Franklin de Freitas – Fernanda Musardo

A estratégia dos partidos priorizou a comunicação pela internet nas eleições presidenciais de 2018, o que deverá se repetir neste ano. Mas ter bons perfis nas redes sociais, produzir conteúdos interessantes e participar de lives pode não ser suficiente para garantir o voto na urna. A presença em eventos e comícios, uma boa propaganda na televisão e o tradicional corpo a corpo com os eleitores ainda podem influenciar no resultado final.
O predomínio da comunicação pela internet em 2018 foi mapeado em uma pesquisa coordenada pela doutora em Ciência Política Karolina Mattos Roeder e apresentada no final de julho deste ano. O grupo de pesquisa do Centro Universitário Uninter coletou dados de prestações de contas dos partidos em 2018 e separou os investimentos em estratégias consideradas “tradicionais” (trabalho voluntário, comícios, uso de materiais impressos e carros de som, entre outras) das “modernas” de comunicação (jnternet, telemarketing etc).

O levantamento mostra que os 32 partidos que concorreram nas eleições de 2018 gastaram um total de R$ 157.614.611,25 em estratégias modernas, o que representa 61,8% do total investido pelas legendas em comunicação. As formas tradicionais tiveram um investimento de 97.553.420,64, ou 38,2% do total na área.

O restante foi gasto com estrutura e organização, pessoal, candidaturas de mulheres, trabalho de formação e despesas gerais. São recursos do Fundo Partidário, do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas e de doações.
“Quase todos os partidos, com exceção de três, utilizam mais estratégias modernas. E 14 deles gastaram mais de um terço do total de recursos nessas estratégias. É bastante coisa”, afirma Karolina Roeder. “Os partidos que receberam mais recursos foram os que tiveram um equilíbrio maior na alocação”. As três legendas que priorizaram formas tradicionais em 2018 foram AVANTE, PROS e PATRIOTA. O PT, que recebeu o maior volume de recursos naquele ano, destinou 16,94% às formas tradicionais e 19,56% às modernas.
Karolina Roeder avalia que essa tendência será mantida neste ano, mas que o corpo a corpo ainda é essencial. “Vamos ter mais gastos com esse tipo de estratégia voltada para a internet, mas a maioria da população ainda tem acesso via smartphone, não é uma internet tão boa. As propagandas na televisão serão importantes e também outras estratégias como o corpo a corpo, para lugares onde a internet não chega”.
Os partidos que mais priorizaram as formas modernas em 2018 foram PMB (74,64% do total recebido no ano), PPL (69,89%) e PCO (61,67%), três das menores legendas do país. O AVANTE destinou 80,22% de seus recursos às formas tradicionais, seguido pelo PATRIOTA (37,51%) e pela REDE (27,43%).

Mesmo com o avanço das mídias sociais, gráficas ainda lucram
Apesar da importância cada vez maior da internet e das redes sociais, o setor da indústria gráfica ainda comemora a chegada das campanhas eleitorais. Segundo Edson Benvenho, presidente do Sigep (Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado do Paraná) e da regional paranaense da Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica), a procura cresceu nas três últimas eleições em função das mudanças na legislação, que limitaram disparos em massa na internet, por exemplo.
“Todo período eleitoral abastece as gráficas e isso é bom, traz um volume de trabalho, mesmo que seja por um período curto. Nas últimas três eleições o volume de impressos aumentou, até porque mudou a forma como as campanhas são feitas. Muitas coisas foram regulamentadas e o material impresso permaneceu ativo”, afirma Benvenho.
Os materiais mais procurados, segundo ele, ainda são santinhos, folders e adesivos. “Depende muito do tipo de período eleitoral. As campanhas para prefeito e vereadores abastecem as gráficas da maioria dos municípios. Nas eleições como a deste ano, o volume fica mais nas capitais”, disse o presidente do Sigep. A Abigraf lançou neste ano a quarta edição de uma cartilha que esclarece dúvidas sobre a legislação eleitoral e traz sugestões para auxiliar as gráficas a elaborar corretamente os materiais.

“Santinhos via Whatsapp não funcionam”
Especialista em mídias sociais e negócios na internet, Fernanda Musardo diz que uma campanha pode ser decidida nas redes, mas avalia que o corpo a corpo ainda é essencial no processo. “Os votos que você não fez são as lives que você deixou de fazer. Quando vai ver, faltou uma presença mais forte, um vídeo. Mas nada substitui a sola de sapato. O candidato precisa caminhar, pedir votos, conhecer as pessoas que está tentando convencer”.
Já as ações como os “derrames de santinhos”, que eram comuns em eleições passadas, não fazem mais parte de uma boa estratégia de campanha. “A distribuição de panfletos, aquela sujeira na rua, não combina mais para a qualificação do candidato. O que conta é o ‘porta a porta’, somado à presença digital que o candidato tem. A panfletagem digital é outra coisa que não funciona”, diz Fernanda, que treina equipes de campanhas eleitorais.
Distribuir “santinhos virtuais” via WhatsApp é um dos principais erros cometidos pelos candidatos, diz a especialista em mídias sociais. “A pessoa faz um card e muitas vezes usa disparos em massa, o que não é permitido. Poderá ter problemas, mas ainda é o pensamento de muitos. É praticamente como distribuir santinhos na rua, as plataformas entendem que aquele conteúdo é inadequado, elas priorizam conteúdos originais”.
Pensar o conteúdo é essencial: não basta impulsionar postagens para que elas atinjam o maior número de pessoas possível se o material não for bem produzido e não passar uma mensagem para o eleitor. “Pode ter um efeito contrário”, alerta Fernanda. “Muitos candidatos acham que o fato de patrocinar vai fazer com que ele ganhe votos. Precisa ter um conteúdo que converse com o eleitor. Muita gente se coloca à disposição para ser votado, mas esquece de dizer a que veio”.
Os impulsionamentos também devem ser bem planejados. “Vai impulsionar o quê, para quem? O conteúdo precisa comunicar algo e o candidato ainda precisa se adequar às regras da plataforma, é uma combinação de fatores que não se resume a simplesmente impulsionar”, afirma Fernanda Musardo. Entre os que tentam a reeleição, revela a especialista em mídias sociais, o erro mais comum é compartilhar a agenda. “Isso pouco importa para o eleitor, que quer saber de projetos e o que ele pensa”.