A busca alucinada pelo padrão estético “ideal“ faz com que muitas pessoas cometam excessos e comprometam a própria saúde. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é país onde mais se consome remédios para emagrecer. Baseada em dados, recentes, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a OMS comprovou que até julho deste ano, somente nas farmácias de manipulação brasileiras, foram comercializadas 170 milhões de cápsulas de remédios para emagrecer.

De acordo com a psicóloga especializada em emagrecimento, Talita Marques, apesar dos aspectos psicológicos intrínsecos à obesidade e ao sobrepeso serem muito divulgados hoje, poucas pessoas sabem que a alimentação saudável esbarra também em questões comportamentais e emocionais que poderiam ser resolvidos de forma mais simples, com acompanhamento especializado. “Muitas pessoas comem de forma errada, ou seja, se alimentam por motivos alheios a função de nutrir o corpo. Isso significa atribuir à comida funções que não podem ser supridas por ela, como aplacar desconfortos, solidão, tristeza, ansiedade e ociosidade”, afirma a especialista.

Para Talita Marques, o primeiro passo para o emagrecimento saudável está relacionado à mudança de pensamento e comportamento em relação à comida, alterando diretamente a forma de se relacionar com a alimentação. “É muito comum que a vida das pessoas com sobrepeso ou dificuldades com alimentação sejam regidas pela comida e não por elas mesmas”, ressalta. “Existem pensamentos de sabotagem que compelem a pessoa a comer, como ‘já que fugi da dieta nesta refeição, volto para ela amanhã’ ou ‘meu dia foi tão difícil hoje, mereço uma pizza’”, exemplifica.

Para emagrecer e manter-se magro – diz a psicóloga, é preciso desenvolver comportamentos magros. Saber quando, quanto e o que comer, assumindo responsabilidade pelo seu processo de emagrecimento, ter objetivos claros e significativos que valham a pena adiar o prazer imediato proporcionado pela comida em prol de objetivos mais importantes, como melhorar sua condição de saúde, gostar mais do seu corpo através de uma silhueta mais esguia, implementar seus relacionamentos e qualidade de vida.

A Psicologia do Emagrecimento vai ajudar a pessoa que tem dificuldades em relação à alimentação a compreender o porquê se comporta de tal maneira diante da comida. Assim, vai perceber quais motivos a levaram a desenvolver os hábitos alimentares atuais, como está seu contexto de vida e o que é necessário modificar para desenvolver comportamentos que corroborem com seus objetivos, sejam eles emagrecer, manter-se magro ou ter hábitos alimentares saudáveis.

Outro obstáculo enfrentado pelas pessoas que sofrem com o excesso de peso é a dificuldade de se manter magro após um tratamento ou regime específico. Segundo a psicóloga, isto ocorre porque, em muitos casos, mesmo após perder peso, as pessoas não conseguem modificar os hábitos alimentares, pois a dieta não ensina a pessoa a se alimentar corretamente, a desenvolver comportamentos magros e a importância da atividade física.

“Perder peso é a parte mais fácil do processo de emagrecimento. É muito comum que após uma eliminação de peso, a pessoa pense que já que está mais magra pode abusar um pouco e acaba voltando a engordar. Outro motivo, é que muitas vezes, continua tendo um comportamento gordo, comendo o que sente ao invés de falar o que pensa. Há também àquelas que passaram por uma dieta muito radical, retirando da rotina alimentos imprescindíveis à alimentação equilibrada, e o que acontece é que as restrições (dietas que excluem carboidratos e gorduras, por exemplo) funcionam como um gatilho para a compulsão, por isso é tão difícil manter uma dieta cheia de proibições”, explica.

RAFCAL

Para superar a barreira da mudança de hábitos foi criado o Rafcal – Programa de Reeducação Afeto-cognitivo do Comportamento Alimentar –, que existe há aproximadamente 10 anos e está ligado à mudança de hábitos alimentares e emocionais. “Durante o programa são conhecidos os motivos que atrapalham o processo de emagrecimento, sendo assim, podemos desenvolver comportamentos magros adequados à realidade da pessoa. O trabalho se dá em parceria com outros profissionais da saúde, visando promover o melhor suporte para o emagrecimento”, conta a psicóloga.

O Programa Rafcal faz com que o próprio paciente se torne autor de seu emagrecimento, aprendendo a se responsabilizar por todo o processo. “Ao utilizar o programa, a pessoa aprende a ter um comportamento magro não mais utilizando a comida para compensar sentimentos bons ou ruins. Isso faz com que ela viva de uma maneira mais feliz e equilibrada”, define.