O Atlético-PR publicou na noite de ontem uma carta aberta em que justifica a sua decisão, apoiada pelo Ministério Público e pela Polícia Militar do Paraná, de não oferecer um espaço exclusivo para torcedores do Flamengo, que jogam contra o Furacão neste domingo, às 11 horas, na Arena da Baixada.

No documento, o clube cita o artigo 1º Declaração Universal dos Direitos do Homem ("Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade") para argumentar que não irá criar um "espaço para confinamento da torcida adversária", alegando ter o objetivo de "reparar algo que faz parte do direito fundamental dos seres humanos".

Nas últimas seis partidas na Arena da Baixada, o Furacão não ofereceu um setor específico para a torcida visitante. A única exceção foi o jogo contra o Peñarol, pela Copa Sul-Americana, que teve a área exclusiva para uruguaios por determinação da Conmebol.

Em outros jogos, como contra o São Paulo, chegou a ser registrado princípio de confusão entre torcedores atleticanos e do time visitante. Neste domingo, mais uma vez, os adeptos do clube carioca não poderão entrar no estádio com a camisa do time de coração, tendo de ficar no meio dos atleticanos. 

Segundo a diretoria atleticana, a ideia é não criar divisórias nas arquibancadas porque os torcedores têm de se respeitar. 

Confira a carta na íntegra

"A TORCIDA HUMANA

Artigo 1° – DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS – 1948

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Com base nesta declaração, que completa 70 anos, o Clube Atlético Paranaense, o Ministério Público do Paraná e a Polícia Militar, implementaram uma nova maneira de encarar o público presente em um evento como um jogo de futebol.

No estádio do Atlético Paranaense, não há espaço para o confinamento da torcida adversária. Nossa Arena foi construída com as normas da FIFA para sede dos jogos da Copa do Mundo.

Estamos tentando reparar algo que faz parte do direto fundamental dos seres humanos.

Não estamos fazendo nada de novo.

Estamos, sim, trazendo de volta o que é certo e correto.

O futebol não é uma guerra. É um jogo, é um esporte e aqueles que não puderem conviver pacificamente com o torcedor do outro clube ao seu lado, não pode viver em uma sociedade.

Vivemos em um país de exceções que viram regras, que o errado passa a ser certo, que a mentira passa a ser verdade.

Já está mais do que na hora de um basta.

Os jogos do Atlético Paranaense nunca serão de torcida única, serão sempre jogos de uma torcida humana, pacífica e ordeira que torce e vibra com seu time, sem precisar desrespeitar o seu adversário, ou muito mais do que isso, sem desrespeitar seu vizinho de cadeira que por ventura esteja torcendo pelo time adversário.

Defender o errado e defender o espaço confinado da torcida adversário é fácil. 

Difícil é entender que se alguém não iniciar uma mudança para o lado certo, esse caminho nunca será trilhado. 

Estamos dando o primeiro passo. Sabemos que por enquanto estamos pouco acompanhados. 

Mas também sabemos que para uma mudança de cultura é preciso caminhar.

Que a sociedade nos julgue por isso.

Que os nossos sócios e torcedores nos julguem por essa atitude.

Porém, como são características dessa instituição chamada Clube Atlético Paranaense: somos inovadores, rebeldes com situações erradas, ambicionamos um futebol melhor para o Brasil e temos um grande entusiasmo que todos aqueles que querem um país melhor e um futebol melhor, estarão conosco.

Não queremos um estádio com torcida única, queremos um estádio com TORCIDA que sabe respeitar os direitos do próximo. 

Nunca seremos menos vibrantes pelas nossas cores, mas sempre seremos seres humanos que respeitam seu semelhante, NÃO IMPORTA A COR, SEXO, IDADE, RELIGIÃO OU TIME QUE TORCE.

Vamos todos juntos por amor ao Furacão!"

Abaixo, você pode escutar a música que parece ter inspirado o redator da carta atleticana