JULIANA CUNHA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A comunidade científica reagiu mal à perspectiva de ter o bispo licenciado da Igreja Universal e presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, diante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em um eventual governo do vice-presidente Michel Temer.
A professora Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), disse que “tem notícias que é melhor a gente ler e voltar para a cama”.
Para ela, escolha de Pereira não deixa dúvidas de que ministério virou moeda de troca política.
“Nada contra religião, mas não dá para misturar fé com Ciência, isso é um retrocesso imenso. O que precisamos é de uma pessoa empenhada no progresso científico e que tenha conhecimento técnico a nos acrescentar, não de uma pessoa com a uma agenda religiosa. Cada um tem sua crença, porém isso fica de fora da Ciência, que deve ser regida por uma ética própria”, diz.
Nader critica o troca-troca de ministros durante o segundo mandato de Dilma -cinco nomes se revezaram na pasta em pouco mais de um ano-, mas afirma que, apesar da parca durabilidade das gestões, os projetos foram mantidos, assim como a orientação geral do ministério.
“Os ministros [Marco Antonio] Raupp e [Aloizio] Mercadante continuaram ajudando a pasta mesmo quando deixaram o gabinete. O ministro Aldo [Rebelo], em que pese as grandes discordâncias que já tivemos, é um sujeito sério e que batalhou pelo fortalecimento do ministério. O [Celso] Pansera não tem nada a ver com Ciência, mas pelo menos manteve boa parte do que vinha sendo feito”, afirmou.
Para Nader, quem “tesourou” as iniciativas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação durante o governo Dilma foram os ministérios da Fazenda e do Planejamento.
“Eu não tenho do que reclamar da presidente Dilma, mas a deterioração do financiamento científico durante o governo dela é responsabilidade dos ministros da Fazenda e do Planejamento, os atuais e os anteriores. Foram eles que podaram todas as tentativas de ampliar a pesquisa, com seu entendimento economicista de que inovação é gasto. São pessoas interessadas em fechar as contas, não em um projeto de país”, disse Nader.
Já o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis, evitou comentar o fato de o possível futuro ministro ser bispo. “O que esperamos é que a pessoa a ser indicada para o ministério esteja afinada com a comunidade científica e tecnológica, independentemente de quem seja”, afirmou.
Para Palis, “o MCTI é extremamente importante para o desenvolvimento da ciência em benefício da sociedade, por isso é importante que o novo ministro seja o mais qualificado possível e dialogue bem com a comunidade. Ao ter a confiança da comunidade e do governo, o ministro terá durabilidade no cargo. O importante é a preservação do MCTI e dos bons funcionários do Ministério”, concluiu.
Procurada, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) não quis se posicionar sobre o assunto.