Franklin de Freitas

A audiência pública “Emergência Hídrica e o Abastecimento de Água na Região Metropolitana de Curitiba”, na Assembleia Legislativa, escancarou a gravidade da crise hídrica que assola o Paraná e com mais intensidade Curitiba e Região Metropolitana e apontou que ela deverá se prolongar pelo menos até o verão de 2021/2022. O diagnóstico unânime entre os participantes da audiência é que esta crise hídrica prolongada é consequência da falta, no presente e no passado, de políticas públicas ambientais de preservação das nascentes, dos riachos e dos rios. Consequência da falta de proteção aos remanescentes florestais e do crescimento descontrolado dos desmatamentos. E também da falta de políticas públicas efetivas de controle da ocupação do solo nos centros urbanos e em áreas rurais.

“A gente só vai ter água se tiver política pública ambiental. Se tiver política pública de preservação. Se tiver política pública urbana e habitacional efetiva. E se todos tiverem consciência da importância desde recurso que é a água”, disse o deputado estadual Goura (PDT-PR), presidente da Comissão de Ecologia, Meio Ambiente e Proteção aos Animais da Alep. “Todos temos responsabilidade nesta situação, mas cabe ao Estado, ao Executivo, e ao Legislativo também, fazer cumprir a legislação e melhorá-la se for o caso, e efetivar as políticas públicas para reverter essa situação”, completou Goura.

“A água é um bem público e um direito humano fundamental à vida. Um bem finito e vulnerável que está cada vez mais ameaçado. Temos que agir para fazer um uso realmente sustentável da água”, afirmou.

Situação grave

O diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Julio Cesar Gonchorosky, foi explícito ao falar do problema da escassez de água em Curitiba e Região Metropolitana. “A situação é extremamente grave”, alertou ele. “E temos que nos preparar para o pior cenário.”

Ele foi enfático ao dizer que não é alarmismo e que mesmo tratando o problema de forma contida não se pode negligenciar o tamanho do problema e a sua persistência ao longo do tempo. “Se não tomarmos as medidas necessárias, mesmo que duras, hoje não teremos água no futuro próximo.”

Confira, abaixo, a apresentação do diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar:

Rodízio no abastecimento

O diretor da Sanepar disse que Curitiba e Região passa, a partir desta sexta-feira (14) por um novo modelo de rodízio no fornecimento de água, quando a população ficará um dia e meio sem água e um dia e meio com água.

“Antes dessa medida 750 mil pessoas ficavam sem água por um período de 12 horas. Agora serão 1,2 milhão que ficarão sem abastecimento em um período de 36 horas”, informou. Segundo ele, a situação também não vai melhorar sem a colaboração da população. Consulte aqui se o seu imóvel está em área prevista para rodízio.

Meta 20%

“Se não diminuirmos o consumo teremos mais escassez. Estamos lançando uma campanha de meta de redução de 20% no consumo. Se as pessoas economizarem, poderemos estabilizar nossa situação até o início de 2021”, recomendou Gonchorosky.

Segundo ele, esses 20% equivaleriam a 100 milímetros de chuva e o que representaria um mês de reservação. “Quer dizer que se conseguirmos a meta de 20% em um mês manteremos os níveis dos reservatórios, que atualmente em 28,85% do total.

Clique na imagem abaixo e veja as dicas da Sanepar para economizar água:

Preservar a Serra do Mar

Tanto o diretor da Sanepar como José Álvaro Carneiro, ex-superintendente do Ibama no Paraná e atual presidente do Complexo Pequeno Príncipe, disseram que sem a preservação da Serra do Mar, das florestas e mananciais, não haverá água para abastecer Curitiba e Região.

“A crise hídrica é uma consequência. Desde o tombamento da Serra do Mar, em 1986, já se colocava a ocorrência de crises hídricas e a necessidade da manutenção da serra para a garantia do abastecimento de água de Curitiba e Região Metropolitana”, destacou Carneiro.

Ele cobrou um engajamento maior das autoridades públicas, principalmente do Executivo, para enfrentar a crise hídrica. “O governador, o presidente da Sanepar e o secretário de Desenvolvimento Sustentável têm que assumir suas responsabilidades e atuar efetivamente para mudar este cenário.”

Confira, abaixo, a apresentação do presidente do Complexo Pequeno Príncipe:

Políticas inclusivas

Uma das falas que provocou mais reações durante a transmissão da audiência foi da coordenadora geral do Instituto de Comunicação Solidária Moema Viezzer, que atua como educadora popular. “É necessário pensar em políticas públicas participativas, sair de soluções tecnocráticas e adotar as que incluem a todos”, criticou.

“Cada um tem que fazer a sua parte. A gente tem que ter clareza do que está acontecendo. A crise não vem do nada. Ela é resultado da ação do ser humano. Esse momento é de importância fundamental para fazermos aprendizados”, disse.

Água não é mercadoria

“A água não pode ser considerada como mercadoria. Há necessidade de uma transformação da relação com a água resultante de uma educação ambiental”, concluiu ela.

Outros participantes

Também participaram da audiência o deputado estadual Professor Lemos (PT); Everton Souza, presidente do Instituto Água e Terra (IAT); o presidente da Coordenação da Região Metropolitana (Comec), Gilson Santos; a bióloga da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Dailey Fischer; os representantes do Departamento de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Prefeitura de Curitiba, Ibson Gabriel Martins de Campos e Ana Carolina Schimidlin; Natasha Hessel de Góes, do grupo criado no Instituto Água e Terra para regulamentar o uso racional da água; Regina Tiemi, professora da Universidade Federal do Paraná; o vereador de Curitiba, Dalton Borba e pelo Ministério Público do Paraná, falou o promotor da Promotoria de Meio Ambiente, Leandro Assunção.