SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por essa a esquerda brasileira não esperava: que justo Evo Morales, um tradicional aliado progressista, tenha dado de bandeja o terrorista italiano Cesare Battisti ao governo de seu país natal.


Uma “grande traição”: é o sentimento do dirigente sindical Magno de Carvalho, um dos últimos a falar com Battisti por telefone, ele e o vereador Eduardo Suplicy (PT), segundo rastreamento da polícia (o aparelho está na mão de investigadores italianos).


“Queria deixar bem claro: pra mim, e não só pra mim, o que Evo fez foi uma grande traição. Em outros momentos, ele teve uma posição favorável [a Battisti]”, disse à reportagem.


A opinião ecoa o que sites esquerdistas vêm alardeando sobre o presidente boliviano, em artigos de títulos como “Evo Morales se comportou como um capacho do fascismo italiano e brasileiro” (Jornalistas Livres), “Governo Evo Morales passou recibo de subalternidade e covardia” (Diário do Centro do Mundo) e “Entregar Battisti foi uma traição à luta contra a direita fascista” (Diário da Causa Operária).


Se a posição de Evo causou espanto, não se pode dizer o mesmo da captura e extradição do ex-militante do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) condenado em todas as instâncias pela morte de quatro pessoas, num julgamento que setores da esquerda veem como fraudulento.


Segundo Magno, nas últimas conversas que tiveram, Battisti apostava que “ele seria preso e extraditado”. Jair Bolsonaro, afinal, acabara de ser eleito -e jamais escondeu a vontade de vê-lo em cana.


O plano de apostar todas as fichas no STF (Supremo Tribunal Federal) foi por água abaixo quando, no dia 13 de dezembro, o ministro Luiz Fux determinou sua prisão para fins de extradição. Na decisão, Fux afirmou que Battisti ter um filho brasileiro não bastava para segurá-lo no país.


Magno diz que uma coisa o amigo dava como certa: se fosse enviado à prisão italiana, de lá não sairia vivo. “Ele mesmo dizia: ‘Se volto pra Itália, os caras deixam passar uns meses, depois tentam matar'”.


Ele estaria jurado de morte por uma associação de carcereiros, afirma o sindicalista. Uma das vítimas de Battisti era um agente penitenciário.


Eduardo Suplicy, por mensagem direto da Inglaterra (onde participou da Conferência Sobre a História Intelectual da Renda Básica), disse que há “muitos meses ” não fala com o amigo italiano.