André Rodrigues

Após quase 30 anos desaparecidas, o jornalista Ivan Mizanzuk recebeu, de uma fonte que prefere não ser revelada, fitas cassete que comprovam que as confissões dos acusados pelo desaparecimento e morte de Evandro Ramos Caetano, em 1992, foram obtidas sob tortura. Os depoimentos, obtidos e gravados pela Polícia Militar do Paraná, foram a principal prova para a condenação e prisão de cinco dos sete acusados do crime, que chocou o país. Depois de seis meses de trabalho, o jornalista confirmou que as fitas com as confissões apresentadas durante os cinco julgamentos tiveram o conteúdo editado. A denúncia de que os acusados confessaram sob tortura chegou a ser investigada, mas o inquérito feito pelo Ministério Público do Paraná descartou essa possibilidade.

Em entrevista ao Bem Paraná, Mizanzuk disse que agora é com as autoridades e com os condenados:”Eu fiz meu papel de jornalista: consegui o material, apurei, contextualizei e publiquei. Sobre medidas legais, isso cabe aos envolvidos. Daí é com eles”. As fitas encontradas por Mizanzuk foram digitalizadas no Instituto Brasileiro de Peritos, em São Paulo, com a presença de um tabelião que acompanhou o processo, garantindo assim que o conteúdo dos arquivos digitais são exatamente os mesmos contidos nas fitas originais. 

Nesta terça (10), Mizanzuk lançou o 25º episódio da série de podcasts intitulada Caso Evandro, que faz parte do Projeto Humanos. Na série, uma das mais ouvidas do país em 2019, com cinco milhões de downloads, o jornalista remonta um dos casos policiais mais conhecidos do Brasil.

O caso Evandro

Evandro tinha 6 anos quando desapareceu em 6 de abril de 1992. O corpo foi encontrado em 11 de abril, jogado em um matagal da cidade, sem vários órgãos, com mãos e pés amputados, e vísceras e coração arrancadas.

A promotoria pública do Paraná acusou Beatriz Cordeiro Abagge e sua mãe, Celina Abagge, como mentoras do sequestro e morte de Evandro com o intuito de utilizar o corpo em um ritual de magia negra. As duas eram, respectivamente, filha e esposa do então prefeito da cidade litorânea, Aldo Abagge. Em 23 de março de 1998, Beatriz e Celina foram julgadas, pela primeira vez, no mais longo júri da história da justiça brasileira com 34 dias de julgamento, e consideradas inocentes. Em 1999 o júri foi anulado. Houve um novo julgamento em 2011 em que Beatriz Abagge foi condenada a 21 anos de prisão em uma votação apertada, por 4 votos a 3. Em 2016, o Tribunal de Justiça concedeu perdão de pena para Beatriz Abagge.

Outros envolvidos no assassinato, também foram julgados pelo crime, como o pai de santo Osvaldo Marcineiro. o pintor Vicente Paulo Ferreira e o artesão Davi dos Santos Soares foram condenados em 2004. Já Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos foram absolvidos em 2005.

A série Caso Evandro pode ser acessada em http://www.projetohumanos.com.br.  Além do podcast, o Caso Evandro vai virar livro e série documental, pela GloboPlay.

Abaixo você ouve trechos dos áudios que você pode encontrar no site.