SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Eletronica:mentes” nem precisava ser um documentário excelente para ganhar relevância. O filme vem preencher uma lacuna num cenário em que a música eletrônica brasileira praticamente não tem registro além das gravações de áudio.


Realizado por Dácio Pinheiro, Denis Giacobelis e Paulo Beto, e com exibição nesta quinta-feira (20) no festival In-Edit, talvez não seja didático o bastante para quem desconhece totalmente o universo abordado, mas é um exercício de reflexão sobre o gênero que também é entretenimento.


Em seu início, dá a impressão de que irá tratar cronologicamente a história da música eletrônica no país. Começa com depoimentos de Jocy de Oliveira e Jorge Antunes, junto a registros visuais de performances de cada um, ambos pioneiros no gênero desde os anos 1960.


Antunes tem casos curiosos, como trazer um synth comprado numa viagem ao exterior escondido no cesto no qual carregava seu bebê. Jocy conta como sua forte relação com o italiano Luciano Berio, um dos maiores nomes da música experimental no século 20, levou a pianista para o desafio eletrônico.


Nos depoimentos deles fica ressaltada a ausência de estúdios adequados à música eletroacústica no Brasil dos anos 1960. Quando uma sequência natural da narrativa seria passar à década seguinte e talvez mostrar a evolução da cena eletrônica, o filme dá um salto para os dias de hoje e expõe sua verdadeira vocação.


Os músicos Alex Kidd e Savio Lopes, do duo The Radio Droids, são os primeiros de vários nomes atuantes na cena 2019 a falar de sua música, detalhando propostas e processos.


A edição é muito eficaz, a música praticamente não para durante os depoimentos e funciona bem em trechos escolhidos que evidenciam diferenças sonoras entre os artistas.


O elenco de entrevistados vai de gente surgida recentemente, como Juliana R, Boss in Drama e as garotas do Rakta, a nomes com 20 ou 30 anos de carreira, exemplos de Anvil FX, Loop B, Apollo Nove, Dino Vicente, Arthur Joly e o duo Tetine.


Enquanto exibe as entrevistas, o filme faz resgates do passado, falando do Cri du Chat, primeiro selo de música eletrônica no país, de vida curta, e mostrando algumas imagens preciosas, como videoclipes de Kodiak Bachine nos anos 1980 e a performance “Tributo a Rogério Duprat” (2002), com Loop B, Ruriá Duprat, Eloi Chiquetto e Anvil FX.


ELETRONICA:MENTES


Avaliação: Muito bom


Quando: Quinta (20), às 20h


Onde: Matilha Cultural (r. Rego Freitas, 542, São Paulo)


Preço: Gratuito