Franklin de Freitas – O Museu Paranaense possui um exemplar do primeiro jornal do Paraná. Na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

O ano é 1854. Há menos de quatro meses, o Paraná conseguira sua emancipação de São Paulo, sendo elevado à categoria de província e tendo Curitiba como a cidade eleita capital provisória (o que mais tarde seria confirmado). Na época, o município tinha 5.891 habitantes, 308 casas, duas escolas de primeiras letras, 38 lojas de fazendas e armarinhos e 35 armazéns de comestíveis, como relata João Caros Ferreira no livro “O Paraná e seus municípios”. Osvaldo Pilotto, por sua vez, assinala no livro “Cem anos de imprensa no Paraná (1854-1954)”, que Curitiba era, a esse tempo, pouco mais que uma aldeia.

Antes da instalação da Província do Paraná, os atos do governo provincial de São Paulo eram conhecidos na cidade por meio dos periódicos paulistanos, como o “Paulista Official” e, mais tarde, “O Governista”. Outra forma de tomar conhecimento das determinações de órgãos oficiais era ir até as portas da Câmara e da Igreja da cidade, onde eram afixados os editais, ou por apregoações.

As dificuldades e limitações para a circulação de informação, porém, representavam um desafio. Assim, ao inaugurar o governo provincial em 19 de dezembro de 1853, Zacarias de Góis e Vasconcelos, primeiro presidente da província, incluiu entre as primeiras medidas a serem tomadas a criação de uma impressora, com o intuito de atender às necessidades da administração quanto à publicação dos atos oficiais.

Para dar seguimento à missão, Cândido Martins Lopes fora convidado para montar aqui a sua oficina tipográfica, que até então ficava instalada em Niterói (RJ). “Foi, certamente, uma aventura transportar via marítima, até Antonina, o material e, depois, trazê-lo em lombo de burro pela estrada do Itupava, a Curitiba”, escreve Osvaldo Piloto.

Instalou-se então à Rua das Flores (hoje Rua XV de Novembro), nº 13, a “Typographia Paranaense”. No dia 1º de abril de 1854, a população curitibana e paranaense conhecia o primeiro jornal da historia da província, “O Dezenove de Dezembro”, nome que faz referência à data de emancipação do Paraná. Nascia, também, o jornalismo paranaense.

Em sua primeira edição, o periódico destaca a lei imperial número 704, de agosto de 1853, que eleva a 5ª Comarca de São Paulo à categoria de Província do Paraná. “Dom Pedro Segundo, por graça de Deos, e unanima aclamação dos povos, imperador constitucional e defensor perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os nossos subditos, que a assembleia geral legislativa decretou e nós queremos a lei seguinte: Art 1. A comarca de Coritiba era província de São Paulo fica elevada à categoria de província…”, publicara o jornal, que circularia pela capital até fevereiro de 1890 – sendo que, a partir de abril de 1855, o periódico teve suprimido o artigo de seu nome, passando a ser publicado com a designação de “Dezenove de Dezembro”.

O papel da imprensa, segundo o ‘Dezenove’, era discutir os interesses maiores da sociedade

Além da lei imperial, a primeira edição do ‘Dezenove’ também apresentou as nomeações de cargos administrativos feitas pelo primeiro presidente Zacarias de Góis e Vasconcelos nos dias que sucederam sua posse, como a de Constantino do Amaral Tavares “para o emprego de official interino da Secretaria do Governo”.

O periódico abordou ainda o papel da imprensa e o seu, como primeiro jornal da província. “A imprensa, como todas as instituições e cousas humanas, tem um lado bom e outro não, pois se é origem fecunda de vantagens sociaes, também com razão se lhe atribuem males gravíssimos. As vezes solta e desenfreada como a anarchia, a imprensa atropela tudo, nada é para ela sagrado… Outras vezes, porém, desveladamente ocupada em investigar só a verdade útil e profícua ao paiz, a imprensa, tomando iniciativa do bem, discute as questões de mór interesse para a sociedade.”

Primeiro jornal do Brasil foi o Correio Brasiliense, fundado por exilado de Portugal

Enquanto o Dezenove marcou o surgimento da imprensa paranaense, no Brasil a história do jornalismo começa um pouco antes, com o surgimento, em Londres, do jornal ‘Correio Brasiliense’, editado por Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, que havia sido exilado de Portugal por conta das críticas que fazia ao governo português.

O jornal, que sempre defendeu os interesses do Brasil, numa campanha em prol da liberdade de manifestação e a favor da independência da terra para onde se transladara a família real portuguesa, circulou de junho de 1808 até 1822. Era enviado ao Brasil e, segundo Osvaldo Piloto, “andava até pelas mesas dos maiorais”. A monarquia portuguesa ainda tentou impedir a publicação apelando para o governo da Inglaterra intervir, mas o estrategema não funcionou e, hoje, Hipólito da Costa é considerado o “Patriarca do Jornalismo Brasileiro”.