Em 2001, Lucrecia Martel tinha 35 anos quando ganhou projeção internacional, após a exibição de La Ciénaga no Sundance Festival. No Brasil, foi lançado como O Pântano e é a atração desta terça, 28, no Canal Brasil, às 22h. Nos EUA, o filme venceu o prêmio de roteiro e o resultado foi que Lucrecia virou habitué dos maiores festivais. No ano passado, presidiu o júri de Veneza que, surpreendentemente, atribuiu o Leão de Ouro a Coringa, de Todd Haynes.

Por essa ninguém esperava. Uma autora exigente, e independente, celebrando o mainstream. Mas a verdade é que Coringa virou uma das sensações de 2019 – com Parasita, de Bong Joon-ho, que venceu Cannes, e 1917, o épico de guerra de Sam Mendes que está fazendo o rapa nas premiações do ano nos EUA. Todos estão no Oscar, e a essa altura não há muita dúvida de que 1917 será o grande vitorioso, na noite de 9 de fevereiro.

De volta a Lucrecia Martel, ela nasceu e vive até hoje em Salta, no noroeste argentino, distante do burburinho de Buenos Aires. Começou filmando a própria família com recursos rudimentares. Aos 22 anos, matriculou-se na Escola Nacional de Cinematografia. Com o curta Rey M uerto, de 1995, ganhou vários prêmios na Argentina e no exterior.

Ao primeiro longa, O Pântano, sucederam-se La Niña Santa, A Mulher Sem Cabeça e, após um hiato de quase dez anos, Zama, em 2017. Vale assinalar que os irmãos Agustín e Pedro Almodóvar têm sido produtores associados de Lucrecia. O Pântano foi filmado próximo à região em que ela vive. Narra uma história de família. Em pleno verão, e sob um calor sufocante, a matriarca Mecha reúne a família na decadente finca chamada de La Mandrágora. De cara, Mecha sofre uma queda e fica imobilizada. Passa a beber, torna-se inconveniente. Da trama participam a prima pobre e uma versão jovem de Mecha, uma garota que tem o mesmo nome dela e cuja liberdade – sexual, inclusive – confronta a matriarca com suas atuais limitações.

Além do prêmio de roteiro em Sundance, O Pântano venceu o prêmio para melhor filme de diretor estreante em Berlim. Na época, há quase 20 anos, o filme causou sensação porque todos viam nele o comentário da jovem diretora sobre a Argentina. Lucrecia nunca autorizou a especulação. Dizia que seria muita presunção colocar a Argentina dentro de um filme. Acrescentava que preferia falar sobre o entorno, e o que conhecia – relações de amor e ódio na família.

Para o espectador que (re)vê agora o filme, uma das atrizes, Mercedes Morán, somente cresceu com o tempo. Mas a estrela de La Ciénaga sempre foi uma veterana. Por volta de 1960, jovem e bela, Graciela Borges tornou-se uma estrela nos filmes de Leopoldo Torre-Nilsson, um gigante do cinema da Argentina. Com ele fez Fim de Festa, Pele de Verão, La Terraza, La Chica del Lunes, Los Traidores de San Angel, Martin Fierro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.