Delator da Operação Quadro Negro, o ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Maurício Fanini, disse ter sido informado que seria preso na ação que investiga desvios de mais de R$ 30 milhões em obras em escolas estaduais. Em depoimento ao Ministério Público do Paraná (MP-PR), Fanini afirma que foi orientado a destruir provas. O depoimento faz parte do processo que denunciou o ex-governador Beto Richa (PSDB) e outros políticos por improbidade administrativa. (Leia a íntegra da denúncia)

No depoimento publicado em vídeo pelo jornal Gazeta do Povo, o ex-diretor da Seed disse que, dias antes da operação, teria sido informado pelo então procurador-geral do Estado, Sérgio Botto de Lacerda, que seria detido. O aviso teria ocorrido no escritório de Botto de Lacerda, após este ter se reunido com Richa.

“Ele [o procurador] me leva na sala dele: ‘Ó, tenho uma notícia pra você, sobrou pra eu te dizer. Você vai ser preso. Acabei de sair do Palácio [do Iguaçu], tive uma reunião com o Beto [Richa], com o chefe da Polícia [Civil], Julio Reis, com o [secretário Eduardo] Sciarra, com o Deonilson [Roldo]. Não tem jeito. Você vai ser preso temporariamente’. Aí eu entro em pânico. Preso?! Isso vai me acabar. É a minha ruína”, disse Fanini.

Ele também disse que foi orientado a destruir provas, porque a residência dele seria alvo de mandado de busca e apreensão. Apesar disso, no depoimento, ele não deixa claro no depoimento de quem partiu a instrução. “Eu fui orientado: ‘Vai ter buscas, então tire tudo que você tem lá. Foto, dinheiro’. Eu tirei de lá, daí. Eu tinha um pouco de dinheiro, aí levei embora, para a casa da minha sogra. Documentos, as fotos que eu tinha, eu guardei. Não deixei lá”, afirmou.

Fanini disse que, no mesmo dia em que recebeu a informação, procurou Richa. O então governador estava no apartamento de um empresário, que mora no mesmo prédio que ele. Lá, o tucano teria tentado acalmar o amigo, dizendo que cumpriria a prisão em um quartel da Polícia Militar (PM).

“O Beto vê meu desespero, me chama num canto. ‘Beto, que história é essa da minha prisão?’. Ele diz: ‘É, não teve jeito. Você vai ficar dois dias’. Aí, ele tenta me convencer de que era um bom negócio ficar dois dias preso, que eu iria pra um batalhão de polícia, que não ia passar por nenhuma humilhação no sentido de imprensa, que não iria ser algemado…”, relatou.

Fanini foi preso em 21 de julho de 2015. Diferentemente do que teria garantido Richa, ele não ficou detido em um quartel da PM, mas no Complexo Médico-Penal (CMP), em Pinhais. Não ficou preso por dois, mas por dez dias. “Houve uma manipulação para que a partir daquele momento eu não partisse para a cooperação, pra uma delação”, afirmou.

A assessoria de Richa afirmou qem nota que “as fraudes e desvios cometidos em obras de construção e reforma de colégios da rede pública de ensino foram descobertos e denunciados pela própria gestão do ex-governador Beto Richa. Por orientação do ex-governador, no âmbito administrativo, todas as medidas cabíveis contra os autores dos crimes foram tomadas”.

Ao jornal Gazeta do Povo, Sérgio Botto de Lacerda disse que o depoimento “é uma mentira”. “Na última vez em que ele [Fanini] esteve aqui, foi tocado do meu escritório. Eu já esclareci isso ao Ministério Público”, disse. Segundo o ex-procurador, na data em que Fanini cita o encontro, ele estaria em viagem a Porto Alegre. “Isso é invenção da cabeça dele”, apontou.