Franklin de Freitas

Mais do que uma opção de lazer e esporte, a bicicleta vem se consolidando como um importante meio de transporte para parte da população de Curitiba. E uma prova disso é que 78,6% dos ciclistas curitibanos utilizam o modal para irem ao local de trabalho e 38,8% para irem a escola ou a faculdade, segundo revela o Perfil do Ciclista 2018. Além disso, 51,3% utilizam a magrela para ir às compras e 73,8% por lazer.

O estudo, realizado pela Associação Transporte Ativo em parceria com o Laboratório de Mobilidade Sustentável da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Labmob-UFRJ), foi aplicado na Capital pela Associação dos Ciclistas do Alto Iguaçu (Cicloiguaçu). Ao todo, foram entrevistados 841 ciclistas em 17 pontos da cidade, parte deles no anel central e outra no anel periférico.

O uso recorrente da bike em substituição a meios de locomoção como o carro e o transporte coletivo reflete nas frequência de uso da magrela. Do total de entrevistados, 80,8% revelaram que utilizam o modal pelo menos cinco vezes por semana (33,2% utilizam a bike todos os sete dias da semana, 15,4%, em seis dias e 32,2%, em cinco dias). 

Em 60,1% dos casos, o trajeto principal feito pelos usuários dura de 10 a 30 minutos. Em 27,8%, de 30 minutos até 1 hora. Já aqueles que levam até 10 minutos ou mais de uma hora pedalando somaram 8,2% e 3,9%, respectivamente.

Outro dado que chama a atenção é que Curitiba tem mais novos usuários que a média brasileira, sendo que 11,6% dos ciclistas começaram a utilizar a bike há menos de seis meses (enquanto 40,7% utilizam a bike há mais de 5 anos). O percentual de novos usuários é um dos maiores do país, atrás apenas de Sorocaba (19,5%) e Brasília (11,8%), e também reflete na idade dos ciclistas curitibanos.

A população mais jovem, com idade de até 34 anos, responde por 64,6% dos adeptos do ciclismo na cidade. A faixa etária mais significativa é a de pessoas com idade de 15 a 25 anos (30,9%), seguida pela faixa entre 25 e 34 anos (29,7%) e de até 14 anos (4%).

De acordo com João Bazzo, coordenador de pesquisa da Cicloiguaçu, o diagnóstico feito a partir do estudo (em especial o tocante à idade dos ciclistas e ao percentual de novos usuários) revela a necessidade de ações de orientação e campanhas de pedal defensivo. 

Prefeitura promete aprimorar a integração da bike com outros modais; Ippuc já teria projeto para esse fim

Um outro dado que o Perfil do Ciclista 2018 trouxe é que apenas 13% dos usuários de Curitiba declararam utilizar a bicicleta em combinação com outro meio de transporte. Na avaliação do Cicloiguaçu, medidas como a implantação de “bike sharing” e “integração modal com coletivo” poderia ajudar a melhorar esse índice, incentivando mais usuários a utilizarem a bicicleta como meio de transporte (o que também aumentaria as viagens semanais).

A Prefeitura de Curitiba já tem se mobilizado nesse sentido, inclusive. No começo deste mês, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) anunciou estar revisando o Plano Cicloviário de Curitiba, com o intuito de integrar este importante componente do transporte multimodal da capital, conectando-o com a rede de ônibus, de forma a melhorar a efetividade do modal.

Nos terminais do Hauer e do Campina do Siqueira, por exemplo, será feita uma reforma (em processo de aprovação de financiamento na Caixa) que resultará na criação de 108 vagas de bicicletários, com vestiário, sanitários, guarda-volumes e serviços de reparos das bicicletas. Já o novo terminal do Tatuquara, em fase de licitação, também terá bicicletário. 

Não se trata de uma questão de economia

O estudo feito pelo Labmob-UFRJ também acabou por quebrar o estereótipo de quem usa a bicicleta tem baixa renda. É que as principais motivações para começar a se utilizar e também para se continuar utilizando a bicicleta como meio de transporte são “rapidez e praticidade”, seguida de “saúde”. O “baixo custo” entra apenas como a terceira principal razão, seguido pela consciência ecológica (“é ambientalmente correto”).

Já o principal problema apontado pelos usuários é a falta de estrutura (44,9%), seguido pela falta de segurança no trânsito (39%) – tópicos correlatos. As outras opções apresentadas no estudo (falta de segurança pública e falta de sinalização) somaram 6,9 e 1,9%, respectivamente.

Dia do Ciclista

Ontem, o Brasil celebrou pela primeira vez de maneira oficial o Dia Nacional do Ciclista. A data, que há anos é lembrada em todo o país pelos adeptos do ciclismo, passou a fazer parte do calendário oficial brasileiro no final do ano passado, após o presidente Michel Temer sancionar uma lei aprovada pelo Congresso Nacional.