Franklin de Freitas – O delegado Matheus Laiola (à direira) com um dos animais que sofreu maus-tratos: crime sem rosto

Quem são as pessoas, ou melhor, qual o perfil de pessoas que costuma incorrer mais frequentemente em casos de violência contra animais? Se você imaginou algum rosto ou pensou em algum estereótipo, saiba que a resposta foi errada. Isso porque, nas palavras do delegado Matheus Laiola, chefe da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), o crime, ao menos no que diz respeito a esse tipo de ocorrência, não tem rosto ou classe social.

“Vai de cada caso concreto. As pessoas pensam que é o ignorante, a pessoa sem estudo, mas não. O crime não tem rosto, não tem classe social. É pessoa rica, pobre, bem instruída, sem instrução nenhuma… Já prendemos gente com mestrado e gente que não sabe escrever o próprio nome”, afirma o delegado de Polícia Civil.

Ainda segundo ele, diferente do que ocorreu com outros tipos de violência, não houve aumento durante a pandemia no número de casos de maus tratos contra animais. Isso, porém, não significa que a delegacia não tenha tido trabalho.

No começo do ano, por exemplo, uma cadela foi encontrada agonizando após uma bomba explodir em sua boca. Semanas depois ela faleceu em decorrência dos ferimentos. Já nesta semana, a DPMA foi atender uma denúncia em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba. Ao chegar ao local, encontraram o cachorro morto e acorrentado ao lado de comida e água podres.

“Temos mostrado casos graves, mas isso sempre aconteceu. Pode ter tido um aumento nas denúncias, mas não no crime”, comenta o delegado, explicando ainda que situações de animal acorrentado são as mais comuns no que diz respeito aos maus tratos. “É uma cultura, infelizmente. E na imensa maioria dos casos deixamos orientação para a pessoa acabar com a corrente ou colocar arames lisos, com uma corrente passando. Também são comuns casos de ausência de alimentação, hábitat adequado, mas tudo sempre relacionado a casos de omissão”, complementa.

Por fim, o delegado ainda explica que, via de regra, a primeira medida a ser tomada pela DPMA é orientar os infratores, ao ponto de 80% das ações serem de orientação. Nesses casos, o infrator recebe um prazo para fazer as adequações necessárias e, passado esse prazo, uma equipe do DPMA volta ao local para conferir as mudanças.

“Na imensa maioria das vezes há a obediência. Quando não há, entendemos que a pessoa está de má-fé e autuamos em flagrante. Em casos mais graves, claro, não tem orientação. Foi essa a situação de hoje [com o cachorro acorrentado e morto], que é prisão na hora. Mas muitas vezes ficamos no limbo. E na dúvida se a pessoa está ou não de má-fé, orientamos para que ela melhore.”

Abandonos e adoções em alta

Durante a pandemia, ainda segundo o delegado Laiola, o que ocorreu de diferente foi um aumento na quantidade de animais abandonados. Ao mesmo tempo, porém, houve um aumento na busca por adoções. “As pessoas estão isoladas, adotaram mais animais para ter uma companhia. Mas não tivemos aumento na questão de maus tratos, como aconteceu nos casos de violência doméstica”, explica.

Ainda segundo o delegado, o número de denúncias tem aumentado, mas isso não significa que o nível da criminalidade esteja em alta. “Damos uma resposta maior e temos capacidade de apurar isso, mas não é porque aumentou a quantidade de denúncia que aumentou o crime. As denúncias aumentam porque as pessoas confiam em nosso trabalho e denunciam. Então aumentou a confiança da população na polícia, é essa a leitura que fazemos”, finaliza.