SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – “Pega na mão”, gritou o fotógrafo Ricardo Stuckert, pendurado em um carro de som à frente de uma pequena multidão de militantes do PT na Bahia.

A ordem era para Fernando Haddad, candidato a vice na chapa do ex-presidente Lula ao Planalto, em seu primeiro périplo pelo Nordeste, reduto eleitoral petista.

Atento ao que poderia virar imagem de impacto para o programa de TV do partido, Stuckert queria que Haddad segurasse no alto a mão do governador baiano, Rui Costa, que disputa a reeleição e está em primeiro lugar nas pesquisas. Disciplinado, o herdeiro político de Lula obedeceu.

Pouco conhecido entre os nordestinos e criticado por sua falta de habilidade no contato direto com eleitores, o ex-prefeito de São Paulo participou nesta terça-feira (21) de uma caminhada em Salvador, na qual deixou o habitual blazer de lado e vestiu uma camiseta estampada com o rosto de Lula. 

Conduzido por Costa e o candidato do PT ao Senado na Bahia, Jaques Wagner, Haddad caminhou por cerca de uma hora, de início ainda um pouco assustado com o tumulto, mas se recusou a subir no carro de som. 

Preferiu ir no chão, embalado pelo jingle do “Correria”, apelido dado ao governador. Fez selfies e acenou aos cerca de 3 mil militantes que ocupavam as ladeiras do bairro da Liberdade, periferia de Salvador.

Na Bahia, dizem os petistas, “correria” é aquele que faz acontecer.

“O cara provou tem que continuar, a correria não pode parar”, diz a música de Costa, em ritmo de axé amplificado pelo batuque do bloco Ilê-Ayê, um dos mais tradicionais do carnaval baiano.

Na reta final do ato, Haddad estava mais relaxado, com os cabelos molhados de uma mistura de chuva e suor, e até dançou.

“Haddad nunca viu uma coisa dessa”, disse uma petista que acompanhava a caminhada.

Ali, os adoradores de Costa e Wagner sabiam que Haddad era o candidato a vice de Lula, mas repetiam que o voto deles será do ex-presidente em outubro.

“A gente vai votar no Lula, que, por coincidência, o número é 13”, disse Madiba Freitas, um dos apoiadores do ato.

O discurso, mantido mesmo quando confrontado com a ideia de que Lula deve ser declarado inelegível pela Justiça Eleitoral, é exatamente o que a campanha do PT pretende ampliar a partir de agora. 

Ao mesmo tempo, Haddad percorrerá o país para tentar se tornar mais conhecido em meio a um eleitorado ainda ávido pela presença do ex-presidente na disputa.

O candidato a vice evita falar publicamente sobre transferência de votos de seu padrinho político, mas aliados já vocalizam que a ideia é “vote 13” -em referência ao número símbolo do PT.

Preso em Curitiba e condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente lidera as pesquisas de intenção de voto, mas deve ser impedido pela Lei da Ficha Limpa de concorrer em outubro.

O desafio do ex-prefeito, dizem auxiliares mais próximos, é conquistar o espólio de Lula -que tem mais de 50% das intenções de voto em todos os estados nordestinos-, fiando-se na ideia de que o ex-presidente é a representação de um projeto que Haddad poderá retomar.

“O voto de Lula não é só na pessoa física do Lula, é no que Lula representa. Acredito que o 13 será vitorioso na eleição nacional. A ideia se consagra no 13”, afirmou Rui Costa.

Nesta terça, o PT divulgou nas suas redes sociais um vídeo que corrobora a tese. Nele, Haddad aparece misturado às projeções de imagens do ex-presidente e do discurso no dia de sua prisão, em abril, no qual o petista diz que se tornou “uma ideia”.

Haddad afirma que “somos todos Lula”, ao anunciar o início da campanha petista.

Segundo o ex-prefeito, a “orientação geral”, do Lula e da coordenação de sua campanha, é “colocar o bloco na rua” e explicar como o partido vai “resgatar o país e a soberania nacional”.

Haddad deve assumir a cabeça de chapa do PT quando Lula for declarado inelegível.

Após sua passagem por Salvador, o candidato a vice do PT viajará a Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Maranhão.

No giro que vai até sábado (25), porém, não estão incluídos estados como Pernambuco e Ceará, onde há conflito entre aliados.