Franklin de Freitas

Mesmo em meio ao crescimento acelerado dos casos de coronavírus – só nos últimos dois dias, por exemplo, foram mais de 520 diagnósticos positivos de Covid-19 -, o estado do Paraná e o município de Curitiba decidiram por flexibilizar as medidas de isolamento social. Nesta semana, academias, shoppings, bares e igrejas foram autorizados a voltar a funcionar por meio de iniciativas diversas, como projetos da Assembleia Legislativa do Paraná, decretos do Governo do Estado, decisões da Prefeitura de Curitiba e também decisões do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR).

Ao mesmo tempo em que a economia retoma a atividade, entretanto, as autoridades tem tratado de sempre reforçar a importância do isolamento social, pedindo para que as pessoas permaneçam em suas casa o máximo possível. Os pedidos, contudo, parecem não estar surtindo efeito, tanto que pela primeira vez desde o final de março o isolamento social permaneceu abaixo de 39% ao longo da semana, conforme dados da empresa In Loco, que considera a geolocalização de celular para medir o porcentual da população que está respeitando as medidas de prevenção ao contágio da Covid-19.

Desde segunda-feira o índice de isolamento no Paraná tem variado entre 37,28% e 38,38%. É a pior sequência de resultados desde o início da pandemia, no final de março – em tempos ‘normais’, sem coronavírus e isolamento social, esse índice costuma variar entre 28 e 30% em dias de semana.

Em Curitiba, capital do estado, o cenário é parecido. Ainda conforme a In Loco, durante toda a semana quase 60% das pessoas circularam normalmente pela cidade. Na quarta-feira (27), pela primeira vez desde o início da crise de coronavírus na cidade o índice de isolamento social ficou abaixo de 39% (38,95%, mais especificamente), enquanto ontem o índice verificado foi de 39,17%.

No estado, cada infectado transmite o vírus para outras três pessoas

No Paraná, cada pessoa contaminada pelo novo coronavírus transmite o agente, em média, para outras três pessoas. É o que revela uma estimativa feita pelo grupo Covid-19 Analytics, formado por professores da PUC-Rio, e que aponta um rápido avanço da doença no Paraná, com a taxa de contágio do vírus tendo saltado nas últimas semanas — em 11 de maio, por exemplo, o número era de 1,42 novas contaminações para cada infectado.

Para conseguir estabilizar a pandemia, a estimativa é que seja necessário uma taxa de transmissão do vírus de 1,0 ou menor — ou seja, que cada infectado transmita a doença para mais uma pessoa, no máximo. Desde o dia 15 de maio, entretanto, a taxa de reprodução do vírus no Paraná está acima de 2,0.

Esse cenário, então, pode se traduzir num avanço rápido no número de casos e de óbitos causados pela Covid-19. Até ontem haviam sido confirmados 3.984 casos da doença no estado, e a estimativa dos pesquisadores da PUC-Rio é que até 10 de junho esse número chegue a 6.783 – um avanço de 70,3%. Já com relação aos óbitos, o Paraná já registrou 169 mortes e até o dia 10 do próximo mês a previsão é que se alcance a marca de 225 — crescimento de 33,1% no total de óbitos em duas semanas, portanto.

Curitiba pode já ter superado a marca de sete mil pacientes contaminados

O número de infectados pelo novo coronavírus no Brasil deve ser cerca de sete vezes superior àquele registrado nas estatísticas oficiais. Foi isso o que revelou o estudo Epicovid19-BR, a primeira pesquisa nacional sobre a doença, coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e financiado pelo Ministério da Saúde.

O estudo, que passou pela primeira das três fases previstas, coletou dados em 133 cidades espalhadas por todas as unidades da federação, realizando mais de 25 mil entrevistas e testes para identificar quem tinha anticorpos contra a Covid-19, ou seja, quem já teve ou têm o coronavírus. No Paraná foram pesquisadas as cidades de Cascavel, Curitiba, Guarapuava, Londrina, Maringá e Ponta Grossa.

Na Capital, menos de 0,5% da população já teve contato com o novo coronavírus. Considerando-se, então, a média nacional de subnotificação identificada pela Epicovid19-BR, chegamos ao número de que aproximadamente 7 mil curitibanos já tiveram contato com o coronavírus.

Questionado sobre em qual situação seria recomendado o relaxamento das medidas de isolamento social, Pedro Hallal, coordenador do estudo da UFPel, explicou que essa flexibilização só deveria acontecer quando a curva de contágio pelo coronavírus estivesse na descendente. “Enquanto isso não acontece, não dá para relaxar as medidas de isolamento. Então eu vejo com preocupação [as medidas de relaxamento neste momento]”, disse em entrevista coletiva.