Valquir Aureliano – Loja Descolab

A economia colaborativa, também conhecida como compartilhada ou em rede, é uma realidade em países desenvolvidos. Ficam localizadas em locais de grande fluxo de pessoas, como galerias, passarelas, metrôs e aeroportos. O conceito também está desembarcando – aos poucos – no Brasil. A porta de entrada no país são os grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo – na Rua Augusta já são comuns muitas portinhas de comércio colaborativo. A modalidade já chegou em Curitiba e a sua mais fiel representante é a Descolab. A loja fica na Vila Urbana, um complexo de gastronomia, comércio e serviços, cravado bem no centro da capital, na Marechal Deodoro, 686.

Na Descolab é possível encontrar produtos de mais de 40 pequenos produtores locais, de vários segmentos. O modelo é uma opção bem atraente para os fabricantes que não têm condições de abrir uma loja própria em razão do alto custo da abertura e manutenção de um espaço, ou simplesmente porque a escala da produção não sustenta um negócio de marca própria.

Segundo Carolina Macedo, sócia da Descolab, as lojas colaborativas trazem vantagens para os produtores e para os clientes, que encontram nesse canal de venda mercadorias com alto valor agregado. “As lojas colaborativas são uma vitrine para fabricantes de produtos exclusivos, feitos de forma artesanal, com grande qualidade e preço justo. É um espaço de exposição permanente para aqueles itens que seriam encontrados em grandes feiras de artesanato, que são sazonais, pouco práticas e que representam um custo muito alto para os fabricantes”, explica.

Fabiana Muramaka está à frente da Laluz (uma confecção de camisetas de malha de algodão orgânico e tecidos biodegradáveis e é uma das marcas presentes na Descolab) e elogia a iniciativa. “É uma forma dos produtores locais unirem forças. A proposta é excelente sob diversos aspectos: a curadoria é muito boa e a loja oferece produtos inovadores. Para nós, além de ser um ponto de venda muito bem localizado, com um vendedor capacitado para apresentar nossos produtos para os clientes diariamente, é uma forma de cultivar relações e aprender com outros produtores criativos”, afirma.


Mais do que uma proposta comercial, a loja compartilhada é um estilo de vida

Carolina Macedo explica que a loja colaborativa é um dos símbolos da economia colaborativa, ancorada em um modelo comercial preocupado com os problemas sociais e ambientais. “A economia colaborativa é um movimento que concretiza uma nova percepção de mundo, na qual a divisão substitui a cultura do acúmulo. A economia colaborativa impacta na forma como vivemos e, principalmente, como fazemos negócios, haja visto o sucesso de empresas que facilitam o compartilhamento, como Uber e Airbnb”, destaca Carolina.

Na opinião da consultora e professoa Gina Palladino, a economia colaborativa veio para ficar e está longe de atingir o ápice. “É um movimento que ainda está engatinhando e que tem muito para crescer e se desenvolver. As lojas colaborativas são inovadoras, fomentam uma competição saudável e abrem caminhos para pequenos produtores locais. Quantos deles não estão à espera de um local para vender seus produtos?”, argumenta.

Gina Palladino acrescenta ainda que as lojas colaborativas têm um parentesco bem próximo com a economia criativa. “Uma não existe sem a outra”, diz. A economia criativa abrange os ciclos de criação, produção e distribuição de bens que usam a criatividade, a cultura e o capital intelectual como insumos primários. E a loja colaborativa cumpre um papel importante nesse trajeto: é o canal entre o fabricante e o consumidor final. “Produtores de artesanatos, itens com grande valor de designer e especialmente do segmento da moda são muito privilegiados pelo modelo da economia colaborativa. Estamos falando de produtores de pequeno porte, que não suportariam a solidão do ponto de vista econômico”, informa Gina.
Os produtos das lojas colaborativas têm outra característica em comum: além da exclusividade, são, na sua maioria, ecologicamente corretos e sustentáveis. A Laluz é um exemplo. Os itens confeccionados pela marca não prejudicam o meio ambiente. As costureiras também são bem remuneradas e, neste quesito, a empresa está na contramão das facções da moda. Para produzir de 50 a 100 peças manualmente, recebem o equivalente à produção de um lote de 500 unidades para as etiquetas convencionais.