ANDREA VIALLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil caminha lentamente quando o assunto é inovação. Os principais entraves para a inovação na área de pesquisa médica e farmacêutica são o alto custo da pesquisa e a burocracia inerente ao processo para se testar e aprovar um novo medicamento.
“O Brasil criou nos últimos anos uma série de incentivos à inovação, mas não diminuiu os enormes obstáculos para as empresas fazerem pesquisa”, afirma Carlos Henrique de Britto Cruz, diretor científico da Fapesp. Segundo ele, os custos trabalhistas e tributários muitas vezes inviabilizam a pesquisa privada e acabam por anular os esforços dos programas de incentivo ligados à entidades como Fapesp, Finep e Proforma.
Para Paulo Hoff, diretor-geral do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), o avanço da inovação na área médica no Brasil também esbarra em questões culturais. Há um estímulo nas universidades para a publicação de artigos científicos, mas não há o mesmo empenho para incentivar os pesquisadores a gerar novas patentes. “Muito do que estudamos hoje poderia gerar novas patentes de medicamentos, mas estes processos não avançam por causa da burocracia para gerar ensaios clínicos”, diz Hoff. Na área de oncologia, a inovação se faz ainda mais necessária. “Hoje 40% dos pacientes com câncer vão morrer da doença, por isso precisamos acelerar a criação de novos medicamentos”.
Aproximar os institutos de pesquisa e a indústria é um dos precedentes para acelerar os processos de inovação. “Há um bom conjunto de colaboração entre universidades e empresas privadas. Além disso, a Anvisa tem tomado medidas regulatórias para aperfeiçoar o ambiente de testes para novos medicamentos”, afirma Jarbas Barbosa, secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde.
Mesmo com as dificuldades, o Brasil tem condições de avançar a criação de patentes de novas drogas, mas precisa investir mais em pesquisa privada, alega Carlos Goulart, presidente-executivo da Abimed (Associação Brasileira da Indústria Médica). Nos últimos quatro anos, a economia brasileira cresceu em torno de 10%, mas a produção local de medicamentos caiu de 37% para 31%. “A verdade é que continuamos patinando quando o assunto é inovação”.