de semana e feriados, o que indica que o aspecto do lazer relacionado ao setor já estaria sendo reativado. O que se sente neste momento é um movimento muito forte nos finais de semana e, ao longo da semana mais comedido.

“O home office hoje é nosso maior adversário. Muitos lugares com bar e restaurante fecharam por isso, porque perdemos os clientes”, afirma uma das lideranças do setor. Neste período da pandemia, muitos estabelecimentos fecharam. Antes, somavam cerca de 12 mil estabelecimentos ativos em Curitiba. Hoje, seriam pouco mais de 7 mil.

Venda de carnes e bebidas alcoólicas estão em alta
Se o ‘comer fora de casa’ ainda é uma tradição que está sendo recuperada aos poucos, outras formas de lazer e confraternização ganham força em tempos de pandemia. Alguns dados, inclusive, ajudam a visualizar essa mudança: entre janeiro e setembro, as vendas em restaurantes e lanchonetes caíram 35% no Paraná na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já o comércio de equipamentos eletrônicos cresceu 15%, enquanto hipermercados e supermercados viram o faturamento aumentar em 10%.

Um forte indicativo de que a opção por eventos mais caseiros está em alta, dados divulgados pela Secretaria da Fazenda mostram que a venda de carnes, peixes e frutos do mar teve crescimento de 21% no Paraná entre janeiro e setembro, com alta mais forte, acima de 30%, a partir de julho. O consumo de bebidas alcoólicas também avançou no período, com crescimento de 6% no ano (e de 22% apenas em setembro).

Médico mostra como festejar em segurança
Embora nas últimas semanas Curitiba (e o Paraná como um todo) tenha registrado uma desaceleração da pandemia, com baixa no número de casos novos e óbitos, sempre importante ressaltar que, infelizmente, o pior ainda não passou e seguimos vivendo em meio a uma pandemia. Por isso, enquanto não houver remédio ou vacina para a Covid-19, a única forma de se preservar será com o distanciamento social e os cuidados sanitários básicos e essenciais.

Assim sendo, é importante considerar algumas coisas na hora de planejar uma confraternização ou uma reunião familiar, conforme explica o médico infectologista Moacir Pires Ramos. “Dicas para fazer isso: poucas pessoas. Não tem um número mágico, mas um número de pessoas que dê para ficar bem distante. Use máscara. Pessoas que não convivem no mesmo ambiente têm que estar de máscara, infelizmente. Ambientes abertos, com renovação de ar, são preferíveis”, comenta o doutor Ramos, reforçando ainda que qualquer pessoa com sinais de resfriado ou gripe deve se ausentar dessas reuniões.

‘Movimento voltou, mas ainda está devagar’
Localizado nas proximidades da Ópera de Arame e da Pedreira Paulo Leminski, num dos pontos turisticamente mais movimentados da capital paranaense, o Restaurante Paulo Leminski vive um momento de retomada. Retomada gradual e lenta, mas ainda uma retomada.

“Movimento voltou, mas ainda está devagar, voltando gradualmente. O que está salvando são os feriados, que estão dando uma boa movimentada. Nos outros dias, ficamos na expectativa, sem saber se vai ser bom, ruim, normal…”, conta Edjalma Eccher, proprietário do restaurante junto com sua esposa, Waldilene Eccher.

“Com os aplicativos [de delivery] a gente conseguiu recuperar uns 10% do faturamento. Agora, com a flexibilização das medidas de isolamento, pessoal voltando a circular mais, chegamos em 20, 25%, mas ainda está longe do que registrávamos em fevereiro, começo de março”, complementa ele.

Antes da pandemia, o restaurante contava com dois funcionários fixos e ocasionalmente ainda chamava mais gente para ajudar no atendimento aos clientes quando aconteciam eventos com maior número de pessoas. Depois do coronavírus, foi necessário dispensar todos os funcionários e quem tem ajudado nos dias de maior movimento é a filha deles, Sibele.

“O movimento hoje é parecido com aquele que tínhamos quando a Pedreira estava fechada, talvez até pior. Com as coisas melhorando, pretendemos recontratar o pessoal que dispensamos, mas ainda não dá para saber quando isso vai acontecer”, diz Waldilene.