O general Salvador Cienfuegos, ex-ministro de Defesa do México, foi preso na sexta-feira, 16, no aeroporto de Los Angeles, nos Estados Unidos. O Departamento de Justiça informou que o general, identificado como “El Padrino”, responderá por quatro acusações de narcotráfico.

A prisão de Cienfuegos, que fez parte do gabinete do presidente Enrique Peña Nieto, de 2012 a 2018, foi anunciada no Twitter pelo chanceler mexicano, Marcelo Ebrard. Segundo ele, após uma audiência inicial, o general será transferido para Nova York, onde será julgado.

A prisão se tornou um escândalo no México, um país já acostumado à promiscuidade entre Estado e crime organizado. Em dezembro, Genaro García Luna, ex-secretário de Segurança do governo de Felipe Calderón, foi preso em Dallas por ligações com o cartel de Sinaloa.

A prisão de Cienfuegos, porém, tem um tom de ineditismo. Desde que Calderón decretou guerra às drogas, em 2006, colocando os militares para combater os cartéis, as Forças Armadas entraram na linha de frente do conflito, colaborando com os americanos e executando narcotraficantes. Até então, a corporação era considerada imune à corrupção – a prisão do general ajuda a acabar com essa fábula.

Falko Ernst, analista do Grupo de Crise Internacional, disse que oficiais destacados em algumas partes do país são conhecidos por fechar acordos com cartéis. “Este mito da limpeza e incorruptibilidade das Forças Armadas nem sempre condiz com a realidade”, disse.

A trajetória do general sempre foi cercada de suspeitas. Nos anos em que esteve à frente do ministério, seu patrimônio quintuplicou. Ele teria mais de US$ 1 milhão em contas bancárias, segundo documentos oficiais.

A prisão ocorre no momento em que Donald Trump pressiona o México a tomar medidas mais duras contra o narcotráfico. O país é fonte de quase todos os opioides que entram nos EUA e a principal rota de entrada de cocaína.

Em setembro, Trump disse que o México “deveria demonstrar claramente seu compromisso com o desmantelamento dos cartéis” e trabalhar mais para apreender os produtos químicos usados na produção de drogas, principalmente do fentanil, um derivado do ópio.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, sempre criticou a “guerra às drogas” lançada por seus antecessores, usando a prisão de García Luna para argumentar que a estratégia era uma farsa. Agora, a prisão do general Cienfuegos pode corroer ainda mais o apoio popular à militarização do combate ao narcotráfico e das iniciativas apoiadas pelo governo dos EUA.

Obrador deu continuidade à cooperação com os EUA no combate ao crime organizado e manteve os militares na linha de frente, mas pediu um maior enfoque nos gastos sociais para evitar que os jovens sejam atraídos pelos cartéis. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.