Franklin de Freitas

Iniciada na segunda-feira (21) em todo o Brasil, a greve dos caminhoneiros autônomos, deflagrada por tempo indeterminado, pode acabar pesando no bolso dos curitibanos. De acordo com a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), a partir desta terça-feira, 22, podem ocorrer os primeiros reajustes de preço em vários produtos. Caso a paralisação persista por mais tempo, há risco de desabastecimento.

De acordo com Diumar Bueno, presidente da CNTA, a paralisação já é a maior desde 2015, quando a categoria havia feito a sua última greve nacional. Só no primeiro dia, por exemplo, foram verificados 117 pontos de paralisação em todo o país, sendo que nos estados da região sul, principalmente Paraná e Rio Grande do Sul, é onde o movimento ganhou maior apoio.

“Nas rodovias, praticamente não há movimentação de caminhão. Então, todos os segmentos estão sendo afetados. Apenas ônibus, automóveis, ambulâncias e caminhões com medicamentos ou cargas vivas estariam circulando. Às demais cargas, a orientação é para que não carreguem e permaneçam em suas bases. Já quem estiver em trânsito deve aguardar nos postos da rodovia”, explica Bueno.

Ainda segundo o presidente da CNTA, os caminhoneiros são responsáveis pelo transporte de aproximadamente 80% de tudo o que se consome e produz no Brasil. “É um país essencialmente rodoviarista”, aponta Bueno, destacando que a população como um todo deve começar a sentir mais fortemente o impacto da paralisação a partir de hoje.

“Quando o movimento é expressivo e a nível nacional, haverá impactos no país todo. A partir de amanhã já devemos começar a ter alteração no preço de vários produtos e a seguir, se não houver acordo (com o governo), começa a haver o desabastecimento e de tudo o que é coisa, porque o transporte de tudo se passa pelo caminhão.”

Um dos primeiros setores a prever dificuldades foi o agrícola. Ontem, o diretor executivo da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra), Roberto Queiroga, destacou que a paralisação tem potencial para prejudicar o escoamento da safra de grãos de verão, embora destaque que o maior afetado deverá ser o Rio Grande do Sul – no Paraná, a previsão é de problemas em alguns pontos específicos, mas sem grandes prejuízos por conta do caleandário de escoamento da safra.

Já o Sindicombustíveis destacou, por meio de nota, que até o momento não há perspectiva de falta de abastecimento. “O pólo de distribuição de Araucária teve fluxo normal nesta segunda-feira (ontem), com os caminhões abastecendo, pelas informações que temos até agora”, declarou a entidade.
Ontem, foram registradas manifestações em 22 pontos de rodovias federais do Paraná. Não houve bloqueio total de pista. A maioria das manifestações ocuparam o acostamento das vias.

Fim dos reajustes e abertura de negociação 
Para que a greve em todo o país seja encerrada, Diumar Bueno destaca a necessidade de o governo se posicionar. Segundo ele, na última semana diversos ministérios, como o do Transporte e da Justiça, foram notificados sobre a possibilidade de paralisação. Desde 3 de julho do ano passado, quando a Petrobras adotou um novo método de reajustes, o preço do diesel comercializado nas refinarias subiu 57,78%. No mesmo período, a inflação acumulada é de 2,68%.

“Colocamos isso tudo para o governo e solicitamos, até para que não houvesse necessidade de greve, que aceitasse a condição de não reajustar o preço do combustível por no mínimo seis meses e que fosse aberta uma negociação para discutir um plano de preço diferenciado para o setor de transporte rodoviário de carga. Mas o governo está deixando o movimento crescer a cada hora”, afirma o presidente da CNTA.