BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Contrariando uma de suas bandeiras de campanha, o fim da influência política na formação do governo, a gestão de Jair Bolsonaro foi cobrado a explicar, nesta terça-feira (8), a promoção de Antônio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente Hamilton Mourão, à assessoria especial do presidente do Banco do Brasil.
Com a ascensão no banco público, o filho do vice passará a ganhar R$ 36,3 mil, o triplo de seu atual salário. A nova função equivale a um cargo de executivo.
Funcionário de carreira do banco há quase duas décadas, Rossell Mourão vinha atuando havia 11 anos como assessor na área de agronegócio da instituição, ganhando cerca de R$ 12 mil mensais. Sua mulher, Silvia Letícia Zancan Mourão, também é funcionária do banco.
A promoção do filho do vice-presidente foi considerada inusual por funcionários. A ascensão, segundo eles, costuma ser progressiva.
Rossell Mourão irá assessorar o recém-empossado presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes.
A promoção ocorreu na segunda-feira (7), mesmo dia em que Novaes tomou posse do cargo em cerimônia no Palácio do Planalto na qual o pai Mourão estava presente. O vice-presidente não foi à posse do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, que assumiu o comando da instituição no mesmo dia.
No novo posto, o filho do ex-presidente continuará exercendo a mesma função, mas aconselhando Novaes diretamente.
Segundo o estatuto do banco, o presidente tem direito a nomear três assessores especiais. Pela tradição, ele se cerca de especialistas na área jurídica, de comunicação e do agronegócio.
Apesar de ter o poder político de reverter tal nomeação, segundo relatos de auxiliares a cúpula do governo Bolsonaro se sentiu desconfortável e irritada com a promoção. Entre integrantes da equipe ministerial houve inclusive a sugestão a Mourão para que pedisse ao filho para abrir mão do cargo para “dar o exemplo”.
Segundo esses aliados, o principal motivo para a insatisfação é o de que a escolha diverge da postura defendida por Bolsonaro durante a campanha presidencial, de acabar com privilégios de indicações políticas.
A moralização das instituições públicas e o combate a irregularidades foram uma das bandeiras de campanha do presidente na eleição. Desde a vitória na campanha, ele tem destacado que não cedeu a partidos políticos na montagem do governo, prática chamada de “toma lá, dá cá”. Na posse, disse que “a irresponsabilidade nos conduziu à maior crise ética, moral e econômica” da história.
A nomeação foi criticada inclusive pelo MBL (Movimento Brasil Livre), um dos grupos de direita no Brasil que apoiaram a candidatura de Bolsonaro no segundo turno.
Em vídeo, um dos coordenadores do movimento, Renan Santos, disse que Rossell não deveria ser nomeado até para mostrar que o novo governo faz uma política diferente.
Vice nega influência política e dirigente defende competência
Procurado pela reportagem sobre a promoção de seu filho no Banco do Brasil, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que seu filho atua há anos na instituição financeira e que tem uma trajetória sólida para a nova posição.
Segundo Mourão, por não ser filiado ao PT, Rossell foi ameaçado e perseguido em gestões passadas, perdendo inclusive vaga de garagem no banco estatal. “Quando o vento era outro, ele era prejudicado. Agora, que o vento é a favor, ele foi favorecido por suas qualidades”, disse.
O vice-presidente também falou nas redes sociais.
“Meu filho, Antônio, ingressou por concurso no BB há 19 anos. Com excelentes serviços, conduta irrepreensível e por absoluta confiança pessoal do Presidente do Banco foi escolhido por ele para sua assessoria. Em governos anteriores, honestidade e competência não eram valorizados”, escreveu.
O presidente do BB afirmou que o funcionário possui excelente formação e capacidade técnica. “É de minha absoluta confiança e foi escolhido para minha assessoria, e nela continuará, em função de sua competência. O que é de se estranhar é que não tenha, no passado, alcançado postos mais destacados no banco.”