Tem um filme que eu adoro (embora tenha gostado mais do livro, o que é uma rotina na minha vida) que se chama Jogador nº 1. O filme trata de um futuro não muito distante no tempo, 2045, em que Wade Watts prefere ficar imerso em um jogo de realidade virtual, por meio do seu avatar Parzival, a viver sua vida real. E não é só ele. De um modo geral a sociedade do filme prefere não enfrentar a realidade de seu cotidiano caótico e degradado. As pessoas escolhem utilizar seus recursos para melhorar sua vida virtual, mesmo vivendo sob péssimas condições no mundo real. Ao ver Mark Zuckerberg anunciar seu novo projeto, a transição do Facebook para Meta, comecei a refletir sobre o porquê de a primeira coisa a vir à minha mente ter sido Jogador nº 1.

E listei uma série de possibilidades: 1. Mark Zuckerberg está fazendo um jogo de dissimulação para fugir de seus problemas reais com o Facebook, os “Facebook Papers”; 2. As pessoas preferem viver cada vez mais em uma realidade alternativa do que em sua vida cotidiana? 3. Há uma aceleração da possibilidade do metaverso com o desenvolvimento cada vez mais veloz de tecnologias de informação e de comunicação? Vamos começar com a terceira possibilidade: o metaverso pode ser descrito como um mundo online onde as pessoas podem jogar, trabalhar e se comunicar, utilizando de realidade virtual e de realidade aumentada.

Quem convive com o mundo dos games sabe que muitos deles caminham para essa ideia de mundo interativo, vide o Fortnite, o Roblox ou o Genshin Impact. E esse mundo interativo não se resume a possibilidade do usuário em transitar entre várias realidades. A interação também se dá por meio de redes de empresas que passam a atuar em conjunto para possibilitar o desenvolvimento de tecnologias associadas às realidades virtual e aumentada. Desta forma, termos como blockchain (sistema de rastreamento de informação), realidade mista (em que tecnologias permitem que não exista limite entre o que é real e o que é virtual), ou hub de realidade (um ambiente composto por realidade virtual, aumentada e mista) serão cada vez mais rotineiros em nossas vidas. Os avanços são visíveis, rápidos, irreversíveis e são buscados não só pelo Meta, mas também por outras organizações importantes como Google, Microsoft, Samsung, entre outras.

Querendo ou não, as pessoas serão inseridas nesse novo modelo de sociedade. E se a realidade do Metaverso for mais interessante que a realidade “real”? Cada vez mais as pessoas utilizam mais do seu tempo em suas redes sociais, jogos, interação online, visto terem se acostumado ao uso de aplicativos e as facilidades proporcionadas pela internet e smartphones. Quem imaginaria alguns anos atrás que, para fazer um brigadeiro fosse possível consultar o seu telefone celular, acessar a receita e ainda ter disponível um link para comprar os ingredientes necessários para fazer o doce, ingredientes esses que serão entregues em sua porta e serão pagos por interação bancária totalmente online?

E, é claro, o mundo virtual pode ser bem mais satisfatório do que a limpeza da casa ou as tarefas do trabalho, como, por exemplo, tratar de vazamentos de informação e de acusações de que sua empresa é potencialmente prejudicial para a saúde mental de seus usuários, em especial dos jovens, vivenciadas há pouco pelo Facebook.

Metas ou dissimulação à parte, mais uma vez Zuckerberg nos propõe novas formas de interação social. Imagino meus netos em uma aula de história, igual as que Wade Watts assistia, acessada em um hub de realidade, descobrindo que todas as formas de relacionamento que eles vivenciam surgiram porque um carinha de Harvard queria descobrir quais eram as meninas mais bonitas do campus.

*Dayse Mendes é Mestre em Administração, Engenheira Mecânica e Professora do curso de Engenharia de Produção do Centro Universitário Internacional Uninter