Franklin de Freitas – David Pizzato na Forum Academia

O curitibano David Pizzato, 43 anos, tem muitas histórias para contar. E algumas delas carregam dor e sofrimento. Todas, porém, trazem um final feliz. Não que a vida e a carreira do goleiro sejam ‘contos de fadas’. Nada disso.

Em entrevista para o Bem Paraná, Pizzato conta como venceu o câncer em 2021, como foi seu início no futsal — junto com Alex, Ricardinho e Tcheco, sua história no Coritiba e a inusitada participação em um programa de TV com Silvio Santos. Para completar, conta sobre seu trabalho de conclusão de curso, em Educação Física, na PUC, com o tema: “Como encerrar a carreira no futebol”.

Bem Paraná — Qual foi seu primeiro contato com o futebol?
Pizzato — Comecei em 87 no futsal. Tinha 9 anos. O Alex fazia parte do nosso time na época. A consequência de ir para o campo foi por intermédio dele. O professor Miro me convidou também para o campo. Então jovaga futsal na AABB e campo no Coritiba, no Infantil. E daí foram três anos no Paraná Clube, com Ricardinho e Tcheco. Tivemos momentos bacanas na base do Paraná. Em 97, retornei para o Coritiba, nos juniores, a convite do professor Nedo. Fiquei ali por quatro meses. E em 97 subi para o profissional, com o Rubens Minelli.

2 – Como foi o período de categorias de base?
Pizzato — Tive muitos amigos. Foi uma época que revelou muitos jogadores bons, tanto no Coritiba como no Paraná. Joguei na AABB e no Paraná futsal. Meu último ano no futsal, em 1994, foi pelo Athletico Paranaense e fomos campeões brasileiros. Em 1995, tive que optar pelo futsal ou campo. E optei pelo campo. Minha categoria de base foi excelente, muitos títulos, tanto no campo como no salão.

3 – E como foi sua carreira profissional? Quais maiores desafios e melhores momentos que você viveu?
Pizzato — Comecei no Coritiba. Professor Minelli era o treinador, com o Carlinhos Neves. Tinha 18 anos, ainda tinha mais dois anos de juniores, mas já era o terceiro goleiro. Às vezes, eu descia (para os juniores) para um jogo importante, como Copa São Paulo. No segundo ano, era reserva do Régis. Tive o prazer de jogar alguns jogos. Acabei sendo negociado para fora, na Europa. Tive ótimos momentos, tive momentos ruins. Tive lesão no joelho, que me atrapalhou. A gente sabe nossos limites. Em 2008, aos 30 anos, resolvi parar. Terminei a minha carreira no Avaí. Meu corpo já não estava conseguindo acompanhar o ritmo de jogador profissional. Mas tenho só que agradecer a toda minha carreira, clubes que passei, lugares que morei, experiências vividas. Acredito que tive mais momentos bons do que ruins.

4 – Qual situação mais inusitada que já viveu no futebol?
Pizzato — Um caso engraçado. Quando estava no Coritiba, eu era o segundo goleiro. Na época, o Régis, que era titular, ele recebeu convite para participar do programa Gol Show, do Silvio Santos, ao vivo no domingo. Ele chegou pra mim e perguntou: ‘Pô, Pizzato! Não quer quebrar o galho para mim? Vai lá no Silvio Santos’. Eu fui. Acabei achando legal, conhecer o programa, o Silvio Santos, e acabei tendo o convite de ir mais uma vez lá. Foi engraçado na época.

Clique aqui para ver a participação de Pizzato no programa.

5 – Como foi a decisão de parar com o futebol profissional?
Pizzato — Não foi fácil parar. Muitos anos dedicados à profissão. E você pensa como lidar com a situação nova. Resolvi me programar, retornando à faculdade de Educação Física. Me formei na PUC. Comecei a trabalhar na carreira de personal trainer. Vivo nas academias do Cabral e no Graciosa. Tô morando em Curitiba, minha cidade natal. Minha vida está assim hoje. Levanto muito cedo, começo às 6 horas. E meu dia termina às 8 da noite. É uma profissão que eu admiro, que eu gosto.

6 – Como foi a luta contra o câncer?
Pizzato — Foi o maior desafio da minha vida. Acabei descobrindo a doença, câncer no pescoço, esse ano, em março. Eu estava na praia, normal, sem sintoma nenhum. Fui fazer a barba e senti um caroço no pescoço. Descobri que era um câncer maligno. Me pegou de surpresa, porque eu sempre fui um cara que me cuidei e nunca fumei. Mas aconteceu comigo. E tive que encarar o tratamento, um tratamento muito difícil. Tive que fazer operação, alguns ciclos de quimioterapia e radioterapia. Durou aproximadamente até setembro. Passei por momentos muito difíceis. Tratamento tem essa agressividade. A gente teve ajuda familiar para poder dar essa base. E a fé em Deus, porque é tudo para a gente, para que a gente possa enfrentar os obstáculos. A maior prova dessa fase foi que a saúde é a coisa mais importante que a gente. Não adianta ser famoso e ter dinheiro se você não tem saúde. E senti na pele. Teve momentos que eu não conseguia sair do sofá, sair da cama. Estava muito fraco, prejudicado com a medicação. Eu queria voltar a trabalhar e jogar a bolinha com os amigos. A segunda lição de vida que tive esse ano a gente deve valorizar as pessoas que gostam de você, que realmente se importam com você. Quando tá tudo bem, quando as coisas estão fáceis, aí chega amigo de tudo que é lado. Mas na hora do ‘pega para capar’ a gente sabe quem são as pessoas que ficam do nosso lado. Acabei me supreendendo positivamente como negativamente. Pessoas que eu jamais imaginaria me ajudaram. E pessoas que eu contava me abandonaram. E hoje graças a Deus estou recuperado.

7 – Que pergunta que você sempre quis responder e nunca te fizeram?
Pizzato — Foi o tema do meu trabalho de finalização da faculdade. O tema foi ‘como encerrar a carreira de futebol’. Até então eu tinha algumas indefinições do que eu seria. E nunca me fizeram essa pergunta, nunca me prepararam para o futuro. E acho que os clubes de futebol devem se preocupar com o jogador na hora de encerrar a carreira, preparar ele para o futuro. Entrevistei 30 jogadores. Dez foram muito bem sucedidos, como carreira e financeiramente. Outros medianos e alguns que não tiveram oportunidade e encerraram a carreira bem cedo. Fiz a pergunta se algum clube tinha feito alguma preparação para esse atleta parar de jogar. Nenhum teve alguma orientação. O futebol ajuda com algumas coisas, mas não te prepara para a vida normal. E isso a gente acaba sentindo. A gente não mais aquele glamour de sair na TV, fãs… e alguns jogadores acabam sentindo. Ele tem que ter a consciência que, sendo uma pessoa normal, ele tem que se adequar ao mundo. É o que eu fiz. Procurei fazer faculdade e trabalhar em um ramo que tive experiência durante toda vida inteira. As pessoas devem fazer aquilo que realmente entendem. Acredito que os clubes podem orientar essas pessoas, porque muitos não têm orientação, não têm uma pessoa amiga fazer com que ele se encaminhe na sequência de vida. Isso vai fazer bem tanto na questão financeira como emocional. Tem que ser tratado com carinho essa sequência de vida do jogador.