O destino dos personagens de “Vidas Opostas”, que termina em 17 de agosto, começa a ser traçado. E a notícia não é das mais animadoras para os tipos do mal, e, surpreendentemente, tampouco para a turma do bem. O autor Marcilio Moraes antecipa que alguns mocinhos da novela das dez da Record serão recompensados pelas boas ações, como manda a tradição nos folhetins, mas outros serão vítimas de desfechos trágicos. O mesmo vale para os vilões. Parte sairá de cena satisfeita, outra castigada.

O novelista fugirá dos finais clássicos. “Tal como em uma peça de Shakespeare, ‘Vidas Opostas’ começou com uma grande batalha e vai terminar com outra. Na verdade, com outras, porque haverá guerras no asfalto e na favela do Torto. ‘Quem vai dominar o emblemático morro?’ será uma das perguntas que os telespectadores se farão no final”, fala. “A novela não vai terminar com casamentos, não vai provocar aquele ‘quem fica com quem?’, mas terá mortes.”

O aguardado confronto entre mocinhos e bandidos está reservado para o último capítulo. O morro será disputado por quatro exércitos: o primeiro de Jacson (Heitor Martinez), o segundo, por Pé de Pato (Felipe Martins), o terceiro, pela comunidade e o quarto, pela milícia. “O destino da maioria dos personagens será decidido no Torto”, afirma o novelista. “É lá também que se decide o triângulo amoroso. Joana (Maytê Piragibe) fica com Miguel (Léo Rosa) ou com Jacson (Heitor Martinez)? Eu ainda não sei (risos).”

A popularidade do criminoso não atormenta apenas Moraes, que já tornou público que o carisma do traficante e de seus companheiros fugiu do controle. O ator Léo Rosa sente nas ruas que a torcida pelo casal protagonista Joana e Miguel já não é tão forte como se mostrava no início da produção. “O telespectador ficou dividido quando Joana e Jacson se aproximaram, o que não me surpreendeu. Jacson é bandido, mas não é vilão. Ele entrou no mundo do crime porque perdeu os pais cedo não teve chance de estudar e de conhecer outra vida a não ser a do tráfico. Tem uma coisa que Marcilio faz com maestria que é mostrar o lado bom e o mau de todos os personagens. A novela não é maniqueísta”, diz ele.

Intérprete do ex-líder do tráfico Sovaco, Leandro Firmino alerta para o magnetismo do tema. “A inversão de valores está tão grande que algumas pessoas torcem para que o Sovaco vire dono do morro. Isso não é certo, o público deveria pedir para ele sair do crime”, diz o ator, famoso graças ao personagem Zé Pequeno de “Cidade de Deus” (2002).

No núcleo da zona sul carioca, a briga também promete. Ísis (Lucinha Lins) terá de lutar para recuperar as empresas Campobello, que foi saqueada pelo trio Mário (Cecil Thiré), Maria Lúcia (Flávia Monteiro) e Félix (Roger Gobeth).

Já Leonardo (Luciano Szafir) e Nogueira (Marcelo Serrado) se enfrentarão nos tribunais. “O promotor coloca as mãos no delegado. Ele tira Nogueira do cargo ao descobrir por meio de escutas telefônicas suas armações com políticos e a chantagem com Erínia (Lavínia Vlasak)”, antecipa Moraes. “Será o duelo entre a lei e a corrupção”.

BOXE

“O maior desafio é fazer o telespectador mudar de canal”

O autor Marcilio Moraes, 62 anos, escreve a reta final de “Vidas Opostas” com a sensação de dever cumprido. Silenciou a crítica que não acreditava em uma história centralizada em um morro do Rio de Janeiro e conquistou o telespectador ao discutir a violência urbana e seus protagonistas, em vez de simplesmente condená-la. O novelista também comemora números: de acordo com prévia do Ibope, a trama fechou o mês de junho com média de 14 pontos de audiência.

O que surpreendeu o senhor em “Vidas Opostas”?

MARCILIO MORAES – A aceitação do público. Tinha medo que o universo abordado causasse rejeição, mesmo sabendo que era uma boa história sendo contada.

Até o senhor acreditava na tese que defende que o povo só quer ver coisas belas nos folhetins (risos)?

MARCILIO MORAES – No começo, parte do público e da crítica dizia que a novela explorava a violência. No fundo, o que queriam dizer é que não é de bom gosto fazer novela com favelados e traficantes, como se novela fosse um produto nobre. Era um risco

“Vidas” não explora a violência?

MARCILIO MORAES – É violenta, mas não compromete a história, que é bem contada. Os textos de Shakespeare são violentos, mas ninguém se incomoda. Em ‘Hamlet’ cinco personagens morrem, o mesmo número de pessoas que morreram em ‘Vidas Opostas’ (em janeiro, uma disputa pelo morro do Torto terminou com seis mortes e bateu recorde de audiência, registrando pico de 26 pontos, e tirando o primeiro lugar da Globo).

Por que “Vidas Opostas” deu certo?

MARCILIO MORAES – Porque foge dos lugares comuns. Novela não precisa só mostrar um mundo charmoso, da classe média. Quis contar uma história de guerra urbana. Acho que é por isso.

Quando a novela estreou, o senhor disse que tinha a fórmula para bater a Globo no Ibope. A trama é um sucesso na Record, mas não tirou a liderança da concorrente. O senhor supervalorizou o produto?

MARCILIO MORAES – O que quis afirmar é que era um profissional raro no meio televisivo, um dramaturgo que sabia fazer novelas. Que, se me dessem uma chance, faria tão bem quanto a Globo faz. Novela é difícil de escrever, não é qualquer um que consegue. O maior desafio de quem faz novela fora da Globo é fazer o telespectador mudar de canal. Meu grande feito foi ter provocado esse movimento, descobriram que existe um produto bom em outro canal.

O texto não tirou a liderança da Globo, mas ameaçou em alguns momentos. Como é incomodar a ex-casa?

MARCILIO MORAES – É uma grande satisfação profissional ver que o que você fez deu certo. Você está me fazendo falar muito da Globo, vão achar que eu quero voltar para lá (risos).

“Duas Caras”, próxima novela das nove da Globo, e “Caminhos do Coração”, que vai substituir “Vidas” na Record, terão favelas como um dos cenários. O senhor está fazendo escola?

MARCILIO MORAES – Não sei, é melhor você perguntar isso para eles (risos).(A.C./AE)