Franklin de Freitas – Pandemia afetou diversos setores e o da educação não escapou: pior momento

As escolas particulares de educação básica do Paraná registraram uma verdadeira evasão de matrículas nos últimos dois anos, numa situação que obrigou muitas instituições de ensino pelo estado a fechar as portas em meio à pandemia do novo coronavírus.

Segundo dados levantados pelo Bem Paraná com base no Censo Escolar, divulgado recentemente pelo Ministério da Educação, entre o final de 2019 e o final de 2021 o total de matrículas nas instituições de ensino privadas teve queda superior a 12% no estado. Isso significa a perda de mais de 50 mil matrículas da educação infantil ao ensino médio, estando inclusos, também, a educação profissional técnica de nível médio, a Formação Inicial Continuada (FIC) e a Educação Especial no levantamento.

Em 2019, ano anterior ao início da pandemia do novo coronavírus, as escolas particulares de educação básica do Paraná somavam 455.405 matrículas.

Dois anos depois, em 2021 já eram 399.815 alunos matriculados, o que representa um decréscimo de 55.590 matrículas ou ainda uma redução de 12,2%. Com uma debandada tão considerável de estudantes, o número de estabelecimentos privados na educação básica também acabou sendo afetado. Em 2019, havia 2.180 instituições particulares atendendo aos estudantes paranaenses. Em 2021, o número já era de 2.096, com redução de 3,85%.

Em Curitiba, a capital paranaense, o cenário é parecido com o do restante do estado. O número de matrículas nas escolas do município, por exemplo, teve queda de 12,4%, passando de 140.295 para 122.961 no período analisado.

Ao mesmo tempo, o total de escolas particulares da Educação Básica caiu 4,88%, passando de 512 instituições em 2019 para 487 em 2021.

Procurado pelo Bem Paraná, Douglas Oliani, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (Sinepe-PR), destacou que, de modo geral, não apenas as entidades educacionais, mas todos os segmentos da economia foram impactadas no período pandêmico. “Em âmbito escolar, todas sofreram igualmente os impactos do isolamento social. Nas escolas menores, com menor número de alunos, os efeitos foram mais visíveis”, disse.

Já Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners (boutique de investimentos, gestão e fusões & aquisições), que recentemente realizou um estudo que analisou a educação básica brasileira, é ainda mais enfático em sua análise. “Eu não tenho receio algum em dizer que [a pandemia] foi o momento mais doloroso para o setor [da educação]. Nem na década de 1980 ou na reabertura do plano real vimos algo assim. Foi o pior momento na história do setor.”

Escolas menores sofrem mais; grandes redes se fortalecem

Ainda segundo Ricardo Jacomassi, economista-chefe da TCP Partners, a pandemia implicou num grande aumento de custos para as instituições de ensino, que do dia para a noite tiveram de preparar professores, funcionários e material para uma nova realidade com ensino à distância. Essa nova realidade implicou também na compra de equipamentos, que estavam superinflacionados por conta da lei de oferta e demanda. O que acabou acontecendo, então, é que as pequenas e médicas empresas foram as que mais sofreram.

Ao mesmo tempo, aponta o economista, um movimento que vem acontecendo desde 2016 começou a se acelerar: o empoderamento de grandes grupos educacionais, cada vez mais preponderantes na Educação Básica. “É uma tendência que continua e agora começa a se acelerar. Grupos educacionais tem visão de fluxo de caixa e do aluno. Entra na creche, vai pro fundamental, ensino médio, depois ingressa no ensino superior… Ele [grupo educacional] vai ter de 13 a 14 anos de fluxo de caixa, e isso é muito relevante para quem atua na área da Educação. Vemos uma integração maior, outros tipos de ensino orientando essa lógica”, comenta.

Pré-escola, creches e Ensino Fundamental são os mais afetados

O estudo da TCP Partners, que analisou os dados nacionais do Censo Escolar de 2021, revela que entre maio de 2020 e fevereiro de 2022 a educação básica privada perdeu 6.916 escolas (matriz e filial), tornando-se um marco histórico para o setor. O segmento da Pré-Escola foi o mais impactado com fechamento de 16,4%, seguido das Creches (-14,5%), escolas do Ensino Fundamental (-11,3%), e por último, as escolas do Ensino Médio com queda de 5%.

A análise ainda revela que um dos motivos para os cancelamentos de matrículas que afetaram as escolas privadas foi a diminuição da renda das famílias. De acordo com estudo do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) junto com a FGV (Fundação Getúlio Vargas), o brasileiro perdeu em média 9,4% da renda e outros R$14,3 bilhões com mortes causadas pelo vírus. O desemprego atingiu o recorde histórico de 14,9% no pico da pandemia e com gastos com saúde e inflação, muitos brasileiros tiveram que tomar decisões para sobreviver.

Além de lidar com os cancelamentos de matrículas e inadimplência, as escolas tiveram outros custos. Em dois anos de pandemia (2020/21), o preço da energia elétrica para as escolas aumentou 16,07%, os aluguéis indexados pelo IGPM/FGV tiveram alta de 40,9% e os reajustes salariais chegaram a 11,3%.

DADOS

Estabelecimentos privados da Educação Básica

Paraná
2021: 2.096
2019: 2.180
Variação: queda de 3,85%

Curitiba
2021: 487
2019: 512
Variação: queda de 4,88%

Matrículas nos estabelecimentos privados da Educação Básica

Paraná
2021: 399.815
2019: 455.405
Variação: queda de 12,2%

Curitiba
2021: 122.961
2019: 140.295
Variação: queda de 12,4%

Fonte: Censo Escolar – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e Ministério da Educação (MEC)