BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O presidente da Argentina, Mauricio Macri, escolheu nesta terça-feira (11) o peronista moderado Miguel Pichetto, presidente do Partido Justicialista no Senado, para ser seu candidato a vice-presidente. “Respondi ao presidente imediatamente que sim”, disse Pichetto, sorridente, ao sair da conversa com o mandatário.


A decisão é uma surpresa, uma vez que Pichetto, além de ser de uma orientação política distinta da de Macri, preparava-se para disputar uma seleção interna, nas próximas primárias, junto a outros candidatos peronistas, para ser um candidato a enfrentar o atual presidente, a quem vinha fazendo duras críticas.


A estratégia de Macri, ao chamar Pichetto, é claramente a de atrair o eleitorado peronista, uma vez que este se vê dividido frente a tantas opções que devem se apresentar nas eleições.


Desta forma, ficará de fora da chapa sua atual vice-presidente, Gabriela Michetti, cuja relação com Macri já andava estremecida nos últimos tempos.


O presidente assim anunciou pelas redes sociais: “Os argentinos nos enfrentamos uma oportunidade histórica para consolidar nossa democracia. Nas próximas eleições decidiremos se queremos viver em uma república ou voltar a viver num autoritarismo populista.”


Curiosamente, em entrevistas dadas antes de ser eleito, em 2015, sempre que criticava a falta de renovação do Congresso argentino, Macri afirmava que Pichetto era um exemplo disso, pois fosse quem fosse o presidente, um dos líderes do Congresso sempre era ele.


De fato, Pichetto é presidente da bancada do PJ no Senado desde 2003, um recorde no Parlamento argentino. Ele permaneceu no posto mesmo com o peronismo no poder em vertentes diferentes, como Carlos Menem (1989-1999) e Néstor Kirchner (2003-2007) -em apoio a ambos, diga-se.


Miguel Ángel Pichetto, 68, tem formação de advogado e um perfil ideológico difícil de rotular, mas se identifica mais com a centro-direita.


Entre alguns assuntos sobre os quais emite sempre opiniões duras estão a imigração: “A Argentina dá educação e saúde grátis a paraguaios e bolivianos, e não recebemos nada em troca; precisamos buscar algum mecanismo de retorno disso, senão somos o país mais bobo do continente”.


Na votação do ano passado da lei do aborto até a 14ª semana, Pichetto foi a favor: “O século 21 é o século da mulher, e aquele que não compreender isso vai ficar fora da história”.


Já sobre segurança, é mais linha-dura. Crê que as Forças Armadas têm papel a exercer na luta contra o narcotráfico.


Ele é um peronista que nunca se alinhou ao kirchnerismo (corrente do peronismo mais à esquerda, cuja líder é Cristina Kirchner).


Tornou-se um de seus principais críticos, embora a maioria peronista do Senado tenha acompanhado o kirchnerismo de maneira conjunta em muitas decisões.


Quando se questionava por que o Senado não retirava a imunidade parlamentar de Cristina Kirchner, como havia pedido a Justiça, para que fosse julgada, Pichetto dizia não haver suficiente evidência e que se tratava de um julgamento político.


Ele não é conhecido pelo carisma; ao contrário, é um tanto mal-humorado e resistente a dar entrevistas. Esses aspectos eram vistos como obstáculos para que se lançasse sozinho a uma candidatura.


Para o analista político Sergio Berensztein, a decisão de Pichetto aumenta a possibilidade de o país não precisar ir a um segundo turno para eleger o novo presidente.


Segundo ele, essa tendência é ainda maior caso Sergio Massa, líder de uma dissidência peronista, confirme nesta quarta-feira (12) uma aliança com o kirchnerismo. “Está se estreitando a via do meio, com votos indo para cada um dos lados da verdadeira final desta eleição: Macri/Pichetto contra Fernández/Cristina.”