SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Num momento em que investidores estrangeiros e líderes de outros países tentam desvendar o rumo pelo qual o Brasil enveredou, um documentário da BBC World News, “What Happened to Brazil…”, ou “O que aconteceu com o Brasil…”, revisita os principais acontecimentos dos últimos anos para tentar oferecer algumas pistas.


Por meio de entrevistas com autoridades, políticos e eleitores, o jornalista Kennedy Alencar abraça a missão de recontar os soluços da política desde a onda de protestos que ficou conhecida como “jornadas de junho”, em 2013, até a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL), no fim do ano passado.


No filme, o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, responsável por duas denúncias contra o ex-presidente Michel Temer (MDB) e pelas acusações extraídas da Lava Jato contra deputados, senadores e ex-ministros, diz que as pedaladas fiscais foram uma “desculpa para o impeachment” de Dilma Rousseff (PT).


“A história das pedaladas fiscais, para mim, foi uma desculpa. Existiram pedaladas antes, existiram pedaladas depois. O que gerou o impeachment foi, primeiro, o enfraquecimento político das coalizões que apoiavam o governo”.


O ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, que presidiu o julgamento do afastamento de Dilma no Senado, fala sobre outro episódio, um marco na guinada da opinião pública contra o governo da petista.


“Flagrantemente ilegal. Um juiz, um funcionário público ou qualquer pessoa que gravasse um presidente da República seria, num país civilizado, um crime contra a segurança nacional antes de mais nada”, afirmou.


Na fala, o ministro fez uma avaliação sobre o dia 16 de março de 2016, quando o agora ex-juiz Sergio Moro divulgou grampos de conversas entre Lula e Dilma às vésperas da nomeação do ex-presidente para a Casa Civil.


As gravações sepultaram qualquer chance de Lula assumir um cargo no governo, ampliaram a animosidade da opinião pública contra Dilma e abriram de vez o caminho para o impeachment.


“Havia naquele momento um intuito de prejudicar o meu governo, de desestabilizar”, diz Dilma no filme. Além dela, deram entrevistas os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Lula —este por carta.


No documentário, Moro rebate acusações de que agiu partidariamente. O filme também traz cenas em que ele contradita críticas por ter assumido um posto no governo. 


“Sei que alguns, eventualmente, interpretaram a minha ida como uma espécie de recompensa, algo absolutamente equivocado. Minha decisão foi tomada em 2017, sem qualquer perspectiva de que o então deputado federal [Jair Bolsonaro] fosse eleito presidente”, ele diz. 


Um dos destaques do filme é a crítica de Rodrigo Janot ao ex-juiz da Lava Jato. “O que faria se tivesse sido convidado para eventualmente ser ministro da Justiça e eventualmente para ser ministro do Supremo? Para que não houvesse contaminação da maior investigação da história brasileira (…) eu nem titubearia. Minha resposta seria não e não”. 


Ele deu entrevista antes de Moro dizer que aceitaria o convite.


“Depois de cinco anos cobrindo diariamente a crise política e econômica, quis fazer uma reflexão com mais distanciamento. A ascensão da extrema-direita não veio do nada. As manifestações de 2013 mostraram a todas as forças políticas que elas poderiam usar a arena pública como instrumento de pressão contra o poder”, diz Alencar.


O documentário, que estreia neste sábado (12), à 0h30, será exibido em três episódios e poderá servir ainda para matar as saudades de quem sente falta de ouvir “Roda Viva”, de Chico Buarque, na TV. O cantor e a Universal liberaram os direitos da música para a vinheta do filme.