Divulgação/FC Cascavel/Felipe Fachini – Tcheco comanda treino no FC Cascavel

O curitibano Anderson Simas Luciano, o Tcheco, é um fã declarado de Jürgen Klopp, Alex Ferguson e Bobby Robson. Em entrevista para o Bem Paraná, ele revela que pretende aplicar os conhecimentos do futebol inglês e a experiência de nove anos de futsal na sua carreira de treinador. E não deixa de mencionar treinadores brasileiros, como Rubens Minelli e Luxemburgo.

Aos 44 anos, Tcheco começa 2021 comandando o FC Cascavel, terceiro colocado do Paranaense 2020. A boa campanha do ano passado rendeu vaga na Copa do Brasil e na Série D do Brasileiro. Com um calendário recheado, o novo técnico espera mostrar a mesma genialidade que exibia dentro de campo. Mestre da bola parada, o então meio-campista conquistou três títulos estaduais e uma vaga na Libertadores com o Coritiba. Participou também dos dois vices da Copa do Brasil (2011 e 2012). Pelo Grêmio, ganhou dois estaduais e esteve em uma final de Libertadores. Também colecionou seis títulos pelo Al-Ittihad, na Arábia Saudita.

Na entrevista, ele fala sobre 2021, sobre o peso da bola parada no futebol, o aprendizado no futsal, o trabalho com novatos, a formação como técnico e a origem do curioso apelido.

Bem Paraná – O que te atraiu na proposta do FC Cascavel?
Tcheco — O que me atraiu no FC Cascavel, acima de tudo, foi a estrutura que o clube tem, que oferece para o treinador, o planejamento da equipe e a organização. Antes de assinar, eu visitei o clube para ter conhecimento e se certificar de tudo isso. Foi um dos fatores que me atraiu. E o calendário é muito interessante e importante também.

BP — O FC Cascavel fez uma boa campanha em 2020. A base do elenco de 2020 foi mantida? Algum reforço ‘de peso’ na pauta?
Tcheco — A diretoria manteve praticamente 85% do elenco. Uma base, uma base importante, que fez um excelente campeonato paranaense e um bom campeonato também da Série D. O clube almeja um acesso, então dentro de algumas carências que o time tem, estamos buscando algumas contratações, mas são contratações pontuais.

BP — Como foi sua preparação para ser treinador? Quais cursos e estágios fez? No futebol atual qual a importância dos estudos, da formação?
Tcheco — Assim que eu parei tive uma permanência no Coritiba por cinco anos como auxiliar técnico. Isso me fez pegar uma boa cancha com os treinadores que foram passando por lá. Costumo dizer que foi um estágio privilegiado. Junto com isso acabei fazendo a licença B e estou terminando a licença A da CBF. Só não terminei por causa da pandemia. Fiz alguns intercâmbios na Europa, um outro tipo de escola. E sempre vou encontrando por aí alguns palestrantes, que são úteis para nossa formação. É importante ter esse tipo de conhecimento pra você se aprimorar cada vez mais em seu mercado e nas suas convicções também. Então acho que fui bem respaldado antes do meu conhecimento como atleta. E agora tentar colocar em prática nesse mundo dos treinadores.

O auxiliar Zé Luís e o técnico Tcheco em treino do FC Cascavel (foto: Divulgação/FC Cascavel/Felipe Fachini)

BP — Quais eram seus técnicos favoritos quando você era jogador? E quais são seus técnicos favoritos hoje, depois de começar a trabalhar como treinador?

Tcheco — Alguns treinadores favoritos foram o Telê Santana e o Rubens Minelli, que foi um excelente treinador que eu tive na minha carreira. E depois o Luxemburgo. São treinadores que sempre me chamaram atenção quando eu jogava. Na atualidade, acompanhando o trabalho dos treinadores principalmente do exterior, eu tenho uma identificação muito grande com o Klopp, do Liverpool, um treinador que bateu o meu santo com o dele. No modo como ele trata os jogadores, como ele treina. Mesmo de longe ele acabou me inspirando. Tive esse intercâmbio lá na Inglaterra e então fiquei ainda mais fã dele. Lógico que a escola do Pep Guardiola é muito interessante, mas aí eu vou para aquele lado que a gente se identifica mais, que é o Klopp. Ainda na Inglaterra eu também me identifiquei muito, principalmente com seus trabalhos, com seus livros, com o Sir Alex Ferguson e com o Bobby Robson, que sempre me chamaram a atenção na maneira como eles trabalhavam.

