Franklin de Freitas – Ato pró-Bolsonaro: pauta “rachou” governistas

Atos em defesa do governo Bolsonaro estão previstos para acontecer em Curitiba e mais 23 cidades paranaenses no próximo domingo. Na Capital, a manifestação está programada para começar às 14 horas, na praça Santos Andrade, seguindo até à Boca Maldita. Organizados em resposta aos protestos do último dia 15 contra os cortes do governo federal nos recursos para a educação, as manifestações de domingo, porém, dividiram a base política de Bolsonaro. Tradicionais apoiadores do presidente, grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua decidiram não participar, alegando não concordar com bandeiras de setores mais radicais que incluiriam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Com as defecções, assumiram a frente da mobilização outros grupos bolsonaristas, como o Avança Brasil, República de Curitiba, Movimento Brasil Conservador, e políticos como o deputado estadual Fernando Francischini (PSL). “Na República de Curitiba, voltaremos às ruas para mostrar ao Centrão e ao STF que não podem menosprezar os anseios populares”, explicou o Avança Brasil em descrição do evento na página do movimento no Facebook. “Nós precisamos de todos. Vamos apoiar a Reforma do Guedes; Pacote Anticrime do Moro; Aprovação da MP870; CPI da Lava Toga. O Brasil está gritando pelas Reformas”, escreveu Francischini no twitter.

Para tentar amenizar as críticas sobre o radicalismo do movimento, os organizadores buscaram nos últimos dias focar as pautas dos atos em críticas ao Centrão, na defesa da reforma da Previdência, do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Apesar disso, o Avança Brasil, por exemplo, publicou na página do evento para Curitiba palavras de ordem como “Basta STF”. Em outra publicação, o movimento acusa os “11 ministros” (do STF), “81 senadores” e “513 deputados” de estarem “escravizando 209 milhões de brasileiros” por não apoiarem as bandeiras do governo Bolsonaro.

“O movimento liberal não compactua nem com o fechamento do Congresso nem com o fechamento do Supremo”, reagiu o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do MBL. “Você pode e deve criticar atitudes de membros dessas instituições, mas nunca demonizá-las. Presidente que se diz conservador não pode atropelar a instituição democrática”, disse ele.

Antipolítica

O MBL disse ter encontrado em monitoramentos indícios de que a convocação inicial, com motes de derrubada das instituições, partiram de simpatizantes do núcleo duro bolsonarista. “São redes ligadas ao Carlos (Bolsonaro) e ao Olavo (de Carvalho), grupos obscuros no Twitter, no Facebook”, afirma Renan Santos, coordenador nacional do MBL. “Eles (movimentos) estão falando que vão defender a MP 870, a reforma? Sim, mas a maior parte dos memes e hashtags que está circulando fala em defesa do Bolsonaro, culpa do Congresso, culpa do centrão. Retórica antipolítica”, apontou.

Na semana passada, o grupo divulgou nota criticando o que chamou de “estranha manifestação” que acabaria por prejudicar a já estremecida relação com o Parlamento e, consequentemente, dificultar a aprovação das reformas.

O Vem pra Rua chegou a ser procurado para se envolver na convocação de domingo, mas se retirou quando notou “o absurdo que eram as pautas”, segundo Adelaide Oliveira, coordenadora nacional. Embora parte das bandeiras de agora seja empunhada também pelo VPR, o grupo decidiu ficar fora porque, segundo Adelaide, o protesto “virou um ato claramente pró-Bolsonaro”. E a entidade, explica ela, “é suprapartidária, não defende políticos ou pessoas, mas ideias e projetos”.

A divisão nos movimentos desembocou em alfinetadas. Adelaide diz que “era um grupinho pequeno” o que propôs inicialmente o levante do dia 26, “uma coisa não estruturada”. Renan diz que os grupos que “agem como vaquinha de presépio do governo, concordando com tudo” passaram a difundir a ideia de que o MBL é traidor dos conservadores.

Presidente se diz contra radicalismo

O presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar, ontem, em café da manhã com jornalistas, que não participará das manifestações a favor do seu mandato no domingo. Segundo a Band News, o presidente se posicionou também contra posicionamentos mais radicais. “Quem defende o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional está na manifestação errada”, disse ele. O presidente falou ainda que “essa pauta está mais para Maduro”, numa referência ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Bolsonaro e alguns ministros passaram cerca de um hora, na manhã desta quinta-feira, reunidos com jornalistas convidados de portais, rádio e televisão. Depois, o presidente teve uma reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da FCA Fiat, Michael Manley Chrysler Automobiles.
Mau tempo – As fortes chuvas que atingiram a região Oeste ontem fizeram com que o governo cancelasse a viagem do presidente à cidade de Capanema, onde ele participaria da inauguração da usina hidrelétrica do Baixo Iguaçu. O município fica na fronteira do Brasil com a Argentina.

“Lamentavelmente não podemos comparecer, dadas as condições meteorológicas. Pretendemos, sim, voltar e fazer uma visita de cortesia à Capanema e bater um papo com a população local”, disse Bolsonaro em um vídeo divulgado pelo Palácio do Planalto, gravado em Cascavel. No vídeo, Bolsonaro aparece ao lado do governador Ratinho Júnior (PSD) e do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque.