SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os Estados Unidos estão enviando ajuda humanitária à cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a Colômbia, onde os materiais ficarão armazenados até que possam ser entregues à população, segundo funcionários do governo americano ouvidos pela agência Reuters.


No mesmo dia, parlamentares da oposição venezuelana pediram que os militares do país deixem entrar a ajuda. “Vocês sabem que há uma linha vermelha, sabem muito bem que há um limite, que remédios, alimentos e insumos médicos são essa linha vermelha”, disse o deputado Miguel Pizarro, que afirmou que se os militares bloquearem a entrada da ajuda se criaria um cenário “em que todos vamos lamentar”.


O parlamentar também afirmou que a oposição dará mais detalhes sobre a entrada da ajuda humanitária quando ela começar a chegar à fronteira.


Caminhões com ajuda humanitária vão chegar a Cúcuta nesta semana e os mantimentos ficarão perto da fronteira à espera de condições para que sejam distribuídos na Venezuela, segundo um funcionário do governo americano.


Manter ajuda humanitária em pontos de fronteira por semanas ou meses enquanto funcionários negociam com regimes ou países como ocorrerá a entrada dos mantimentos é comum, dizem especialistas ouvidos pela Reuters.


Mas não está claro como a entrada da ajuda aconteceria sem a autorização do ditador Nicolás Maduro e sem a cooperação dos militares venezuelanos, que, até agora, têm se mantido leais ao regime, salvo exceções pontuais.


O braço venezuelano da organização internacional Cruz Vermelha, que tem experiência em operações humanitárias, disse que não foi notificada sobre as condições de entrega da ajuda nem sobre no que ela consiste. A ONG também disse que não vai participar da entrada da ajuda no país: “não é nossa função”, disse Mario Villarroel, presidente da organização na Venezuela.


Já Franklin Graham, da organização evangélica Samaritan’s Purse, que presta auxílio a migrantes venezuelanos em Cúcuta há três anos, diz que os grupos humanitários não têm acesso ao território venezuelano. “Não sei como vão fazer isso [entrar com a ajuda] até que a situação política mude”, afirmou ele. “O governo da Venezuela precisa abrir as fronteiras e deixar os comboios de alimentos entrarem, abrir os aeroportos e deixar entrar os voos com comida.”


Maduro tem, no entanto, rejeitado todas as propostas de ajuda humanitária. “Não somos pedintes. Você quer humilhar a Venezuela, eu não deixarei nosso povo ser humilhado”, disse o ditador na segunda-feira (4).


O mandatário vinha negando o auxílio internacional sob os argumentos de que não há crise na Venezuela e de que a entrada de ajuda internacional serviria como pretexto para disfarçar uma intervenção militar no país por parte dos EUA.


No sábado, o líder opositor Juan Guaidó havia dito que ajuda humanitária chegaria para o país nas fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia e em uma ilha não identificada no Caribe, sem dar detalhes. Em entrevista à Folha na semana passada, ele havia dito que esperava ter apoio do governo de Jair Bolsonaro para a entrada de ajuda humanitária na Venezuela. 


Nesta terça-feira (5), a Comissão Europeia anunciou que enviaria ajuda de EUR 5 milhões a mais para enfrentar a crise na Venezuela.


“Aumentamos nossa ajuda de emergência para os mais vulneráveis que não têm acesso a alimentos, remédios e serviços básicos, e que se viram obrigados a deixar suas casas”, declarou Stylianides.


A ajuda humanitária inclui a prestação de cuidados de saúde de emergência, educação, acesso a água potável e saneamento, bem como as necessidades de proteção, abrigo, alimentação e nutrição, disse a Comissão.


A Venezuela vive uma grave crise econômica, com hiperinflação, desnutrição de parte da população por falta de alimentos e colapso do sistema de saúde, que causou emigração em massa – mais de 2,3 milhões deixaram o país desde 2015, segundo a ONU.


Do lado político, Maduro enfrenta uma pressão interna e externa cada vez maior. Em janeiro, Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, fez juramento como presidente encarregado do país, sob o argumento de que as eleições que deram novo mandato a Maduro (até 2025) foram fraudadas. Mais de 30 países já reconheceram o líder opositor como legítimo, entre eles o Brasil, os EUA, os principais países europeus e vários latino-americanos.


Guaidó defende que Maduro deixe o poder e se propõe a fazer um governo de transição até que sejam feitas novas eleições presidenciais.


Também em janeiro, os EUA bloquearam bens da estatal PDVSA e impuseram limites aos negócios de empresas americanas com a petroleira, em um esforço para cortar uma importante fonte de recursos do regime, a venda de petróleo.