Ricardo Marajó/FAS

O caminhão do Disque Solidariedade – serviço da Fundação de Ação Social (FAS) que arrecada e repassa bens duráveis usados e em boas condições para famílias em situação de vulnerabilidade social – fez uma entrega especial na segunda-feira (1º/10): ajudou a mobiliar a casa de uma diarista, que fica em Colombo. Elar é mãe de uma adolescente, que passou os últimos três anos na Unidade de Acolhimento Institucional Nova Esperança, sob gestão da FAS.

“Trouxemos as doações para garantir um mínimo de conforto para a família, que agora ficou maior com a chegada da filha”, explicou a supervisora da FAS na Regional Boa Vista, Cláudia Foltran, que acompanhou a entrega dos itens.

Entre os móveis havia fogão, geladeira, micro-ondas, camas, lençóis e toalhas de banho, além de cortinas e tapetes. “Vai ajudar muito mesmo. A gente só tinha o básico do básico”, disse a diarista, que também é mãe de dois meninos, de 13 e 11 anos.

Treze anos longe

A jovem tinha 4 anos quando a mãe a viu pela última vez. Foi quando a menina passou a morar com o pai, que a manteve sob sua guarda durante dez anos. Aos 14 anos, a Justiça retirou a guarda do pai e determinou que ela fosse acolhida em uma unidade institucional. Ela foi encaminhada para a Unidade Nova Esperança – que há cerca de 20 anos acolhe meninas de 14 a 18 anos, sob medida protetiva.

Há cerca de 1 ano, a equipe da 1ª Vara da Infância e da Juventude localizou a mãe da jovem e começou a trabalhar na restauração do vínculo familiar.

A FAS, que integra a Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação de Risco para a Violência, participou do esforço. Durante quase nove meses, cuidou da reaproximação das duas. A filha não se lembrava da mãe.

“A  mãe esteve conosco várias vezes, quando teve a oportunidade de trabalhar o fortalecimento do vínculo para receber a filha”, conta a coordenadora da unidade, a pedagoga Nair Macedo. A reintegração familiar aconteceu no final de setembro, com uma festa de despedida na própria unidade e que reuniu também os dois irmãos da garota.

A menininha da qual ficou afastada durante 13 anos agora é uma adolescente de 17 anos que cursa à noite o 2º ano do Ensino Médio e acaba de ser selecionada para estagiar no Ministério Público Estadual. “Ela é muito esforçada. Já trabalhou no Tribunal de Justiça pelo programa FAS Aprendiz e na empresa Toshiba e fez cursos pelo Liceu de Ofícios enquanto esteve conosco”, conta a coordenadora da Unidade Nova Esperança, carinhosamente chamada de “tia” Nair.

A segunda casa

A jovem saiu da unidade de acolhimento, mas a casa onde viveu boa parte da adolescência não saiu dela. “Vou lá quase todo dia porque gosto bastante daquele lugar. Lá eu fiz muitas amigas, praticamente irmãs, e aprendi muitas lições de vida”, conta a estudante, que dividia o quarto com outras três meninas.

Ela comemorou a mudança para a casa da família dando-se de presente uma tatuagem símbolo dessa mudança: inscreveu no corpo a imagem da fênix, a ave da mitologia grega que renasce das próprias cinzas. Agora, planeja estudar línguas, fazer faculdade de Turismo e “viajar o mundo todo”.