Com a aversão generalizada da população diante dos sucessivos escândalos de corrupção e a crise de representatividade, os políticos brasileiros estão investindo na adoção de nomes genéricos para esconder seus partidos e tentar atrair a simpatia do eleitorado. A estratégia para se descolar da crise e driblar a rejeição popular tem sido tirar o partido do nome da legenda, apostando no desejo de renovação. A avaliação dos analistas, porém, é de que essa artimanha terá pouco ou nenhum efeito, se as mudanças se limitarem a questões cosméticas e de marketing, e não o comportamento dos políticos em relação às necessidades da população e o trato com o dinheiro público.
Nesse movimento, vale tanto copiar ideias vindas do exterior quanto olhar para o passado. Nesse segundo caso, por exemplo, está o PMDB, que pretende se livrar do P de sua sigla para voltar a se chamar Movimento Democrático Brasileiro – ou MDB – nome que a legenda tinha quando foi criada, em 1966, para fazer oposição à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à ditadura militar.
A ideia é defendida pelo atual presidente nacional da sigla, senador e líder do governo Temer no Senado, Romero Jucá (RR), que encaminhou um ofício ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para mudar o nome do partido. A alteração, que tem o aval de Temer, deve ser oficializada em setembro, na convenção nacional da legenda.
Jucá nega que a mudança do nome seja uma tentativa de “esconder” o partido atrás de uma nova marca, já que a cúpula da legenda e o próprio Temer são alvo de denúncias relacionadas a escândalos de corrupção, especialmente no âmbito da Operação Lava Jato. “Nós estamos querendo colocar o partido de acordo com o que tem de mais moderno no mundo hoje. Os novos partidos não são registrados como partido”, alegou.
Modismo – Em busca de um abrigo partidário para sua pré-candidatura à Presidência da República, o deputado federal Jair Bolsonaro anunciou recentemente que está mudando do PSC para o Partido Ecológico Nacional (PEN), que por sua vez passará a se chamar Patriotas. O mesmo fez o senador do Paraná, Álvaro Dias – também pré-candidato à sucessão de Temer – que trocou o PV pelo PTN no momento em que a sigla adotou o nome de Podemos. Outros exemplos recentes são o PTdoB, que virou Avante e o PSDC, que agora se intitula Democracia Cristã.
Nos dois casos, a inspiração veio de movimentos políticos europeus, como o Podemos da Espanha, um partido de esquerda fundado em 2014, que em pouco tempo se tornou um dos mais seguidos nas redes sociais, superando as legendas tradicionais do País. Ou o Em Marcha!, da França, criado em 2016 pelo ex-ministro da Economia e Indústria, Emmanuel Macron, eleito presidente do país em junho deste ano.
Para o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, essas manobras não vão resolver o problema da descrença do eleitorado com a política. É mais um modismo brasileiro que não vai servir para nada, avalia. Precisa mudar por dentro, coisas que aparentemente ninguém fala, cobra ele.
Hidalgo questiona, por exemplo, se o PMDB, além de tirar o partido do nome da legenda, pretende também expulsar seus integrantes denunciados por corrupção. É preciso mexer nas estruturas, afirma.

Causa própria

Reforma protege quem já tem mandato

A reforma política em gestação no Congresso tem como único objetivo facilitar a reeleição dos políticos que já têm mandato e dos caciques partidários. A avaliação é do diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, sobre propostas como o distritão para a eleição de deputados e a criação de um fundo de R$ 3,6 bilhão com dinheiro público para financiar as campanhas.
No caso do distritão – pelo qual seriam eleitos para o Legislativo os candidatos mais votados, acabando com o voto proporcional ou de legenda – Hidalgo considera que ele até poderia ser positivo, se os partidos fossem fortes, o que não acontece. Esse sim é o verdadeiro golpe. O ‘distritão’ está vindo para reelegê-los, afirma.
O mesmo vale para o fundo eleitoral, diz ele. Pessoas sérias terão dificuldade de gastar esse dinheiro, aponta, prevendo a rejeição do eleitorado ao uso de dinheiro público para campanha. Aconteça o que acontecer, só tem um beneficiário – eles mesmos, considera o pesquisador.
Além disso, prevê Hidalgo, a tendência é que os partidos limitem o número de candidatos, barrando novas lideranças, para concentrar o dinheiro do fundo nas campanhas de seus caciques.