Desde que chegou ao Brasil em 2018, o venezuelano Kevin Abiezer Paredes conseguiu se estabelecer em Boa Vista (Roraima), alugou um apartamento e tem uma renda que lhe permite viver com a mulher e a filha. Com a pandemia, a situação econômica se agravou, e os R$ 600 que recebe de auxílio emergencial do governo federal se tornaram essenciais.

Paredes tem 26 anos e é um dos 260 mil venezuelanos que vivem no País atualmente, sendo que 46 mil são reconhecidos como refugiados. Voluntário no Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ele consegue pagar o aluguel e as contas de consumo com os serviços de reparo de celular que realiza.

Beneficiário do Bolsa Família, automaticamente ele passou a receber o auxílio de R$ 600 dado pelo governo federal por causa dos impactos da crise da covid-19. “Tem sido de muita ajuda, sobretudo porque minha mulher e minha filha foram para a Venezuela uma semana antes de ser declarada a pandemia e ficaram sem poder voltar ao Brasil. Então quando eu recebo o auxílio eu consigo mandar dinheiro para elas”, conta ao Estadão.

A família tem casa em Puerto Ordaz, no Departamento (Estado) de Bolívar, e tem o costume de regressar para verificar a situação do imóvel. “Recebemos informações de que as pessoas começam a sondar para tentar entrar (na casa) então vamos até lá para ver como estão as coisas”, explica Paredes.

Com a declaração da pandemia, as fronteiras foram fechadas e voltar ao Brasil ficou difícil. Agora, Paredes espera sem saber quando voltará a ver a mulher, Cristina, e a filha, Cristal, de 3 anos.

Parte dos R$ 600 que recebe Paredes envia para a mãe, que vive na Venezuela. O restante, segundo ele, vai para a mulher e a filha. “Quando eu preciso desse dinheiro para pagar aluguel ou luz, não envio e elas entendem. Mas quando eu consigo arrumar mais celulares, por exemplo, aí não preciso da renda do auxílio aqui.”

Paredes tem a intenção de continuar vivendo no País, mas conhece venezuelanos que querem regressar porque não conseguiram se estabelecer aqui ou querem se juntar à família no momento da crise sanitária.

Estrangeiros que vivem no Brasil e não recebem o Bolsa Família também podem ter acesso ao auxílio oferecido para trabalhadores informais, microempreendedores ou desempregados.

Segundo o Ministério da Cidadania, 39.157 estrangeiros, sendo 11.074 venezuelanos, solicitaram o auxílio e estão inscritos no Cadastro Único, mas não recebem o benefício pelo Bolsa Família. O ministério cita estrangeiros vindos de Argentina, Paraguai, Bolívia, Espanha, Síria, Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra, Israel, Namíbia e Nova Zelândia.

Com a piora das condições socioeconômicas em razão da pandemia, o Acnur (agência da ONU para refugiados) tem conectado refugiados e migrantes em situação vulnerável ao programa de emergência e já distribuiu US$ 325 mil (R$ 1,7 milhão) para mais de 3 mil pessoas. (Colaborou Idiana Tomazelli)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.