ESTELITA HASS CARAZZAI

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Em relatório sobre o estado da política fiscal pelo mundo, o FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê que a dívida bruta do governo do Brasil deve bater os 90% do PIB em 2019 e chegar a quase 100% até 2023.

É um dos maiores patamares de dívida entre as economias emergentes do mundo e comparável à de países desenvolvidos. Na América Latina, por exemplo, a média é de 61%. O percentual fica na casa dos 50% na Argentina e na Colômbia, e não passa de 23% no Chile.

"É um nível muito alto no contexto dos mercados emergentes", afirma o economista Vitor Gaspar, diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI.

No próximo ano, o percentual da dívida pública brasileira deve chegar a 87,3% do PIB, segundo o FMI. No ano que vem, bate nos 90,2% e, em 2023, atinge 96,3%. No ano passado, esse percentual foi de 84%.

"São níveis que, no passado, estiveram associados a crises fiscais", diz Gaspar. "A dívida média só foi maior durante os anos 1980, que ganharam o título de década perdida na América Latina."

A proporção da dívida pública brasileira preocupa o FMI, que pediu a aceleração das reformas e do ajuste fiscal do país no documento Fiscal Monitor, lançado nesta quarta-feira (18).

"Dada a força de sua recuperação econômica, o Brasil deveria acelerar o passo da consolidação e estimular o esforço fiscal", informa o relatório do fundo.

O órgão aumentou nesta semana a previsão de crescimento do Brasil para 2,3% em 2018, destacando a recuperação dos investimentos no país.

Gaspar afirma que é crucial que o Brasil adote logo um plano de médio prazo para diminuir a proporção da dívida e mantê-la sob controle, uma vez que seu crescimento destoa da tendência de outros países da região.

Para o FMI, mesmo com a recente alta nos preços das commodities, países exportadores de bens agrícolas como o Brasil deveriam aproveitar o momento para alinhar os gastos públicos com perspectivas de receita mais modestas.

No documento desta quarta, o FMI elogia a queda do déficit orçamentário em 2017, e cita a aprovação do teto de gastos proposto pelo governo Michel Temer, que deve reduzir o gasto público em 0,5% do PIB a partir de 2019.

Mas, para o fundo, ainda é preciso aprovar a reforma da previdência, que pode gerar uma economia de até 9,5% do PIB ao longo da próxima década.

"Não existe espaço para a complacência", afirma Gaspar.