José Fernando Ogura/AEN

O projeto da Nova Ferroeste, que ampliará a malha ferroviária paranaense, é fundamental para atender o crescimento da demanda do setor produtivo e acompanhar os investimentos públicos e privados que vêm aumentando a eficiência e o potencial de movimentação de cargas nos portos do Paraná. Esse cenário foi apresentado na manhã desta quarta-feira (15), em evento promovido pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). O encontro, que reuniu representantes do governo estadual, do setor produtivo e de empresas públicas e privadas que atuam na área portuária paranaense, foi transmitido ao vivo para investidores nacionais e estrangeiros.

O presidente da Fiep, Carlos Valter Martins Pedro, que participou da abertura do evento, destacou que investimentos em infraestrutura são essenciais para a competitividade da indústria e do setor produtivo. “O Paraná tem uma diversificação industrial muito importante e ações como essas aumentam a nossa competitividade. Que este evento seja motivador para investimentos na infraestrutura de nosso estado”, disse.

Já o secretário de Estado da Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, ressaltou que o Paraná já tem a melhor gestão portuária do país, com ganhos consecutivos de eficiência em Paranaguá, e agora é necessário avançar no modal ferroviário. “O porto é uma consequência de todo o trabalho da infraestrutura, então precisamos fazer com que nossas rodovias, ferrovias e até aeroportos tenham condições de atender o porto”, afirmou. “Vamos ter, nos próximos anos, avanços em todos os modais”, completou.

Quem também participou da abertura do evento foi o secretário nacional de Transportes Terrestres do Ministério da Infraestrutura, Marcello da Costa. “Estive recentemente conhecendo não só o projeto da Nova Ferroeste, mas visitando também o Porto de Paranaguá, aprofundando o meu conhecimento, e atesto a qualidade do trabalho que foi desenvolvido em um projeto revolucionário para o Paraná e o Sul do país”, relatou. Segundo ele, a Nova Ferroeste incorpora os mais modernos conceitos nas áreas de engenharia e ambiental, com capacidade de transformar o Paraná em um hub logístico. “É um projeto fantástico, que tem sido conduzido com maestria e que a gente do governo federal apoia”, acrescentou.

Também participaram da abertura do evento o secretário de Estado do Planejamento e Projetos Estruturantes, Valdemar Bernardo Jorge; o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar do Mato Grosso do Sul, Jaime Elias Verruck; o diretor do Departamento de Transporte Ferroviário do Ministério da Infraestrutura, Ismael Trinks; e o vice-presidente da Fiep, Edson Vasconcelos, que coordena o Conselho Temático de Infraestrutura da entidade.

Nova Ferroeste
O projeto da Nova Ferroeste foi apresentado pelo coordenador do Grupo de Trabalho do Plano Estadual Ferroviário, Luiz Henrique Fagundes. Com extensão total de 1.304 quilômetros, a ferrovia vai ligar Maracaju, no Mato Grosso do Sul, ao Porto de Paranaguá, ampliando e modernizando o trecho atualmente existente entre Cascavel e Guarapuava. A previsão é que o investimento alcance US$ 6,2 bilhões – cerca de R$ 32,5 bilhões pela cotação atual. Já com relação à movimentação de carga, a estimativa é que se chegue a 38 milhões de toneladas no primeiro ano de concessão, ampliando essa cota para 85 milhões de toneladas ao final do período de 60 anos de concessão, um aumento de 123,7%.

“Logística nada mais é do que conexão de modais, e o que estamos fazendo aqui é logística pura”, disse Fagundes, ressaltando que o investimento pode propiciar a ampliação do transporte aos portos de cargas não apenas do Paraná, mas também do Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina, além do Paraguai. A expectativa é que o projeto vá a leilão entre março e abril de 2022, com tempo previsto de 10 anos para a construção integral da ferrovia.

Impacto nos portos
O projeto da nova Ferroeste é fundamental para que os portos paranaenses consigam atender o aumento da demanda do setor produtivo. Luiz Fernando Garcia da Silva, diretor-presidente da Portos do Paraná, que administra os portos de Paranaguá e Antonina, explicou que, em 2020, das 57,3 milhões de toneladas de cargas movimentadas, apenas 14,9% do total foi por ferrovias. A imensa maioria, com participação de 83,7%, foi por rodovias. Como as projeções apontam que, em 2060, o porto tem potencial para chegar a 85 milhões de toneladas em um ano, é preciso ampliar a participação do modal ferroviário. “Um complexo portuário que pretenda movimentar 85 milhões de toneladas não vai dar certo tendo uma matriz (de transporte) dessa magnitude”, disse.

Além disso, a Portos do Paraná também vem realizando e planejando investimento para aumentar ainda mais sua capacidade e eficiência. Um dos projetos em andamento é o da derrocagem do canal de acesso, que vai ampliar a profundidade dos atuais 12,5 para 13,5 metros. Nos próximos anos, será realizada a dragagem do canal, que possibilitará um calado de 15,5 metros e permitirá o acesso aos berços de atracação de navios com maior capacidade.

Outra iniciativa que deve ser licitada em breve é o chamado Projeto “Moegão”, que vai centralizar a descarga ferroviária de grãos em uma moega exclusiva. Nele está prevista uma reestruturação rodoferroviária dos acessos dos terminais da região leste do Porto de Paranaguá, otimizando a capacidade de recepção de cargas em ambos os modais.

Contêineres
A Nova Ferroeste vai possibilitar também o aumento do transporte de cargas conteinerizadas aos portos paranaenses. Foi o que explicou o gerente executivo de Marketing e Logística do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), Mateus Campagnaro. Hoje, o TCP é o terceiro principal terminal do país em movimentação portuária de contêineres. Responsável pelo maior investimento do setor portuário do Brasil na atualidade, com aplicação de mais de R$ 550 milhões em obras de ampliação da capacidade de movimentação do terminal, passando de 1,5 milhão TEUs/ano para 2,5 milhões TEUs/ano, o TCP está se preparando para atender a demanda de mercado brasileiro pelos próximos 30 anos.

As principais cargas recebidas atualmente pelo TCP são carnes, com participação de 42% no volume movimentado. “Cada vez mais o volume de cargas refrigeradas, em especial aqui no Paraná de carne de frango, vai crescendo. Hoje somos líderes absolutos em exportação de cargas refrigeradas e, quando isso se conecta com a Ferroeste, a gente consegue identificar que o potencial do projeto é gigantesco”, explicou Campagnaro.

Novos terminais
A ampliação da malha ferroviária é importante também para acompanhar novos investimentos privados programados para o litoral paranaense. Durante o evento na Fiep, o consultor da área portuária, Luiz Henrique Tessuti Dividino, detalhou como uma maior utilização do modal ferroviário pode reduzir custos para o setor produtivo, tornando as mercadorias brasileiras mais competitivas. “Nosso custo de transporte é mais alto do que o dos concorrentes. Um dos fatores é a distância, mas há também a falta de infraestrutura”, afirmou.

Além disso, Dividino apresentou detalhes do projeto do Porto Guará, que está em fase de licenciamento ambiental para instalação em Paranaguá. Um dos destaques do projeto é justamente a forte integração com o modal ferroviário. A estimativa é que o terminal tenha capacidade de movimentar 35 milhões de toneladas ao ano por ferrovia, além de 400 mil TEUs. “Nós olhamos o projeto da Nova Ferroeste como linha-mestra”, disse.