Agência Brasil – Doria toma posse

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – João Doria (PSDB), 61, tomou posse como governador do estado de São Paulo na manhã desta terça-feira (1º). Em discursos na Assembleia Legislativa e depois no Palácio dos Bandeirantes, ele atacou os 24 anos de governos do PSDB no estado, apesar de pertencer ao mesmo grupo tucano, e chorou ao citar os seus pais, João Doria e Maria Sylvia.

Doria disse que o estado precisa deixar de “pensar pequeno” e que “a partir de agora São Paulo vai mudar, tem comando, e o comando será exercido pelo governador”. Ele ainda pediu a reestruturação do partido, hoje sob o comando de Geraldo Alckmin, ex-governador do estado, derrotado na disputa presidencial e ausente na cerimônia. “Vamos ajudar o PSDB a estar sintonizado com o novo Brasil”, disse Doria.

O discurso cheio de referências nacionais escancarou mais uma vez as intenções do governador de disputar as eleições presidenciais de 2022.

Segundo Doria, o estado tem que ser um exemplo nacional. “São Paulo é a síntese do Brasil”‘, disse ele, que colocou nove membros da gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) em seu governo.

Em relação a Alckmin (governador de 2001 a 2006 e de 2011 a 2018), Doria fez apenas uma menção breve a ele durante seu discurso de cerca de 30 minutos na Assembleia, quando disse que, ao promover mudanças no PSDB, não desrespeitaria a história construída pelo ex-governador e outros tucanos históricos, como os também ex-governadores Mário Covas (1995-2001) e José Serra (2007-2010) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2001).

Doria prometeu ouvir as urnas e fazer um governo “do povo com os políticos” e não “dos políticos”. Ele afirmou que “a partir de hoje” o Palácio dos Bandeirantes será o “palácio do trabalho” e que não morará lá, cortando assim o que seriam, na visão dele, privilégios e mordomias para seus familiares. Alckmin, por exemplo, morou no palácio ao longo de todo o seu governo.

Doria também prometeu o fim da “romaria de prefeitos” ao palácio. “Aqueles que se dirigirem ao palácio não esperem reuniões modorrentas, excesso de café, de água e de assento em sofás, mas esperem trabalho”. Alckmin é um conhecido apreciador de café, tanto em campanhas de rua como ao receber políticos.

“Não espere aquilo que foi feito aqui no Palácio. Não quero fulanizar, mas a partir de agora vai mudar”, disse.

Em 2016, quando disputou a eleição à Prefeitura de São Paulo, Doria teve justamente em Alckmin seu principal cabo eleitoral. Eleito no primeiro turno, assumiu o município e passou a disputar contra o então governador a vaga de candidato do partido à Presidência da República.

Doria perdeu essa disputa interna, abandonou a prefeitura após apenas 15 meses de gestão e deixou uma longa lista de projetos não realizados e uma série de metas não cumpridas no município.

À época, decidiu concorrer ao Governo de São Paulo, eleição que conquistou no segundo turno, ao bater Márcio França (PSB), antigo vice de Alckmin, em uma disputa acirrada e recheada de ataques.

A relação com Alckmin ficou mais tensa durante as eleições presidenciais deste ano, quando Doria decidiu aproximar-se de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno, enquanto o companheiro de partido ainda disputava uma vaga no segundo turno.

O PSDB comandou o estado de São Paulo em 23 dos últimos 24 anos. Desde 1995, foram apenas duas rápidas interrupções, com Cláudio Lembo (DEM, antigo PFL) em 2006 e França (PSB) em 2018.

Alguns tucanos presentes à posse colocaram panos quentes nas críticas de Doria aos antecessores no cargo. Marco Vinholi, ex-deputado estadual e agora secretario de Desenvolvimento Regional, diz que Doria não fez ataques pessoais. “O partido valoriza suas lideranças históricas, mas agora precisa responder aos anseios da sociedade.”

Já para a senadora eleita Mara Gabrilli, Doria não estava se referindo especificamente a Alckmin ao falar de um palácio com menos cafés e mais trabalho. “O cafezinho é um modo tradicional de fazer política. Não vi uma referência pessoal.”