SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A primeira-ministra Theresa May voltou ao Parlamento britânico nesta segunda-feira (21) para apresentar sua nova estratégia para a saída do país da União Europeia (UE), o “brexit”, menos de uma semana após sua primeira proposta ter sofrido uma derrota histórica na Casa. 


Ela não deixou claro, porém, quais mudanças substanciais fará em relação ao plano inicial, derrotado na última terça (15) com 432 votos contrários e 202 a favor, diferença mais larga da história recente de um governo britânico.


A tendência, assim, é que o impasse sobre o “brexit” continue. O acordo derrubado pelo Parlamento tinha sido fechado por May com a União Europeia no final de 2018, após quase dois anos de negociação. Com a derrota, ela foi obrigada nesta segunda a uma proposta alternativa para a Casa.


O problema é que nada obriga os europeus a aceitarem mudanças impostas pelos parlamentares britânicos e Bruxelas insiste que o acordo já fechado é o melhor possível para os dois lados.


De mãos atadas, a primeira-ministra apresentou um plano com poucas medidas concretas, no qual promete tentar renegociar alguns pontos mais polêmicos com os europeus. 


Esta nova proposta será votada pelos parlamentares britânicos no próximo dia 29, mas até o momento não há indícios de que a Casa vai mudar de ideia e aprová-la, exatamente porque traz poucas mudanças em relação ao acordo rejeitado. 


A situação fez o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, comparar o governo de May com o filme americano “O Feitiço do Tempo” (“Groundhog Day” no orginal), no qual o protagonista revive por diversas vezes o mesmo dia. 


Em seu discurso nesta segunda, a primeira-ministra afirmou apenas que faria algumas mudanças em sua abordagem em relação ao “brexit”, em especial que seria “mais flexível” nas conversas e que voltaria a negociar com Bruxelas o mecanismo para evitar que volte a existir uma fronteira física na ilha da Irlanda, o ponto de maior conflito.


“Ao fazer isso, vamos honrar o mandato do povo britânico e deixar a União Europeia de maneira que beneficie todas as partes do nosso Reino Unido e todos os cidadãos do nosso país”, disse ela.


O chamado “backstop”, um mecanismo projetado para impedir o restabelecimento de uma fronteira entre a Irlanda, país-membro da UE, e a Irlanda do Norte (parte do Reino Unido), foi responsável pelo fracasso retumbante de May ante o Parlamento na última terça. 


“Esta semana vou continuar discutindo com meus colegas (…) para ver como poderemos cumprir nossas obrigações com os cidadãos da Irlanda do Norte e Irlanda de forma a obter o maior apoio possível no Parlamento. E depois levarei as conclusões desses debates à UE”, anunciou ela ao apresentar seu novo plano.


Ela também anunciou que vai cancelar a proposta de uma taxa de 65 libras (R$ 315) que seria cobrada de todo cidadão europeu que morasse no Reino Unido após o “brexit”.


Após a derrota de terça, May chegou a tentar estabelecer um diálogo tanto com a oposição quanto com correligionários que discordam de sua abordagem, mas as conversas falharam rapidamente, em parte porque ela não aceita a convocação de um novo referendo, opção defendida por partidos menores.  


A primeira-ministra também se recusa a recusa a descartar a hipótese de que a separação, marcada para 29 de março, ocorra mesmo que não exista um acordo entre os dois lados – rota conhecida como “no-deal”. 


Nesta segunda, ela voltou ao tema e disse que é impossível descartar essa opção enquanto não houver uma alternativa. May também disse que sem um esboço de um acordo no horizonte, a União Europeia dificilmente vai concordar em adiar o “brexit”.


“O ‘no-deal’ só será retirado da mesa se o Artigo 50 [que estabelece as regras para a saída da União Europeia] for revogado – e o governo não fará isso – ou se houver um acordo, e é isso que estamos tentando fazer”, disse ela.  


O “no-deal” é considerada a opção mais radical para o “brexit” e estudos do próprio governo britânico apontam que o PIB do país pode sofrer caso ela ocorra. Corbyn, o líder da oposição, já avisou que só aceita conversar com a primeira-ministra se ela descartar essa hipótese.


Diversas entidades empresariais também já pediram ao governo que não permita que a opção se concretize. Nesta segunda, Carolyn Fairbairn, diretora da CBI (Confederação Britânica da Indústria), criticou a falta de acordo no Legislativo. “O Parlamento permanece em neutro, enquanto a inclinação em direção à beira do abismo se torna mais pronunciada”, disse ele sobre a hipótese de um “brexit” sem acordo.


O resumo do dia acabou sendo feito pelo representante do governo alemão para assuntos europeus, Michael Roth. Segundo ele, nem William Shakespeare teria imaginado um drama tão grande quanto o “brexit”.