Antonio Cruz/ABR

Após uma década (entre 2004 e 2013) marcada pela redução nos índices de insegurança alimentar, o Brasil voltou a ser assombrado pela fome recentemente. Em cinco anos, o número de pessoas sem acesso regular à alimentação básica aumentou em cerca de 3 milhões, chegando a cerca de 10,3 milhões o contingente nesta situação. Embora a situação seja mais grave no Nordeste, onde vivem 41,5% do total de famintos no país, no Paraná há 248 mil pessoas com graves restrições no acesso à alimentação adequada.

Os dados acima fazem parte da “Análise da Segurança Alimentar no Brasil”, estudo divulgado nesta quinta (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que faz parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018.

Considerando os dados nacionais, temos que, em 2004, 65,1% dos domicílios brasileiros estavam com segurança alimentar, porcentual que chegou a 77,4% em 2013. Na POF 2017-2018, contudo, esse índice já havia caído para 63,3%, com o índice de insegurança alimentar, que se divide em três categorias (leve, moderada e grave), subindo de 22,6% em 2013 para 36,7% no estudo mais recente, acima, inclusive, do que fora verificado em 2004, quando 34,9% dos domicílios conviviam com alguma insegurança familiar.

O mais preocupante, contudo, é o avanço da insegurança alimentar grave, o que popularmente se chama de fome. Em 2013, 3,2% dos domicílios do país se encontravam nessa situação. Em 2017-2018, o porcentual já havia subido para 4,6%, o que significa que três milhões depessoas passaram a convivercom a fome no Brasil desde então, com o total de famintos no país chegando à marca de 10,3 milhões entre a população residente.

No Paraná, um dado que chama a atenção é que 22,5% dos domicílios convivem com a insegurança alimentar, porcentual que era de 16,1% em 2013. Na prática, isso significa que um em cada quatro domicílios no estado enfrenta alguma dificuldade no tocante à alimentação.

Considerando-se as três categorias de insegurança alimentar, o crescimento mais significativo aconteceu na faixa de insegurança alimentar leve (de 11,7% para 17,6%). As faixas de insegurança alimentar moderada e grave, por sua vez, cresceram 0,2 pontos porcentuais, chegando a 2,7% e 2,2% do total de domicílios, respectivamente. Já o número total de pessoas que convivem com a fome no estado é de 248 mil.

A cada dia, 14 mortes por desnutrição no país

Conforme dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, em 2019 a desnutrição fez um total de 5.232 vítimas no país, o equivalente a uma média de 14 falecimentos por dia. Só no Paraná foram 174 registros, com praticamente um óbito por desnutrição a cada dois dias. E os dados chamam ainda mais a atenção quando consideramos que o Brasil é o terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo e um dos principais produtores de alimento.

Alargando o campo histórico de visão, temos ainda que, desde 1996, um total de153.872 pessoas foram vítimas da desnutrição no Brasil, ao passo que no Paraná o total de vítimas no período chega a 6.228.

Importante destacar ainda que, segundo especialistas, o número de mortes relacionadas à fome no Brasil é subestimado, uma vez que a desnutrição não é uma causa de óbito de notificação obrigatória. Ainda assim, esses mesmos especialistas confirmam a tendência de queda das mortes entre crianças, em grande medida por conta das políticas públicas bem sucedidas das últimas duas décadas, ao passo que é crescente o número de idosos que não ingerem nutrientes em quantidade suficiente. Em 2019, por exemplo, a população com 80 anos ou mais de idade representou 56% (2.929) do total de vítimas da desnutrição no país.