BP — Na Europa, o Mourinho é famoso por adaptar o estilo de jogo conforme as peças. E o Guardiola por forçar os jogadores a se adaptarem ao estilo de jogo dele. Você tem um estilo de jogo definido? Ou você adapta o estilo conforme os jogadores disponíveis?
Tcheco — O Mourinho faz parte dessa geração de treinadores que eu também sou fã. É um treinador que me identifico mais, em relação a adaptar o estilo conforme as peças. Não tenho essa organização nem capacidade de fazer o que o Guardiola faz, de fazer com que o jogador se adapte ao estilo dele. Acho muito mais difícil e muito mais complexo. Então eu sou mais a favor do estilo do Mourinho. Adaptar as peças que você tem para estilo que você vai entender depois.

BP — Você foi um jogador que se destacou pela bola parada. Aliás, o Coritiba conquistou aquela vaga na Libertadores em 2003 basicamente nos escanteios e faltas cobrados por você para Marcel, Odvan e Edinho Baiano. Qual o papel do Bonamigo nessa eficiência daquele time na bola parada? E o que você levou dessa experiência para a carreira de treinador?
Tcheco — Naquela ocasião, o Bonamigo acabava exigindo muito os treinamentos de bola parada e automaticamente, de tantas repetições, acabei também me acabei entendendo que através dos treinamentos, das repetições você pode fazer muita diferença nas execuções. E como realmente nós tínhamos alguns atletas que tinham um bom tempo de bola era uma questão de caprichar e treinar essas bolas paradas, que realmente foram decisivas para a nossa classificação na Libertadores. Então acredito que o aprendizado foi muita repetição e dar confiança para o atleta. E fazer com que isso seja um diferencial para a equipe.

Tcheco treina bola parada no Couto Pereira, em 2011 (foto: Arquivo Bem Paraná/Valquir Aureliano) 

BP — A quantidade de gols de falta (em cobranças diretas) caiu bastante no futebol atual. Um argumento é que os jogadores treinam menos faltas hoje. E que a parte científica do clube (fiosologia, preparadores, etc) são rigorosos no limite de tempo de treino para os jogadores, o que deixa os cobradores de falta com pouco tempo para esse tipo de trabalho. Você concorda com esses argumentos? Você tem explicação para essa redução nos gols de falta?
Tcheco — Creio que essa queda de gols por falta direta está ligada principalmente à evolução do goleiro. E aí está o profissional do treinador de goleiros que tiveram uma importância muito grande no decorrer dos tempos e atingiram um auge muito grande. E os goleiros já estão capacitados também para evitar os gols de falta. Mas principalmente os jogadores que batem falta direto, realmente eu acho que estão treinando menos do que de costume. Aí acho que é um pouco de bom senso da parte da fisiologia e o entendimento da comissão técnica entender que necessita de treinamentos. E aí achar um bom senso para que os cobradores tenham esse espaço para bater as faltas. Eu entendo também que tem que ter um entrosamento entre os dois departamentos (fisiológicos e o da comissão) para que se ache um espaço talvez especialmente para isso. Mas todas as áreas estão sempre para agregar. Os treinadores de goleiros encontraram um pouco de resistência no começo e hoje têm seus espaços e são muito valorizados. Assim como a parte da fisiologia encontrou um pouco da resistência no início e hoje está tendo entendimento, porque é muito importante nessa área também. Mas acho que falta um pouquinho entrosamento, para que as coisas possam ter um bom senso e um entrosamento melhor na execução do trabalho em ambas as áreas. Principalmente o jogador entender que necessita de um treinamento maior para se adaptar ao estilo de falta. Como eu falei na resposta anterior a repetição das minhas bolas paradas um ponto forte que eu não abro mão disso. Acho que a gente só tem que adaptar e entender a área de cada um.

