A polarização dos discursos e uma campanha eleitoral constante, como se já estivéssemos em período de eleições, têm provocado uma certa inércia na população, pois debates civilizados sobre maneiras de ver o mundo não mais existem, agora é briga mesmo, quando não violência.

O totalitarismo dos posicionamentos, tanto entre aqueles que se dizem de direita quanto aos que se declaram de esquerda, tem levado a cancelamentos, ofensas, ameaças e muitas vezes às vias de fato, o que representa um absurdo em pleno século 21.

Tem sido difícil assistir ataques cruéis e desrespeitosos desferidos por ambos os lados a opiniões mais equilibradas ou até conservadoras, intituladas comunistas por um dos lados e fascistas pelo outro, “isentonas” pelos dois. É como se existisse uma única verdade, difundida em pequenos grupos de WhatsApp em que todos pensam exatamente da mesma forma, onde a divergência é punida com palavras de baixo calão, comentários maldosos ou intimidações, inclusive a familiares.

Hoje não temos candidatos, temos ídolos, reputados infalíveis e modelos de virtudes, por mais absurdos que sejam seus comportamentos ou os de seus asseclas.

Nenhum regime político que envolva o poder absoluto centrado em uma ou poucas pessoas escapa de erros mortais, de grandes assassinatos e barbaridades, tanto à direita quanto à esquerda.

Como exemplo, a Revolução Cultural Chinesa foi um movimento sociopolítico liderado por Mao Tsé-Tung, entre os anos de 1966 e 1976, para impedir que qualquer interferência capitalista fizesse frente ao poder de Mao no governo e no Partido Comunista chinês. Nesse período os integrantes promoveram massacres contra opositores e todos aqueles considerados inimigos do comunismo, ou seja, capitalistas. Isso incluía professores, médicos, literatos, músicos e todos aqueles um pouco mais cultos e refinados; o verdadeiro objetivo era restaurar a credibilidade comunista, desgastada após o fracasso do programa econômico “Salto para Frente”, que matou de fome milhões de chineses, ou seja, modelo  de como se pode projetar um péssimo programa para promover o esquecimento de outro também horroroso.

Neste mesmo segmento ideológico o Holodomor, ocorrido no início dos anos 1930, a morte por inanição ocorrida em grande parte da população da Ucrânia durante a coletivização forçada dos campos agrícolas daquele país, então sob domínio da União Soviética liderada do Joseph Stalin; foi um massacre de proporções épicas, comparável com a Guerra do Afeganistão iniciada no final da década de 1970, conflito civil iniciado pela União Soviética em que se estima que o número de civis mortos foi de muitos milhares.

Entre as barbáries cometidas pelos totalitarismos europeus de direita são também inúmeros os exemplos, entre eles o Holocausto dos judeus pelo nazismo, em que milhões foram mortos não por terem feito algo, mas sim por serem quem eram, ou seja, não serem “nós”. Não houve limites para a tortura, a morte indiscriminada, a eliminação dos diferentes, fossem eles adultos ou crianças. Judeus, ciganos, homossexuais, crianças com deficiências, mortos para “purificar a raça”. Não satisfeitos, foi preciso também impor uma forma de arte considerada adequada aos arianos: como em 1907, Adolf Hitler havia sido rejeitado na Academia de Belas-Artes de Viena, por ausência de talento, trinta anos depois, já líder da Alemanha Nazista, deflagrou a maior ação contra a arte modernista, denunciada como degenerada, e tomou várias atitudes contra manifestações artísticas consideradas impróprias, perseguindo e prendendo professores, artistas e curadores que se identificavam com o não oficial.

Um pouco mais tarde, a Guerra do Vietnã, dando sequência a guerras de libertação contra a colonização francesa, foi assumida pelos EUA com o pretexto de conter a disseminação do comunismo, durou 20 anos e calcula-se a perda de cerca de três milhões e duzentas mil vidas. Mantida por anos após a certeza de que estava perdida, às custas das vidas de milhares de jovens americanos, devastação territorial vietnamita, agricultores e outros civis, comunistas e não comunistas, apenas para que dirigentes militares e políticos norte-americanos não precisassem confessar publicamente a impossibilidade de ganhar.

Regimes radicais de direita e esquerda atrasaram em décadas a educação de seus povos, única possibilidade real de evolução e desenvolvimento.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.