BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A duas semanas do fim da campanha nacional de vacinação contra sarampo e poliomielite, a adesão ainda está abaixo do esperado, apontam dados do Ministério da Saúde: balanço divulgado pela pasta aponta que cerca de 1,8 milhão de crianças já foram vacinadas.

O total, no entanto, corresponde a somente 16% do público-alvo, composto por 11,2 milhões de crianças de 1 ano a menores de 5 anos.

A meta é vacinar pelo menos 95% desse público até o fim da campanha -inclusive crianças que já foram vacinadas anteriormente.

Na tentativa de aumentar a adesão, o governo federal realiza neste sábado (18) o chamado dia D de mobilização para vacinação pelo país.

Com a medida, mais de 36 mil postos de saúde devem estar abertos durante todo o dia. Após o dia D, a campanha segue até 31 de agosto.

“É de extrema importância que todos os pais e responsáveis levem suas crianças para serem vacinadas e assim ficarem devidamente protegidas”, afirma, em nota, a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Carla Domingues.

Segundo a coordenadora, o objetivo da campanha de vacinação “indiscriminada” -voltada para reforçar a vacinação até de quem já foi imunizado no passado- é criar uma barreira de proteção contra o sarampo, doença que vem registrando avanço no país.

“Desta forma, criamos uma imunidade de grupo. Rapidamente teremos a oportunidade de garantir que, mesmo que os vírus da pólio e sarampo entrem no país, eles não encontrem uma fonte de infecção”, afirma Domingues.

Desde fevereiro até a última terça (14), foram confirmados 1.237 casos da doença. Outros 5.731 ainda estão em investigação. Também foram registradas ao menos seis mortes.

O avanço do sarampo ocorre menos de dois anos após o país ter recebido um certificado de eliminação da doença pela Opas (Organização Pan-americana de Saúde).

Os casos ocorrem em meio a uma queda recorde nas taxas de coberturas vacinais. Em 2017, o Brasil teve o mais baixo índice de vacinação de crianças em mais de 16 anos, conforme antecipou a Folha de S.Paulo.

A situação tem elevado o risco de retorno de doenças já eliminadas. A taxa de vacinação contra a pólio, por exemplo, caiu de 98,2%, em 2015, para 77%, em 2017.

Isso significa que cresce o risco de o país voltar a registrar casos de paralisia infantil caso ocorra uma reintrodução do vírus e contato com não vacinados -uma situação que não ocorre desde 1990.

Durante a campanha, a aplicação das doses terá esquemas diferentes dependendo da situação vacinal de cada criança.

Crianças que nunca tomaram nenhuma dose de vacina contra a polio, por exemplo, devem receber uma dose da VIP (vacina injetável).

Já aquelas que já tiverem tomado uma ou mais doses recebem a VOP (vacina oral), conhecida como gotinha. A ideia é reforçar a imunização contra a doença.

Contra o sarampo, a campanha prevê que todas as crianças recebam uma dose da vacina tríplice viral. A exceção são aquelas que já foram vacinadas nos últimos 30 dias.

Em São Paulo, balanço da secretaria estadual de Saúde aponta que 40% do público-alvo já foi vacinado.

A campanha no estado começou dois dias mais cedo que no restante do país, em 4 de agosto, data em que ocorreu também o primeiro dia D.

Agora, um segundo dia de mobilização geral está programado para este sábado, quando 5.800 postos de saúde estarão abertos das 8h às 17h.

“Não dá para deixar para o último dia. Quando mais cedo vacinar, melhor”, diz a diretora de imunizações de São Paulo, Helena Sato.

Sato atribui o índice maior de cobertura no estado ao fato de a campanha ter começado mais cedo e em razão de parcerias com sociedades médicas e especialistas.

Segundo ela, a campanha é uma forma de reforçar a proteção contra as duas doenças no país e corrigir possíveis falhas vacinais –quando a proteção é menor do que a esperada. Nestes casos, afirma, uma nova dose pode completar a proteção.

Ainda de acordo com Sato, não há riscos para a criança devido à aplicação de uma nova dose. “O fato de tomar de novo não aumenta a chance de ter eventos adversos”, diz.

Ela cita a importância de completar o esquema vacinal.”A proteção da primeira dose, por exemplo, é de 95%. Isso indica que 5% podem não estar protegidas adequadamente. Por isso temos uma segunda dose”, afirma a coordenadora, que lembra que a última campanha de vacinação indiscriminada ocorreu há quatro anos. 

A exceção são crianças imunodeprimidas, como aquelas submetidas a tratamento de leucemia e pacientes de câncer, para as quais a vacina é contraindicada. 

Já crianças alérgicas a proteína lactoalbumina, presente no leite de vaca, devem informar o quadro às equipes de saúde. Neste caso, elas recebem outra vacina contra sarampo, produzida pelo instituto BioManguinhos.