BP — No Paraná Clube, quando você foi promovido ao profissional, todo mundo sabia que você tinha talento, menos quem estava no comando no clube. Você acabou improvisado em várias posições e não ganhou chances como meia. Foi necessário você praticamente recomeçar a carreira no Malutrom. Essa maneira como você foi tratado no início da carreira influencia o seu olhar como treinador? Ou seja, você pretende ter um cuidado especial com jogadores jovens?
Tcheco — Sempre vou ter um olhar muito especial com os meninos da base, porque primeiro é um produto do clube. Para ser valorizado, eles precisam de oportunidade, a gente entendendo que tem esse talento e que esteja pronto ou próximo daquilo, com certeza terá suas oportunidades. Aqueles jogadores que a gente entende que ainda não estão prontos, o clube tem que achar uma possibilidade na base, desde que tem competição de qualidade, ou algum clube com expressão menor do que o FC Cascavel, mas que tenha essa oportunidade para potencializar o seu talento. Mas com certeza os jogadores da base que eu vou ter um cuidado muito especial, para que a gente tente dar possibilidade para todos.

BP — Você jogou nove anos de futsal antes de se especializar no futebol de campo, no Paraná Clube. Qual a importância do futsal como jogador e, agora, como treinador?
Tcheco — O futsal para mim é com certeza uma das grandes importâncias que tem para o futebol de campo. Se um dia fosse coordenador de um clube, eu certamente iria introduzir o futsal antes de ir para o campo. Mas é um esporte que, para o campo, para aquele que não teve futsal, a diferença é muito grande no entendimento de jogo, na leitura de jogo. Os fundamentos são muito mais refinados, pela questão de você treinar sempre passe, domínio. Pela quadra ser menor, você acaba errando mais também e com isso os treinadores do futsal acabam corrigindo mais também. Então eu acho que o futsal é uma grande faculdade para se atingir o mercado de trabalho, que é o futebol profissional. Em relação aos trabalhos e conceitos que eu vou levar para o campo em trabalho, eles já estão efetivados, porque o meu auxiliar, o Zé Luís, ele jogou futsal comigo e como adversário. Ele continuou no futsal depois como treinador e como coordenador também. Mais ou menos uns 35 anos da vida dele são baseados no futsal. Então vários treinamentos são relacionados com isso, em campos reduzidos e formalizações de trabalhos. Depois a gente acaba abrindo para campo inteiro. Mas é uma das minhas vertentes, uma das minhas valências é o futsal, tanto como jogador e como treinador também. Acho que é uma grande escola. Eu costumo dizer que o jogador não jogou futsal e teve um destaque no futebol de campo, se ele fizesse o futsal o destaque dele seria maior ainda.

BP – E qual a origem do apelido Tcheco?
Tcheco — Quando eu era bebezinho de colo, os meus pais me deixavam com os meus avós paternos, para poder trabalhar. Era raro creche naquela época. Meus avós paternos tinham os vizinhos gaúchos do Interior, que puxavam muito o tchê. Eles viviam na casa dos meus avós. De tanto que eles falavam tchê, foram as minhas primeiras palavras. Eu falava tcheco, tcheco a toda hora. E minha avó sempre deu apelido para todos os 15 netos dela. E o meu apelido ficou como ‘Tcheco’. Anderson era só quando ia apanhar da mãe, quando estava braba, e na escola, para a chamada.

PERFIL
Anderson Simas Luciano
Idade: 44 anos
Nascimento: Curitiba
Clubes como jogador: Paraná, Malutrom, Coritiba, Al-Ittihad, Santos, Grêmio e Corinthians
Clubes como técnico ou auxiliar: Coritiba, Paraná, Rio Branco e FC Cascavel