Danilo Schleder – Aldebaran (com a camisa cinza) e Márcio (com a camisa azul)

Um advogado de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná, ingressou nesta semana com um curioso pedido na Vara Cível da comarca daquela localidade. Na ação, ajuizada na última segunda-feira (8 de março), Aldebaran Luiz Von Holleben pede para ser reconhecido pela Warner Bros como o “Super-Homem” no Brasil, num episódio que também envolve o Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro.

Para entender a inusitada situação, precisamos primeiro fazer uma viagem no tempo. Mais precisamente, até 1978, ano em que foi lançado “Superman: The Movie”, o primeiro dos quatro filmes do herói da DC produzidos pela Warner Bros e estrelados por Christopher Reeve. Aldebaran, que na época tinha sete anos de idade, virou fã do super-herói após assistir a obra nas telonas. Naquele mesmo ano também começou a acompanhar o time do Flamengo, que na época contava com um elenco estrelado por nomes como Júnior, Carpegiani, Adílio, Zico e Tita, e acabou virando flamenguista.

Em decorrência das novas paixões, o jovem viria a ganhar um uniforme do rubro-negro carioca e um tênis do Super-Homem. E foi assim fardado que ele foi brincar um dia de 1979 na Praça Barão do Rio Branco, na região Central de Ponta Grossa, ocasião na qual sua mãe tirou algumas fotos. Em uma delas, Aldebaran aparece montado num cavalo em um carrossel, em frente a entrada de um “Túnel Fantasma” com uma caveira. Noutra, ele está em uma jaula com dois leões decorativos.

As fotos que fundamentam o pedido de Aldebaran para ser reconhecido como Super-Homem do Brasil. Crédito: Arquivo pessoal

Essas informações são importantes, porque todos os pedidos feitos pelo advogado paranaense têm como ponto fundamental as fotos. Isso porque no final de maio de 1995 Christopher Reeve, o ator que interpretava o Super-Homem, sofreu um acidente de cavalo, ficando tetraplégico (ele viria a morrer em 2004). Dessa forma, defende Aldebaran, as fotografias feita em sua infância passaram a fazer sincronicidade com o acidente, sendo essa sincronicidade compreendida como uma “união de eventos internos e externos de uma maneira que não pode ser explicada por causa e efeito e que seja significativa para o observador”, na definição do psicólogo suíço Carl Gustav Jung.

Conforme ainda explica o advogado em seu site, “Superman Brasil”, essas duas coincidências lhe dariam então o direito de assumir o posto oficial de Super-Homem em terra tupiniquim. “Da mesma forma que Reeve cavalgou em um cavalo e encontrou a figura da morte diante de si, Aldebaran montou em um cavalo e se deparou diante de uma caveira (símbolo da morte) em frente ao túnel-fantasma”, escreve ele. “Só que, enquanto Reeve morre, Aldebaran vive e tem o direito de requerer o título de Superman para o Brasil, assim como a vaga de ator nos filmes com o seu próprio herói ou vilão”, complementa ele.

E o que o Flamengo tem a ver com tudo isso?

A relação com o clube carioca surge em um segundo momento da peça processual. É que quando tirou as fotos, como já citado, Aldebaran estava com o uniforme rubro-negro. Por isso, defende o advogado, o clube poderia se aproveitar comercialmente da situação, passando a ter “as chuteiras do superman” e “compartilhamento de consumidores”, argumenta o advogado, citando ainda que, caso o clube carioca tenha interesse em adquirir e se aproveitar comercialmente das fotos, deverá reconhecer, declarar e divulgar que Aldebaran conquistou “o equivalente a um campeonato mundial para o flamengo em virtude da sincronicidade nas fotos em questão (sic)”.

“Eu alego, basicamente, que o fato de fazer coincidência [entre a foto de 1979 e o acidente de 1995] diz respeito à velocidade. Eu fui mais rápido que o Super-Homem, subi no cavalo, tirei a foto e ele caiu. Eu interpreto que eu derrotei ele. Derrotar um Super-Homem é equivalente a conquistar um Mundial”, explica Aldebaran.

Concorrente ataca: ‘Só existe um Superman em Ponta Grossa’

Como seria de se esperar, o curioso pedido feito por Aldebaran à Justiça logo viralizou nas redes sociais. O que nem todos imaginavam, porém, é que acabaria surgindo uma rivalidade local na disputa pelo título de Super-Homem pontagrossense. Isso porque Márcio Ferreira, ex-secretário municipal de Obras e Serviços Públicos, foi às redes sociais para declarar que “só existe um Superman em Ponta Grossa, e esse homem de aço sou eu”.

“Na realidade, eu tenho algumas coincidências com o Superman. Vim do interior, morava numa fazenda em Ventania. Sempre gostei dos heróis da Marvel e da DC, mas sempre tive afinidade com o Superman”, conta Márcio, que possui ainda mais de 500 miniaturas do icônico personagem e cuja residência exibe uma logo do super-herói no portão de entrada, além de esculturas, canecas, copos, adesivos e outros itens.

Pelas ruas de Ponta Grossa, inclusive, é comum ver Márcio utilizando uma camisa do Super-Homem, o que fez com que o nome do super-herói virasse o seu apelido, na prática. “Sou fã desde 1978. Tenho os filmes, as revistas, sou muito fã mesmo. Duvido que ele tenha 10% das coisas que eu tenho. Acho que já tenho direito [ao título de Super-Homem] por usucapião”, brinca Márcio. “Com certeza vou me tornar [amigo do Aldebaran]. É fã do Superman e flamenguista, como eu”, complementa.

Juíza indefere pedido de Von Holleben

Nesta quarta-feira (10 de março) a juíza Erika Watanabe indeferiu a petição inicia impetrada por Aldebaran, uma notificação judicial na qual o pontagrossense pedia para ser reconhecido como o Super-Homem no Brasil. Na decisão, a magistrada afirma que a prestação jurisdicional presica se apresenta como justa e adequada, o que não seria o caso. Segundo ela, o advogado deveria buscar outros meios para contatar a Warner Bros e o Flamengo para resolver a situação.

Ao Bem Paraná, inclusive, o advogado revelou que ainda não havia sido intimado sobre a decisão de Watanabe, mas garantiu que iria recorrer. Além disso, contou também que mandou uma notificação via cartório que na próxima segunda-feira já deve chegar ao conhecimento das duas entidades citadas no processo.

“Até hoje já entrei em contato com produtoras de cinema no Rio de Janeiro, são Paulo, escolas de ator em Los Angeles, tentei entrar em contato em Nova Iorque, Paris. Nunca consegui resposta, queria que alguém me explicasse porque isso acontece. Nunca ninguém me ensinou sincronicidade”, afirma o advogado. “Se os fãs (do Super-Homem) disserem que querem saber, a Warner vai ter de explicar algo, fazer documentário, revista em quadrinhos. O intuito é comercial, produzirmos a arte para vender”, complementa.

Já para Márcio Ferreira, a notícia de que seu concorrente não é o verdadeiro Super-Homem foi recebida com bom humor. “Eu continuo sendo o verdadeiro Superman. Para quem já enfrentou o Lex Luthor, Darkseide e o Apocalipse, esse advogado, o Aldebaran, foi fichinha”, brinca.