Franklin de Freitas – Segundo delegado

Depois do acidente que deixou oito pessoas mortas na BR-277 em São José dos Pinhais, a Polícia Civil do Paraná (PCPR) e a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Paraná (Agepar) iniciaram investigações para entender todas as circunstâncias da tragédia na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O objetivo é entender quais fatores concorreram para o trágico resultado e, se for o caso, atribuir responsabilidades pelo ocorrido.

Até aqui, o que se tem de concreto é que no momento do engavetamento havia uma densa mistura de fumaça, por conta de um incêndio na beira da rodovia, com neblina. A situação atrapalhou fortemente a visibilidade de quem passava pelo local. Houve então um primeiro acidente, de menor gravidade, envolvendo um motociclista e uma viatura da Polícia Militar. Na sequência, alguns veículos pararam no acostamento, provavelmente para aguardar o campo de visão abrir para retomar viagem, mas um caminhoneiro, na tentativa de evitar uma batida, desviou justamente para o acostamento, onde estavam outros veículos que acabaram atingidos, ocasionando a ocorrência mais grave.

A partir daí, os questionamentos que surgem são diversos. No âmbito da Polícia Civil, explica o delegado Fabio Machado, o objetivo do inquérito é a apuração de um eventual homicídio culposo, ou seja, quando o agente não tem a intenção de matar, mas provoca o resultado por negligência, imprudência ou imperícia.

Nesse sentido, um dos primeiros investigados é justamente o caminhoneiro que acabou causando a segunda e mais grave colisão. Naquele trecho da estrada, a velocidade máxima permitida é de 80 quilômetros por hora. Num primeiro momento, porém, a polícia acredita mais na hipótese de uma ‘fatalidade’, conforme expressou o próprio delegado, o que isentaria o caminhoneiro de culpa.

“O caminhoneiro vinha dirigindo de forma regular, dentro da faixa, não estava embriagado, percebeu o acidente e tentou evitar”, afirma o policial. “Estamos agora tentando identificar a causa do acidente, mas a princípio é uma fatalidade”, complementa.

Agora, o esforço da Polícia será para ouvir a Ecovia. É nesse mesmo sentido também que caminha a investigação da Agepar, que procura averiguar se os procedimentos adotados pela concessionária foram corretos e que pode resultar em punição financeira (auto de infração), caso sejam constatadas irregularidades.

“Agora prosseguimos as investigações para tentar ouvir os responsáveis pela rodovia, para saber desde quando a fumaça estava no local e por que a rodovia não foi interditada antes do acidente”, explica o delegado Fabio Machado. “Abrimos um processo, vamos fazer diligência e buscar tudo o que nos interesse: laudo da perícia técnica, informações dos bombeiros, como que horas foram chamados para atender o incêndio, e com a PRF vamos solicitar o boletim da ocorrência. Também vamos tentar acessar as câmeras da concessionária, o que já solicitamos”, emenda Newton Merlin Carvalho, gerente de fiscalização da Agepar.

Agepar pede informações sobre incêndios para Corpo de Bombeiros

Entre os dias 1º e 3 de agosto, o Corpo de Bombeiros registrou cinco ocorrências de incêndio em vegetação nas proximidades do local da tragédia, entre eles o registro do próprio incêndio que provocou o acidente. No dia 1º de agosto, o registro foi feito às 7h36. No dia 2º, quando ocorreu o engavetamento, houve um primeiro registro às 13h22, numa rua próxima da rodovia, e depois às 22h19, já tratando do incêndio que causara a colisão. A Agepar, inclusive, já antecipou ao Bem Paraná que estará oficializando o Corpo de Bombeiros para receber informações tocantes a ocorrência.

Esse segundo incêndio, conforme a Ecovia, foi constatado às 22h08 por uma equipe da própria concessionária, que então acionou os bombeiros e a polícia rodoviária. A pista no sentido Curitiba foi fechada de imediato, mas para o fechamento no sentido litoral ainda era necessário a chegada de apoio. “Em torno de 15 minutos as equipes já se posicionavam para fazer a sinalização, bloquearíamos a rodovia, só que nesse intervalo já nos deparamos com o primeiro acidente. A partir disso veio uma sequência de colisões e culminou com a pior das situações, que foi o desvio do caminhão e o atropelamento das pessoas no acostamento”, conta Marcelo Belão, Gerente de Atendimento ao Usuário da Ecovia.

‘Visibilidade era boa e, de repente, criou-se uma cortina de fumaça’, diz gerente da concessionária Ecovia

Segundo Marcelo Belão, Gerente de Atendimento ao Usuário da Ecovia, algo que as autoridades querem entender é como houve uma mudança tão rápida na condição de visibilidade da via. “A situação do nevoeiro, neblina, é algo comum, já temos conhecimento. Mas não na condição que se apresentou. É uma coisa que estamos em análise, para entender o impacto dessa fumaça. Se ela, queimando de forma perene, controlada, tem emissão de gás, algo que possa ter provocado isso”, afirma.

O funcionário da Ecovia conta ainda que, em 21 anos trabalhando em estradas concessionadas, jamais havia se deparado com uma situação como a do último final de semana. “Nunca vi uma situação acontecer de forma tão rápida e numa condição de degradação da visibilidade tão intensa. Na noite de ontem (terça) fizemos o bloqueio da rodovia e usamos o mesmo procedimento do domingo, mas no domingo, infelizmente, a questão alterou de forma muito rápida e o trânsito era mais intenso naquele horário”, finaliza.