NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – O número de crianças imigrantes separadas dos pais ao tentar entrar nos EUA pela fronteira com o México pode ser muito superior ao informado pela administração de Donald Trump, segundo relatório de uma agência do governo divulgado nesta quinta (17) e que indica que a diferença pode ser de milhares.


O levantamento, de 24 páginas, mostra que as separações já vinham ocorrendo antes de o governo anunciar formalmente a política de tolerância zero, em abril do ano passado. A medida determinava que pais e filhos flagrados tentando entrar irregularmente nos EUA deveriam ser separados, como uma forma de desestimular futuros imigrantes ilegais.


Cerca de 3.000 crianças teriam sido separadas dos responsáveis após a adoção da política.


Nesta quinta, relatório da Inspetoria Geral do Departamento de Saúde e Serviços Humanos americano (HHS, na sigla em inglês) revelou que houve um aumento das separações familiares já a partir de meados de 2017.


Baseado em dados disponíveis, essas crianças eram 0,3% dos menores desacompanhados levados para a custódia do HHS no fim de 2016, ainda na administração do democrata Barack Obama. Em agosto de 2017, o percentual havia subido para 3,6%.


Ao menos 118 crianças separadas dos pais foram enviadas pelo Departamento de Segurança Doméstica para o HHS para cuidados entre 1º de janeiro e 7 de novembro de 2018.


“Mais crianças por um período maior de tempo foram separadas por autoridades de imigração e enviadas ao HHS para cuidados do que é discutido comumente nos debates públicos. Quantas crianças mais foram separadas não se sabe”, afirmou Ann Maxwell, inspetora assistente do departamento.


Segundo a agência, não foi possível identificar quantas crianças mais foram separadas porque houve “desafios para identificar as crianças separadas.”


Oficiais da agência, entretanto, estimam que sejam milhares, baseando-se em entrevistas com funcionários do HHS. “Não houve esforço iniciado para identificar essas crianças”, acrescentou Maxwell.


O Departamento de Segurança Doméstica diz que as separações continuam ocorrendo em casos nos quais os pais têm histórico criminal ou em que há preocupações médicas.


“Mas, em alguns casos, o DHS forneceu informação limitada ao HHS sobre as razões para essas separações”, disse a inspetora.


A porta-voz do HHS Evelyn Stauffer respondeu ao relatório e disse que o departamento está “comprometido com informações transparentes e precisas” sobre o programa de menores desacompanhados. Afirmou ainda que era bem-vinda a oportunidade de cooperar com a investigação.


O relatório faz parte de uma série que o escritório do HHS pretende publicar neste ano para jogar luz sobre o sistema de saúde do governo para menores imigrantes desacompanhados, a maioria dos quais entra nos EUA a partir da fronteira com o México.


Em junho do ano passado, em meio à reação negativa que a separação de famílias gerou nos EUA e no exterior, o presidente Donald Trump ordenou o fim da política. Um juiz federal havia determinado que todas as crianças e seus responsáveis fossem reunidos até 26 de julho. Mas, em dezembro, ainda havia 2.737 menores separados das famílias no país.