Narley Resende

Com atraso de três anos, a estrutura da Delegacia da Mulher de Curitiba – atualmente no Alto da Glória, próximo ao Colégio Estadual do Paraná (CEP) – deve migrar na próxima terça-feira (12) para a Casa da Mulher Brasileira, no Cabral. Em abril 2017, a casa passou a contar com um núcleo da delegacia, mas a mudança completa não foi feita por falta de espaço adequado.

“A gente teve alguns entraves internos, burocráticos e estruturais, porque o espaço foi pensado e estruturado, mas não para receber uma delegacia, que tem algumas particularidades, de carceragem, de atendimento e mais. Desde o início nossa ida não aconteceu porque não havia autorização para fazer alterações internas para que a gente conseguisse adaptar o trabalho daqui a ser realizado lá. Com essa nova gestão e mudança de governo, isso foi possível e estamos terminando as obras. No dia 12 de março, a partir das 8 horas da manhã, o atendimento vai ser feito integralmente na Casa da Mulher Brasileira”, anuncia a delegada Eliete Kovalhukm.

A necessidade de uma carceragem seria um dos principais motivos do atraso. “Temos, até porque somos uma delegacia e a gente autua os agressores em flagrante, mas é uma carceragem que a gente pretende que seja de passagem. A partir do momento em que o flagrante é concluído, a gente encaminha ao Judiciário, acontece a custódia, e o que a gente quer é que o preso fique só até a formalização do flagrante”, afirma.

A Delegacia da Mulher, dentro da Casa da Mulher, vai funcionar 24 horas, de domingo a domingo, como já é na sede do Alto Glória, que será desativada. A casa fica na Avenida Paraná, 870, no Cabral.

Além do atendimento na unidade da delegacia, a casa oferece apoio psicossocial — com assistentes sociais e psicólogas —, Defensoria Pública, Juizado de Violência Doméstica e Familiar, Ministério Público, Patrulha Maria da Penha e alojamento de passagem. Há ainda uma área de lazer, para as crianças das vítimas.

Para a delegada, a principal vantagem da proximidade dos membros da rede de proteção são as etapas que podem ser seguidas no mesmo local, unindo os espaços para evitar que a mulher vítima de violência – muitas vezes em condições de vulnerabilidade socioeconômica – precise percorrer vários trajetos em busca de apoio e assistência policial. “A mulher precisa desse atendimento inicial de forma acolhedora, principalmente pelo estado de alteração emocional que ela sempre chega na delegacia. Lá vai haver a triagem psicossocial prévia. Assim que a mulher chega ela não vai vir direto, por mais que seja um caso de registrar o boletim de ocorrência ela vai passar por uma triagem psicossocial, conversar com as psicologas da casa, até para que ela se sinta mais segura para dar andamento na denúncia que ela tem a fazer. Na sequência ela é encaminhada ao serviço que ela pretende fazer, seja delegacia, Defensoria Pública, Ministério Público”, explica.

A unidade atende casos de Curitiba, mas vítimas da região metropolitana, principalmente de cidades onde não há especializada, também acabam buscando a delegacia da capital. “Atendemos Curitiba, mas acabamos recebendo invariavelmente pessoas que são da região metropolitana, mas em razão de o volume já ser bastante grande, até para que a gente possa dar conta, a gente sempre orienta que os fatos que aconteceram em outra cidade a vítima procure a delegacia da cidade que tem essa atribuição para investigar. Obviamente, se não for possível, a gente dá esse início de registro, mas quem vai dar andamento é o delegado da delegacia do local do fato”, afirma.

Somente em janeiro deste ano, a Delegacia da Mulher de Curitiba registrou 559 boletins de ocorrência e abriu 1199 inquéritos policiais. Foram emitidas 462 medidas protetivas, quando o agressor é proibido de se aproximar da vítima, e 131 homens foram presos. Nos 30 primeiros dias de 2019, foram registrados 21 casos de estupro, sendo um em flagrante. Nos primeiros 60 dias do ano, segundo dados da delegacia de Curitiba, não houve feminicídio na capital. Apenas um caso de tentativa foi registrado.

A Casa da Mulher Brasileira de Curitiba já fez 29 mil atendimentos, desde sua inauguração, em junho de 2016, até esta sexta-feira (8). Todas que procuraram a Casa são mulheres que sofreram algum tipo de violência, seja física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral.