O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quinta-feira, 29, que o governo já está se programando para que, no próximo ano, não se encontre numa situação de dificuldade em relação à rolagem da dívida. “Então nós já estamos nos programando inclusive para o ano que vem, nos primeiros quatro meses, onde há rolagem mais forte. Já estamos nos preparando, exatamente, para fazermos uma rolagem mais suave”, disse Guedes ao falar sobre as transferências de bancos públicos ao Tesouro Nacional.

Ele comentou que a situação econômica provocada pelo novo coronavírus desembocou num cenário de criação de “muita dívida rapidamente”. “Os leilões duplicaram, as vezes triplicaram de tamanho, encurtaram a frequência, num momento em que justamente – porque as reformas não estarem avançando na velocidade desejada em função da doença -, ai as necessidades de rolagem de dívida se acumularam muito. As vezes vai ter que girar duas, três, quatro, cinco vezes o que girava”, comentou.

Num momento em que há pressão sobre os juros, disse Guedes, é melhor que o Tesouro receba algumas transferências e, com elas, tire o “pé do acelerador”. “Não precisa rolar tanta dívida em tão curto espaço de tempo”, disse. “Não vamos ficar em dificuldade pagando o juro que o mercado queira”, afirmou.

O ministro comentou ainda que o contexto torna as reformas ainda mais necessárias. “Mas, evidentemente nada como fazer as reformas. Fazendo, na mesma hora, a curva de juros desce e desentorta, porque ela subiu e se inclinou, então estamos fazendo rolagem mais curta, não é nada ainda que nos ameace, está longe, mas são sinais desagradáveis que mercados enviam para nós, pedindo atenção para as reformas”, concluiu.

Déficit fiscal inchado

Guedes voltou a prometer a retomada do esforço fiscal em 2021, com o objetivo de reduzir a dívida bruta em proporção do PIB, que chegará próximo de 100% neste ano. “Sabemos que o déficit fiscal foi inchado em 2020 e queremos que ele colapse em 2021. Prometemos o maior esforço fiscal possível. Não nos conformamos com nível da dívida/PIB e vamos derrubar de novo. O patamar de quase 100% é razoável, já derrubamos a dívida em 2019 e vamos fazer de novo seguindo mesmo método. Vamos privatizar ativos e desalavancar bancos públicos com mais ímpeto”, afirmou.

Ele voltou a defender a privatização de estatais e reclamou que esse debate não pode ser interditado. “Estamos em direção de uma economia de mercado, sem um ministro do planejamento poderoso como havia no passado. Se o capital quiser ganhar dinheiro, terá que investir em saneamento, saúde e educação”, acrescentou.

Mais uma vez, o ministro avaliou que a estimativa de economia de R$ 300 bilhões em 10 anos com a reforma administrativa estaria subestimada. “Esse cálculo leva em conta uma taxa de reposição de 70% do funcionalismo. Acho que a economia com a reforma administrativa pode ser maior. Com digitalização do serviço público, taxa de reposição pode ser menor”, alegou.

O ministro ainda reclamou das críticas de que ele “promete muito e entrega pouco”. “Há uma narrativa destrutiva de que eu prometo e não entrego, mas a democracia brasileira tem custo normal de transição e funcionamento. Fazer um plano econômico é rápido, mas implementar é mais complicado”, completou.

Imposto de importação

O ministro da Economia prometeu zerar o imposto de importação de materiais de construção se a indústria nacional de insumos não aumentar a produção para reverter a recente alta de preços. “Com boom da construção civil e os pagamentos do auxílio emergencial, preços dos materiais subiram. Mas essa mesma alta de preços vai trazer mais produção de insumos. O que não entrar de aumento na oferta, vamos reduzir tarifa de importação. Já estudamos quais tarifas de importação de materiais vão descer. Se o preço subir demais, vamos zerar taxa de importação, como fizemos no arroz”, afirmou.