Será votado na primeira semana de dezembro o requerimento que pode antecipar para este ano a decisão sobre o transporte público operar somente com bilhetagem eletrônica. A proposta, tratada pela categoria dos cobradores como o fim da profissão na capital do Paraná, foi protocolada na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) pelo Executivo, mas ainda tramita pelas comissões temáticas e seria votada só em 2019. O pedido de urgência que abreviaria a tramitação foi debatido nesta terça (20), mas seu autor, Rogério Campos (PSC), pediu que a análise ficasse para depois do dia 29 de novembro.

No dia 29 de novembro haverá eleição para a diretoria do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), do qual Campos já foi dirigente. Ele recuou na votação imediata da urgência depois que Paulo Rink (PR) questionou a moralidade da manobra, que poderia influenciar a eleição da entidade. “Essa Casa não é [para ser usada para] influenciar a eleição de qualquer sindicato de Curitiba. Vamos conversar com o sindicato eleito na semana que vem”, posicionou-se Rink. Campos respondeu dizendo que não havia intenção de influenciar a eleição. “Sou homem, não sou moleque”, rebateu, postergando a votação para depois da eleição no Sindimoc.

Campos tinha se dirigido a Paulo Rink antes, no debate da proposição, vinculando-o aos empresários do transporte coletivo e expondo uma movimentação dele, com os outros parlamentares, que via como contrária à proposta de votar já neste ano o projeto da bilhetagem eletrônica. “O senhor joga bola com dono de empresa. É amigo deles”, disparou Rogério. “Jogo bola com várias pessoas, ganhei a vida jogando bola”, devolveu Rink, ex-jogador profissional de futebol. “Estou acostumado a mais de 50 mil pessoas me xingando, isso não influencia a minha índole”, continuou, dizendo que Campos omitiu dos vereadores a quem pediu apoio a proximidade sobre a eleição do sindicato. Nas galerias e fora do Palácio Rio Branco, cobradores se manifestavam a cada fala na tribuna.

Aproximadamente 100 pessoas acompanharam a sessão plenária desta terça, do lado de fora do Palácio Rio Branco, próximas ao caminhão de som do Sindimoc. Eles permaneceram ali toda a manhã. Segundo Rogério Campos, “já que [a prefeitura] não retirou o projeto, e nós pedimos isso, agora vamos votar”. “Os trabalhadores não podem passar o Natal e o Ano Novo com a faca no pescoço, sem saber seu futuro”, argumentou o vereador, para quem a falta de diálogo sobre a proposta e a incerteza sobre a data de votação é “terrorismo” contra a categoria. 

A estratégia foi questionada em plenário por Thiago Ferro (PSDB) e Professora Josete (PT), cujas opiniões convergiram sobre ser necessário tempo para ouvir a categoria e realizar audiências públicas. Ferro falou que “o projeto veio muito aberto” e que era preciso “construir um projeto [de expansão da bilhetagem eletrônica] mais responsável”, Josete que era contra o mérito da mudança “em qualquer cenário”. “Nem todos cobradores serão absorvidos como motoristas ou no administrativo das empresas”, pontuou a vereadora. Antes deles, Cristiano Santos (PV) tinha alertado para a existência de 250 mil desempregados em Curitiba. 

“Se a categoria achar que a urgência é o mais adequado, eu vou junto com a categoria”, afirmou Professor Euler (PSD). “Sou professor de Física. Sobre isso eu sei ensinar, nos outros assuntos eu busco aprender. Temos vários especialistas de outros temas aqui na Casa e quando se fala de transporte público eu busco ouvir o vereador Rogério Campos. Quando ele fala que o projeto é ruim, é nele que eu devo acreditar. Eu tenho que partir do princípio da boa-fé, que ele busca trabalhar em prol dos cobradores. Se ele quiser colocar o regime de urgência, acredito que é a decisão acertada”. 

Entenda o projeto
É a lei municipal 10.333/2001, no seu artigo 2º, que exige cobradores nas estações-tubo, terminais de transporte e no interior dos ônibus que circulam em Curitiba. Essa norma regulamenta a bilhetagem eletrônica na cidade, que já substituiu a cobrança em dinheiro nas linhas que operam com microônibus. O projeto do Executivo, apresentado na CMC em 25 de outubro, altera o texto antigo (005.00149.2018).

“Fica autorizada a implementação exclusiva do Sistema de Bilhetagem Eletrônica do Município por meio da utilização dos cartões transporte nos pontos de acesso aos serviços de transporte coletivo de Curitiba”, diz a nova redação do artigo 2º, proposta pelo Executivo. Na justificativa, assinada pelo prefeito Rafael Greca, é dito que a alteração é para “trazer maior agilidade ao transporte público” (leia mais).