SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – O Mundial é o maior sonho de Lionel Messi, mas nenhum torneio o fez sofrer tanto pela seleção argentina quanto a Copa América.


O jogador eleito cinco vezes o melhor do planeta tentará exorcizar esse fantasma a partir deste sábado (15). A Argentina estreia na competição às 19h, contra a Colômbia, na Arena Fonte Nova.


No hotel onde a delegação está hospedada em Salvador, o clima não tem nada de similar à tensão vivida pelo elenco no ano passado, durante a Copa do Mundo na Rússia. O time se esfacelou durante o torneio e caiu nas oitavas de final diante da França. Messi passou o torneio cabisbaixo.


No vestiário, após a queda, ele chorou, de acordo com relatos de dirigentes. “A sensação é de estar desabando tudo sobre você”, definiu o camisa 10.


Mas a situação não era uma novidade. A Copa América foi o torneio que mais o fez chorar. Em 2016, com os olhos vermelhos pela segunda derrota consecutiva nos pênaltis na final para o Chile, ele chegou a abandonar a seleção.


“Acho que não é para ser”, disse na época.


Era mais que uma decepção isolada. Era acúmulo de frustrações. Ele havia chorado copiosamente no vestiário em Santiago após também cair nos pênaltis para os chilenos em 2015.


Está na história a noite em que Nicolás Burdisso, zagueiro da seleção na Copa América de 2011, chamou Messi de “pandejo” (idiota, inútil) por não acompanhar o adversário na marcação. Os microfones de TV captaram a frase.


“Pandejo” pode ser uma expressão jocosa. Mas o tom não foi de quem estava brincando.


A Argentina perderia para o Uruguai aquela partida, nas quartas de final (de novo nos pênaltis), o que levou a níveis muito altos as críticas ao atacante dentro do seu próprio país, que sediava a competição.


Messi se recusou a falar com a imprensa depois da partida e deixou o estádio Cemitério dos Elefantes com a expressão de quem havia chorado.


“Leo é sempre emotivo assim. Ele sente muito as derrotas”, disse Carlos Tevez.


O atacante também foi vice da Copa América de 2007, na Venezuela, quando tinha 20 anos. Nem era a peça mais importante do time. Nomes mais experientes o chamavam de “pibe” (garoto).


Hoje em dia, novatos na seleção, como De Paul e Saravia, se referem ao camisa 10 como “fenômeno”.


Messi confessa ter chorado também após a eliminação contra a França, no Mundial do ano passado. Assim como na derrota para a Alemanha, em 2014, no Maracanã. Foram lágrimas diferentes, porém.


Lionel Messi durante treino da seleção argentina Agustin Marcarian – 5.jun.19/Reuters Lionel Messi durante treino da seleção argentina      Na Rússia, tratava-se de impotência e dúvida quanto ao futuro. Por não ter conseguido mudar o destino de uma equipe em que imperou o caos. No Brasil, o motivo foi outro. Era a sensação do que poderia ter sido. Se Messi tivesee feito gol naquela decisão, e não o reserva alemão Götze, a vida do argentino seria outra.


“Mudaria tudo não apenas para mim, mas para a minha geração”, admitiu.


Um dos grandes elogios feitos à preparação para esta Copa América é que ela tem sido tranquila. Isso significa que Messi está em paz no papel de referência do processo de renovação que engloba também o técnico Lionel Scaloni.


O título, além de quebrar o jejum da seleção de 26 anos sem conquistas, lhe daria impulso para pensar no Qatar em 2022.


Lionel Messi sabe que, se a derrota acontecer, só haverá um culpado. O mesmo de 2011, 2014, 2015, 2016 e 2018: ele mesmo.


Javier Mascherano confessou em 2014 estar cansado de “comer merda” pela seleção. “Olhe para Leo. Você acha que ele não merece um título com a camisa da Argentina?”, questionou. Já Messi pode estar cansado de chorar.


ARGENTINA


Armani; Saravia, Otamendi, Pezzella, Tagliafico; Guido Rodriguez, Paredes, Lo Celso, Di María; Messi, Aguero. T.: Lionel Scaloni


COLÔMBIA


Ospina; Arias, Sanchez, Mina, Tesillo; Cuadrado, Barrios, Uribe, James Rodriguez; Falcao García, Muriel. T.: Carlos Queiroz


Estádio: Fonte Nova, em Salvador (BA)


Horário: 19h deste sábado


Juiz: Roberto Tobar (CHI)